Reforma da Previdência / Plano de Carreira
Hoje, dia 12, Assembléia Nacional
Auditores-Fiscais da Receita Federal aprovaram, com cerca
de 95% dos votos, a continuidade das mobilizações contra
a Reforma da Previdência, ainda que sem paralisação.
Ontem, terça, foi o último dia para a apresentação
de emendas dos parlamentares. Possivelmente, a votação
em primeiro turno no Senado começará na próxima
semana. Devemos jogar peso no trabalho parlamentar, marcando forte presença
em Brasília durante as votações.
A assembléia também dará prosseguimento às
discussões do Plano de Carreira, iniciadas no dia 11/11.
Horários da Assembléia Nacional
Aeroporto 10:30h
Porto 10:30h
Nova Iguaçu 11:00h
Auditorio Sind. 14:30h
Compareçam!
Assembléia específica discute investigações
na Receita Federal
Desde o dia 30 de setembro, a categoria vem debatendo,
em todas as assembléias, as possíveis fraudes na Receita
Federal, que envolveriam empresários, advogados e AFRF. Na Assembléia
Nacional do dia 23 de outubro, deliberou-se pela realização
de uma assembléia específica para tratar do tema, o que
ocorreu anteontem, dia 10. A presidente do Unafisco Nacional, Maria
Lucia Fattorelli esteve presente.
Na assembléia, os AFRF diretamente envolvidos tiveram a oportunidade
de expor para a categoria sua versão dos fatos. Também
foi discutida a possibilidade do sindicato ingressar com representações
contra autoridades que teriam cometido arbitrariedades ou ilegalidades
na condução do caso. Ao final, prevaleceu o entendimento
de que era necessário aprofundar as averiguações.
Para isso, foi formada uma comissão, com 4 representantes eleitos
na própria assembléia, dois representantes da DS/RJ e
dois representantes da DEN, que, num prazo de 30 dias, deverá
apresentar um parecer sobre as medidas que poderão ser adotadas.
Nesta ocasião, será convocada uma nova assembléia
para deliberar sobre o assunto.
Conforme tem destacado em publicações anteriores, a DS/RJ
defende a rigorosa apuração dos fatos, respeitados o amplo
direito de defesa e ao contraditório, o sigilo e a discrição,
algo que a DS vem cobrando repetidamente à Administração
e à Corregedoria. Esse rigor é necessário para
que as investigações não caiam em descrédito
- risco que a própria Receita não pode correr. O melhor
para a categoria e para a instituição é que não
pairem dúvidas ao final de todo esse processo.
Em anexo, dois artigos, inicialmente publicados na Internet, que reproduzimos
por solicitação da AFRF Thaís Rippol Hamer.
Ato Público em frente
ao gabinete do Senador
Sergio Cabral Filho
Sexta-feira, dia 14, às 12h
Rua São José, Centro/RJ
O Fórum Fluminense em Defesa da Previdência
Pública, do qual a DS/RJ faz parte, organiza, na sexta-feira
próxima, um ato público com a presença do Senador
Sergio Cabral Filho. Desde a última manifestação
realizada em frente ao seu gabinete, o senador mudou o tom de seus discursos,
agora mais incisivos contra a Reforma da Previdência. Anteriormente,
Sérgio Cabral havia manifestado ser contrário apenas à
taxação dos inativos e a redução das pensões.
O encontro com o senador era o único que faltava. Os senadores
Marcello Crivella e Saturnino Braga compareceram, em ocasiões
diferentes, ao auditório da DS/RJ para debater com os AFRF e
convidados de outras entidades de servidores públicos.
A DS/RJ convoca os AFRF para saírem juntos da escadaria do MF,
na Rua Debret, em direção ao local do ato, com as camisas
da mobilização.
A concentração é partir das 11:45h. Participe!
Propinoduto II, o filme
Você compraria um carro usado do secretário
adjunto da Receita Federal, esse que se demitiu depois que sua voz apareceu
num grampo? Provavelmente não compraria, mas talvez você
nunca venha a saber por que. De que falava,afinal, o segundo homem da
Receita no país? De que o tal diálogo telefônico
gravado e divulgado pode incriminá-lo? Ninguém sabe. Havendo
culpa ou inocência no final da história, o que já
existe de concreto é uma reputação queimada. É
o arrastão de mais um espetacular propinoduto, desses
em que a quantidade de espuma produz um efeito exuberante, mas acaba
dificultando a localização do personagem principal: a
propina.
Onde estão as provas do pagamento de propinas a Silveirinha e
a suposta quadrilha dos fiscais da Fazenda do
Rio, que tinham 30 milhões de dólares na Suíça?
Não existem. O advogado de um dos acusados, que pede para
não ser identificado, não tem dúvidas: seu cliente
será absolvido das acusações de corrupção,
pela absoluta inconsistência delas. Será condenado apenas
por remessa não declarada de dinheiro para o exterior, o que,
no seu caso, lhe sairá quase de graça.
Gritar pega ladrão na hora errada pode ser a melhor
maneira de alertar o ladrão. No barulhento escândalo das
contas na Suíça, deputados e procuradores correram para
avisar à opinião pública, triunfantes, que tinham
descoberto um propinoduto. Por enquanto, um propinoduto
sem propina.
As polícias, os políticos e o Ministério Público,
principalmente os dois últimos, não têm paciência
para investigações demoradas. Já temos como conseguir
que um juiz ponha em cana, hoje mesmo, o ex-presidente do Flamengo Edmundo
Silva? Ótimo, manchete garantida, com direito a linchamento moral
na Avenida Rio Branco. O sujeito tinha sido enxotado do clube pela porta
dos fundos, tem contra si indícios de participação
num esquema de eliminação de dívidas de empresas
com o fisco, e ainda por cima tem cara de vilão. Personagem perfeito
para estrelar o propinoduto II, como vem sendo chamado o
caso. Mas, novamente, impõe-se a pergunta inconveniente: onde
estão as propinas?
Não há nem sinal delas. Nenhuma comissão combinada
por telefone, nenhum correntista fantasma ligando um empresário
a um funcionário público ou a um intermediário,
nenhum cheque comprometedor na conta de ninguém. E o Edmundo?
Saiu tranqüilamente da cadeia, e já deu entrevistas denunciando
um esquema para perseguí-lo. Cheio de moral, ainda mais depois
de saber que alguns dos acusados tinham sido presos sem provas suficientes.
Isto é, arbitrariamente presos igualzinho ao que fazia
a ditadura militar.
Os investigadores brasileiros talvez sejam os únicos no mundo
que, ao verem o gato escondido com o rabo de fora, não continuam
avançando para fotografá-lo com a boca na botija. Preferem
gritar Olha o gato!, com o estardalhaçosuficiente
para que o bichano providencie o sumiço do seu e de todo e qualquer
rabo que possa denunciá-lo. O Ministério Público
e as Comissões Parlamentares de Inquérito têm feito
escola nessa matéria. A famosa CPI do Narcotráfico divulgou
um festival de nomes de indiciados e de inquéritos pela metade,
como nunca se vira antes. Foi uma das maiores contribuições
da história à literatura do crime. Na época, noticiou-se
diariamente, durante mais de um ano, incontáveis quebras de sigilo
bancário, fiscal e telefônico. Os deputados da CPI jamais
foram capazes de investigar um décimo dessas biografias jogadas
ao ventilador.
O Brasil achou que estava sendo passado a limpo ao ver o ex-presidente
do Banco Central Chico Lopes algemado em pleno Congresso Nacional. Mas
em que resultou mesmo o arrastão espetacular de procuradores
e deputados sobre a vida privada do economista? A que verdade se chegou
sobre o caso Marka e sua participação nele? Nenhuma. Os
investigadores apenas jogaram mais uma reputação
para a opinião pública mastigar e partiram para a próxima.
Autoridades que apelidam um suposto esquema de corrupção
de propinoduto, a rigor, já estão dando um
sinal de que falta seriedade à investigação. É
uma linguagem mais apropriada ao Casseta & Planeta do que a um procurador
da República. E agravada, no caso, por um erro semântico:
no caso das contas na Suíça, com mais de seis meses de
processo, não se sabe nem onde está o duto, que dirá
as propinas.
O Brasil deveria abandonar esse péssimo hábito de expor
em praça pública nomes e rostos de culpados
que ainda sequer foram processados. Fica caro demais para os inocentes,
e barato demais para os verdadeiramente culpados. Estes já devem
estar rindo à toa com o propinoduto II, a missão, mais
um filme em que o público se diverte ao ver o vilão dormir
algumas noites na cadeia e, no final, o vilão se diverte
em paz com o produto do seu roubo.
Publicado em 07 de Outubro de 2003
Seção Guilherme Fiúza www.nominimo.com.br
(fiuza@nominimo.ibest.com.br)
Cadê as provas, seu juiz?
O juiz Lafredo Lisboa, da 3a Vara Criminal Federal do
Rio de Janeiro, conseguiu um milagre: ao condenar os réus do
assim chamado escândalo do Propinoduto, ele pode ter erguido um
monumento à impunidade. Talvez pela pressa da vida moderna, sua
sentença transforma suposições em fundamentos.
Na ausência de provas, suas conclusões nascem da livre
associação de idéias. Se não for uma inovação
revolucionária, terá sido uma aberração
jurídica. E Justiça espetaculosa, como se sabe, faz barulho,
mas no final não pune ninguém.
Num processo de 230 volumes, a sentença dedica não mais
que meia página a cada réu, em média, para justificar
penas que giram em torno de 15 anos de reclusão. Um poder de
concisão sobre-humano. Para se ter uma idéia, a absolvição
do crime de formação de quadrilha foi sustentada em três
linhas. No caso de um dos fiscais da Secretaria Estadual de Fazenda
do Rio, condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro
e sonegação fiscal, Lafredo Lisboa não chegou a
saber sequer quanto dinheiro o acusado tem na Suíça. Não
há no processo nem um mero extrato bancário para contar
a história.
Não, seu juiz, assim não vale. O Brasil quer ver os corruptos
na cadeia, mas quer conhecer a prova do crime. Senão, excelência,
bastaria mandar todos os acusados para o tribunal do doutor Elias Maluco
aquele do forno microondas ou o da Rainha de Copas, de
Alice no País das Maravilhas. Cortem-lhes a cabeça, e
assunto encerrado. Teria, é claro, a vantagem de acabar com as
reclamações de lentidão no Judiciário.
Como o país vai se prevenir de outros propinodutos
se este, cujos acusados já estão condenados, ninguém
ficou sabendo afinal como funcionava? O dado central já estava
na boca do povo, em prosa e verso: havia 33,4 milhões de dólares
na Suíça, na Suíça havia 33,4 milhões
de dólares. E esse dinheiro estava distribuído em contas
de fiscais fazendários e auditores da Receita empregados no Rio
de Janeiro. Um script com cheiro, jeito e trejeito de corrupção.
Mas, se não somos regidos pela lei de Elias Maluco, é
preciso que um processo legal mostre o suposto caminho sujo do dinheiro.
Pelo menos era assim que andavam fazendo da Idade Média para
cá. E o que o juiz Lafredo veio a conhecer do tal esquema? Pelo
teor da sentença, além do dinheiro na Suíça
e dos donos das contas, o que ele considerou para fundamentar sua decisão
foi a localização de falhas em cerca de 15% dos processos
de fiscalização investigados. Elementar: se há
milhões de reais em multas perdoadas e os responsáveis
pelos processos têm contas na Suíça, é tudo
bandido. Às favas com a produção de provas, meu
caro Watson.
Não há sequer um cruzamento entre a fiscalização
de uma empresa e a data do depósito bancário em favor
de algum fiscal, por exemplo. Nenhum grampo telefônico comprometedor,
nenhum laranja municiado por empresa beneficiada pelas falhas de fiscalização.
Por onde caminharam essas gigantescas propinas, afinal? Por que contas,
gabinetes ou palácios passava esse colossal propinoduto? Ninguém
sabe, nem o doutor Lafredo. Eis um juiz confiante na sua intuição.
Em alguns casos, até o contraste entre conta corrente e vencimentos,
base para a invejável intuição do juiz, se esfarela
no processo. Um dos réus condenados a 15 anos tinha no banco
Itaú um saldo superior à sua declaração
de renda. Mas a conta era conjunta com a esposa e abastecida por ela,
que tinha uma empresa de informática. A defesa pediu ao juiz
uma perícia incluindo a declaração de renda da
mulher do réu, que seria condizente com a movimentação
financeira da conta. O pedido foi negado. A convicção
do magistrado parecia realmente impenetrável.
Lafredo Lisboa condenou 22 e foi à praia. De branco, leve e sorridente,
como se estivesse falando de futebol, ele deu entrevistas triunfantes,
acenou para os passantes e saboreou seu personagem de justiceiro. Já
pode fazer uma ponta na trama de Gilberto Braga. Mas o público
não deve se iludir: ou a Justiça faz o seu dever de casa
direito, ou essa sentença mágica do juiz Lafredo virará
abóbora no tribunal superior. Aí, evidentemente, vão
dizer que o desembargador foi comprado, que o propinoduto virou pizza,
que a impunidade no Brasil não tem cura etc.
Não faz mal, a opinião pública é passional
assim mesmo. E sempre vai querer misturar os seus julgamentos com os
da Justiça. Mas no momento em que a Justiça começar
a misturar os seus julgamentos com os da opinião pública,
Lafredo e seus colegas poderão ser substituídos por jovens
operadoras de 0800. Se é para o público escolher o final,
elas possivelmente serão mais eficientes e mais baratas.
Publicado em 05 de Novembro de 2003
Seção Guilherme Fiúza www.nominimo.com.br
(fiuza@nominimo.ibest.com.br)
