Negociações da DEN na
PEC 77 geram debate
O boletim nº 147 da DS/RJ, de 08 de dezembro de 2003,
publicou considerações da diretoria da Delegacia Sindical
do Rio de Janeiro a respeito das negociações em torno
da PEC 77, denominada paralela. Diante disso o diretor de Assuntos Parlamentares
da DEN, Pedro Delarue, solicitou a publicação dos seus
esclarecimentos, que, neste boletim, apresentamos na íntegra.(veja
no verso)
Antes, entretanto, é necessário esclarecer com precisão
os fundamentos e objetivos das considerações contidas
no boletim 147, para melhor se compreender os diferentes pontos de vista
apresentados.
1º) Concordamos que é imprescindível, não
só nesta hora, mas em todas, a união. União não
só das diretorias das Delegacias Sindicais e da DEN, mas de toda
a categoria. Foi com este fundamento que entendemos necessária
a consulta em Assembléia sobre a definição de um
"patamar mínimo de reivindicações", pois,
se uma parcela dos AFRF não puder ser contemplada, essa decisão
deve caber à própria categoria. Caso contrário,
aí sim estará aberta a possibilidade de insatisfação
e desunião.
2º) Reconhecemos que a negociação é um processo
dinâmico e impõe tomada de decisões, às vezes,
imediata. Porém, "a pressa na aprovação da
PEC 77 atendia aos interesses do governo", segundo boletim da DEN.
Quais os limites da negociação, portanto? Qual o prazo?
Se o interesse era do governo, o aval do Unafisco sob condição
de consulta à categoria malograria as negociações?
Além disso, há muito o senador Tião Viana, relator
das PEC 67 e 77, havia definido os limites da negociação,
os quais acabaram por prevalecer no desfecho do acordo. Dizer, então,
que o governo cedeu nesse ou naquele ponto não leva esse fato
em consideração, nem tão pouco a comuníssima
estratégia de colocar exigências para depois ter o que
ceder.
3º) A não convocação do trabalho parlamentar
para a semana de 1º a 5 de dezembro e o fechamento do acordo em
torno da PEC 77 (paralela), naquela semana, antes da votação
em 2º turno da PEC 67, induz à interpretação
de desistência da luta relativamente à esta última
PEC, foco principal da nossa luta, segundo estratégia formulada
pela própria DEN.
4º) Se o que justificava a necessidade de um acordo rápido
era o risco de a discussão da PEC 77 se prolongar e o governo
apresentar a sua versão, independentemente das reivindicações
das categorias, o que impede de o governo fazer isso a qualquer hora,
rompendo o acordo?
5º) Se é certo que devemos ter cautela quanto aos compromissos
do governo, este, por outro lado, usará o acordo para impedir
avanços quando da tramitação da PEC 77 na Câmara
dos Deputados, uma vez que, como todos sabem, se os líderes do
governo no Senado fecharam acordo, o fizeram em nome do Executivo.
Acreditamos que as insuficientes mas relevantes vitórias
(incluindo as expectativas em curso na PEC 77) dos servidores públicos
relativamente à Reforma da Previdência são conseqüência
principalmente da mobilização das diversas categorias,
onde os AFRF, desde o começo do ano, tiveram papel de destaque.
As passeatas de 30 mil e 70 mil em Brasília, os atos públicos
nos estados, as greves, o trabalho parlamentar em Brasília e
em todo o Brasil colocaram na pauta de discussão todos os temas
de interesse dos servidores públicos.
A conjuntura, contudo, sempre foi adversa. Por isso todos os avanços
são conquistas importantes. Portanto devemos celebrar as vitórias
obtidas na PEC 67, ainda na Câmara dos Deputados, assim como devemos
valorizar as possibilidades (por enquanto possibilidades) de avanço
contidas no relatório da PEC 77 (paralela).
A preocupação da DS/RJ restringe-se à coesão
e união da categoria. A ação dos dirigentes sindicais
é, verdadeiramente, um difícil equilíbrio entre
não se omitir nem se precipitar. E jamais se saberá com
certeza qual o melhor caminho para se obter mais vitórias. Entretanto,
se algo der errado mais a frente, na tramitação da PEC
77 ou em qualquer outro tema, a nossa capacidade de reação
estará, como sempre, diretamente relacionada ao engajamento dos
AFRF, tanto mais possível de alcançar quanto maior for
a sua participação nas tomadas de decisão. Temos
tido prova disso ao longo de nossa história. Foi assim que o
Unafisco passou a ser reconhecido e respeitado fora e dentro do Congresso
Nacional. Assim é que temos escrito, há vários
anos, "as mais belas páginas da história de resistência
e luta do nosso sindicato". Não só o grupo de trabalho
parlamentar, mas toda a categoria.
Temos certeza que continuaremos a escrevê-las, todos juntos.
A carta de Pedro Delarue
Prezado Alexandre Teixeira:
Com relação à matéria publicada
no Boletim n° 147, da DS/RJ, solicito publicação desta
resposta no mesmo espaço dado ao artigo intitulado "Atuação
do Unafisco foi decisiva na reconquista de direitos na paralela?".
Eis os esclarecimentos:
De fato, a PEC 77 recebeu diversas emendas. Todas prejudicadas
pelo substitutivo do relator apresentado na última quinta-feira
na CCJ. As 112 emendas a que se refere o artigo da DS/RJ foram feitas
à PEC 67, e foram objeto de proposição em separado
pelo relator, em requerimento aprovado pelo plenário do Senado
no dia da votação, em 1° turno, da PEC 67. Assim,
essas 112 emendas foram apensadas à PEC paralela, ficando, também,
prejudicadas. A apresentação de qualquer emenda à
PEC 77 no plenário, a partir da apresentação do
substitutivo do relator aprovado na quinta-feira passada, prejudicará
o andamento desta PEC, pois fará com que a matéria retorne
à CCJ e não seja mais apreciada esse ano. No ano que vem,
após o recesso parlamentar, a PEC 67 estará aprovada e
consolidada, ficando cada vez mais difícil obter empenho dos
parlamentares para a sua votação.
Ao contrário do que afirma o artigo, o limite das negociações
em torno da PEC 77 não foi delimitado pelo relator. Para comprovar,
faz-se necessário um relato pormenorizado das negociações:
O relator Tião Viana convidou as categorias para tomar conhecimento
da PEC paralela, que continha muito poucos avanços em relação
à PEC 67. Ao constatarmos que haviam vários outros interesses
contidos no relatório, como a retirada do teto remuneratório
das verbas de gabinete dos parlamentares, atendimento ao PMDB e ao PSDB
em relação ao sub-teto nos Estados e o comprometimento
feito em plenário pela aprovação da PEC paralela,
decidimos endurecer e dizer que, se o projeto não melhorasse,
iríamos apresentar mais de 100 emendas para inviabilizar a PEC.
Após algum impasse, Tião Viana telefonou para o Ministro
Berzoíni e marcou uma reunião para o dia seguinte.
Começou uma longa seqüência de tensionamentos e concessões.
Na reunião, pedimos paridade plena, regra de transição
com integralidade e paridade, não taxação de inativos
para atuais e futuros aposentados, sub-teto, participação
dos servidores nos conselhos de gestão dos fundos de previdência
complementar e melhoria do redutor de pensão. Após muita
pressão e questionamentos, Berzoíni acabou sinalizando
em relação à paridade, imunidade até R$
4800,00 para todos os inativos portadores de doenças incapacitantes
e participação dos servidores nos conselhos de gestão.
Voltamos a nos reunir com Tião Viana, que ficou de buscar entendimento
para garantir a paridade plena, para a regra de transição
denominada fator 95 e para imunidade de contribuição,
mas apenas para maiores de 75 anos. Insistimos no redutor de pensão
e no sub-teto. Após uma conversa, a nosso pedido, entre ele e
o senador Agripino Maia, Tião Viana telefonou e disse que poderia
ceder no sub-teto, mas em troca deveríamos ceder no redutor de
pensões. Pela manhã, reunimos as lideranças sindicais
e ficou resolvido, por unanimidade, que em nome da nossa unidade iríamos
lutar pelo sub-teto. Tivemos de ceder no redutor de pensões.
Nos reunimos no gabinete da presidência do Senado com os senadores
Tião Viana, Jeferson Peres e Agripino Maia, enquanto corria a
reunião de líderes. O relator nos mostrou o texto acordado,
onde não constava a imunidade dos idosos. Em relação
à regra de transição, notamos que exigia 35 anos
de exercício no serviço público. Foi-nos dito que
era erro de redação e que seria corrigido. O líder
do PFL ligou para Berzoíni e pediu pela imunidade dos idosos.
O ministro ficou de dar uma resposta em uma hora.
Na saída da reunião, Agripino deu declarações
à imprensa dizendo que o acordo dependia apenas da não
taxação dos "velhinhos" (nas palavras dele).
Enquanto corria a hora que Berzoíni pediu, conversamos com o
senador Paim, que nos parabenizou pela condução das negociações:
"Vocês tiraram leite de pedra".
Chegou a notícia de que Berzoíni negara o pleito dos idosos
e que a exigência de 35 anos de serviço público
para a regra de transição não era erro de redação.
Dissemos, então, que com aquele texto e sem imunidade para os
idosos não haveria negociação, e que iríamos
apresentar emendas.
Diante do impasse, a reunião da CCJ, que iria sacramentar a PEC
77, foi adiada por um dia. Corria na imprensa que cobria o Congresso
a versão de que as lideranças sindicais haviam inviabilizado
as negociações. À noite, Paulo Paim telefonou e
disse que o governo havia cedido para 27 anos de serviço público,
mas respondemos que queríamos os 25 que fora prometido e a imunidade
dos idosos.
Pela manhã, Tião Viana nos mostrou o texto, que é
o que vocês conhecem, com os 25 anos na regra de transição,
mas sem a imunidade para os idosos maiores de 75 anos. Tião Viana
nos informou que, mesmo reconhecendo que a imunidade em questão
teria pouco impacto econômico, os governadores não aceitaram
fazer essa concessão.
Enfim, após "esticar ao máximo a corda", concordamos
com os avanços possíveis naquela conjuntura. Nunca, portanto,
nos submetemos à pauta do relator, nem tampouco houve eleição
de prioridades.
A reclamação pela falta de assembléia que autorizasse
a realização ou não de negociações
seria correta, se houvesse tempo hábil para isso. Porém,
a brecha para negociação surgiu na noite de segunda-feira
e todas as principais decisões se deram ao longo do dia seguinte.
As lideranças dos servidores decidiam conforme o ritmo frenético
dos acontecimentos. Estavam lá pelo menos 10 presidentes de entidades
de servidores, além de vários diretores de outras tantas
entidades. Não tomar atitude nenhuma, em função
da necessidade de chamar uma assembléia, seria a decisão
mais fácil, porém indesculpável omissão.
E a omissão, nesse momento, seria a decisão mais errada,
em virtude da importância do que estava em jogo e pelo fato de
que todos ali foram eleitos para representar suas categorias.
Apenas duas opções, de fato, se apresentavam naquele momento:
marcar posição e perder a possibilidade de qualquer recuperação
de direitos quase usurpados ou negociar avanços através
da pequena brecha que se abriu. As lideranças sindicais presentes
naquele momento histórico decidiram negociar. Diante do quadro
que se impunha, da força dos nossos adversários, do rolo
compressor que se levantou contra nós, do jogo pesado do toma-lá-dá-cá,
acredito ter sido a decisão mais acertada.
Cabe acrescentar que nosso trabalho, tanto pela rejeição
como por avanços na manutenção dos direitos ameaçados,
através da apresentação de emendas, foi que forçou
a necessidade do governo de criar a PEC paralela. Enquanto quase todos
desistiam, nós perseveramos. Sem a nossa participação,
não haveria resistência, nem PEC paralela, nem os insuficientes
avanços conseguidos nela.
Em relação à negociação da participação
de servidores nos conselhos que irão administrar a previdência
complementar, ainda que não haja deliberação da
nossa categoria, não creio que a defesa dos interesses de nossos
futuros companheiros seja algo que a categoria proíba ou rejeite.
Ao contrário, garantir a representatividade de servidores nos
conselhos de gestão que irão, em última análise,
administrar a garantia, ou não, de uma velhice confortável
para milhões de pessoas, é o mínimo que poderíamos
fazer.
A divergência e o contraditório fazem parte da democracia
e da convivência em nosso sindicato. Tenho certeza de que as críticas
veiculadas no Boletim da DS/RJ são respeitáveis e devem
ser levadas em consideração. Entretanto, precisamos, nessa
hora difícil para todos nós, de muita união. Revelar
essas divergências publicamente, num veículo que se encontra
à vista de nossos adversários, talvez não tenha
sido, neste momento, a atitude mais prudente. A PEC 67 ainda não
é uma perda consolidada e a PEC 77 ainda está longe de
ser uma realidade. Temos pela frente a difícil tarefa de viabilizá-la
na Câmara de Deputados, onde poderá ou não sofrer
emendas por parte do conjunto dos servidores, em decisão que,
certamente, terá que ser tomada em assembléia.
Há portanto um longo caminho, repleto de obstáculos, onde
poderemos sucumbir ao menor deslize. Entretanto, seja qual for o saldo
final dessa malfadada reforma, o grupo de trabalho parlamentar do Unafisco
só não poderá ser acusado de omissão e,
com certeza, terá escrito uma das mais belas páginas da
história de resistência e de luta do nosso sindicato.
Atenciosamente,
Pedro Delarue
Diretor de Assuntos Parlamentares da DEN