Previdência e Imprevidência
As declarações do Ministro
da Previdência Ricardo Berzoini têm causado enorme apreensão
entre os Auditores-Fiscais da Receita Federal, assim como em outras categorias
do serviço público federal. Há flagrantes contradições
entre posições históricas do Partido dos Trabalhadores
traduzidas em sua atuação parlamentar e no programa
de governo divulgado durante a campanha eleitoral e o anúncio
das reformas pretendidas pelo governo no setor previdenciário.
Antes de tudo, porém, ressalve-se
que ainda não há qualquer proposta formal em discussão.
Todas as informações estão pautadas por declarações
de integrantes do governo, que mais de uma vez foram desautorizados pelo
presidente Lula. Mas o fato não invalida uma análise destas
declarações.
Mesmo o ponto mais positivo, que
é a disposição do governo para o diálogo com
a sociedade, que não havia no governo Fernando Henrique Cardoso,
está prejudicado pela pressa anunciada na tramitação
da reforma. O prazo de 90 dias para discutir com a sociedade é
insuficiente para a importância do tema para o futuro do país.
Possivelmente, a aceleração
dos prazos relaciona-se com a necessidade de sinalizar ao mercado a viabilidade
das reformas, pré-condição para a manutenção
de níveis suportáveis na taxa de câmbio e para a queda
de juros. Isso, segundo o mercado, claro. Mas não foi para isso
que o atual governo foi eleito. Se a esperança venceu o medo nas
eleições, tem de vencê-lo também nas reformas,
colocando o ser humano no centro das discussões. "A economia
é parte da sociedade e não o contrário", dizia-se
durante o período eleitoral. A progredir o discurso atual, apenas
ao mercado se atenderá e as mudanças serão contrárias
a todas as expectativas geradas pela eleição de Lula.
O Unafisco Sindical estará
inserido nas instâncias de discussão pertinentes para ajudar
a construir uma proposta de reforma previdenciária que seja digna
para todos e que atenda às necessidades do país sem usurpar
os justos direitos dos servidores públicos federais, em particular
dos AFRF. A DEN montou em Brasília um grupo de trabalho para estudar
propostas que serão encaminhadas ao Ministro da Previdência.
As DS também montarão grupos de trabalho em suas regionais,
procurando trabalhar de forma integrada com Brasília.
Nesta última quarta-feira,
dia 15, foi realizada aqui no Rio de Janeiro, sob a coordenação
da diretora Ana Mary Carneiro, a primeira reunião daquele que será
o embrião do grupo de trabalho. A DS/RJ decidiu também realizar
um seminário entre os meses de fevereiro e março para ampliar
as discussões com a categoria. Os Auditores-Fiscais têm que
estar solidamente fundamentados para entrar nas negociações
em condições de reivindicar tratamento digno por parte do
governo.
A reforma da previdência prevista
no programa de governo era explícita quanto à unificação
dos regimes de previdência com um teto idêntico para servidores
públicos e trabalhadores da iniciativa privada e que o então
candidato Lula falava abertamente sobre esta intenção. Mas
também havia como diferencial o pressuposto do debate. Somente
após os debates é que serão definidos o que se considera
justo e o que se considera privilégio e nunca poderá deixar
de levar em conta os direitos consagrados na Constituição.
O debate é uma via de mão dupla. Se for feito de forma transparente,
certamente se chegará a uma proposta que atenda às necessidades
do país sem onerar demasiadamente este ou aquele setor. O sindicato
tem uma posição clara a respeito da defesa dos direitos
dos Auditores-Fiscais e não abrirá mão deles frente
a este ou qualquer outro governo. A cobrança de contribuição
dos atuais aposentados e pensionistas, por exemplo, é absurda e,
portanto, inegociável. Por três vezes o Congresso Nacional
rejeitou este proposição, com barulhento apoio do PT, o
Superior Tribunal Federal condenou a matéria e a sociedade repudiou
a intenção do governo com veemência. A cobrança
é claramente inconstitucional por significar redução
salarial.
Propostas do atual governo retrocedem a período
anterior a Constituição de 1988
A proposta de conceder aumentos salariais
diferenciados para ativos e aposentados remonta a período anterior
à Constituição de 1988, chamada de constituição-cidadã.
Sob os mesmíssimos argumentos do governo anterior, o Ministro da
Previdência alega que é impossível conceder aumentos
reais aos trabalhadores da ativa se for obrigado a estendê-los aos
aposentados. Ricardo Berzoini propõe que os reajustes dos aposentados
e pensionistas sejam restritos à reposição da inflação
o que já é um avanço em relação
ao tratamento dado aos servidores nos últimos anos, quando os salários
ficaram praticamente congelados , enquanto os da ativa poderiam
ter aumentos maiores que a inflação. No entanto, o precedente
é perigoso.
Nota-se a ausência no discurso
do ministro das referências a todo este período em que o
Tesouro Nacional não só deixou de honrar a sua cota no sustento
da previdência como usou dinheiro da previdência para engrossar
o chamado superávit primário e para pagar suas dívidas,
interna e externa. É caso da Cofins e da CSSL, ambas contribuições
que deveriam reverter integralmente para a Seguridade Social que
reúne previdência, saúde e assistência social,
como define a Carta Magna.
Somada ao anunciado combate à
sonegação, a correção destas distorções
poderia aliviar o peso da reforma da previdência ou diluir as suas
conseqüências no tempo, alongando o prazo de sua implantação.
Mercado e Supermercado
O Ministro do Supremo Tribunal Federal,
Marco Aurélio de Mello, deu declaração há
alguns dias manifestando ceticismo quanto às possibilidades de
uma reforma da previdência no país. Bastou para que o dólar
invertesse sua trajetória de queda e para que a imprensa tratasse
de acusar a declaração pelo movimento ascendente. Jornais
e TV fazem o jogo que interessa ao mercardo, ressonando os argumentos
dos rentistas, como se especulação fosse um jogo exato,
preciso, mensurável. Ao esconder a multicausalidade do jogo especulativo,
a imprensa faz o seu papel: serve a quem lhe sustenta. O verdadeiro nome
do jogo é chantagem. Ou o governo agarra-se à esperança
cultivada pela população e enfrenta a possibilidade de secarem
as fontes internacionais de financiamento para fazer reformas populares,
o que poderá exigir sacrifício de todos, com alguma escassez,
desabastecimento etc. ou atrela-se aos ditames pré-moldados do
mercado.
Infelizmente, até o momento,
o governo inclina-se pela segunda opção. Para não
desestabilizar sua base de apoio internacional, leia-se credores e investidores,
destituiu-se de propostas que poderiam atingir quem realmente tem privilégios:
os milionários e o sistema financeiro. Onde foi parar a proposta
de taxação das grandes fortunas e de transmissão
de herança? Quais os sinais de mudança emitidos pelo governo
para alteração de sua política tributária?
Esperamos que estas propostas entrem na pauta o quanto antes, assim como
o debate sobre o montante destinado ao pagamento dos juros das dívidas
do governo.
Talvez alguma reforma da previdência
seja realmente necessária não exatamente a que se
anuncia, mas antes de impor sacrifícios aos servidores públicos
federais que ganham acima do teto proposto, o governo deveria sinalizar
qual será a cota de sacrifício dos setores que hoje concentram
renda em níveis despropositados. Caso contrário, corremos
o risco de tirar do próprio bolso para dar aos mais ricos e não
aos mais pobres. O corte é no mercado, Lula, e não no supermercado.
Fórum Fisco/RJ tem nova coordenação
Em reunião realizada na manhã
do dia 13/01, o Fórum Fisco/RJ definiu quem serão os coordenadores
para os próximos seis meses.
A composição ficou assim:
Coordenação: Jorge Raggio (AFIPERJ)
Roberto Melo (SINFRERJ)
Tesoureiro: Luis Antonio (SINCAF)
Secretaria: Edna Jorge (AFAITERJ)
Coordenadora de Eventos: Ana Mary (UNAFISCO)
O Fórum Fisco/RJ reúne-se
duas vezes ao mês, havendo rodízio quanto ao local. Outra
decisão foi a de integrar o Fórum nas discussões
sobre previdência social que a DS/RJ pretende realizar com o objetivo
de encaminhar sugestões para a reforma que o governo Lula promete
ainda para o primeiro semestre deste ano.
Unafisco cobra providências da
GRA/RJ
A DS/RJ acompanha com preocupação
a demora nas providências administrativas para a regularização
do pagamento dos Auditores-Fiscais. Algumas decisões, segundo informações,
ainda dependem do Ministério do Planejamento, que ensaia uma interpretação
tortuosa para negar aos aposentados a GDAT integral. A notícia
foi publicada no Boletim da DEN de ontem, dia 16. O boletim também
informa que várias reuniões estão agendadas para
os próximos dias para tratar destes e outros assuntos de interesse
da categoria. Por enquanto veja a situação de cada caso.
1)Integralização da
GDAT dos aposentados e pensionistas. Pagamento dos atrasados.
Com vistas ao cumprimento da Lei
nº 10593 de 06/12/2002, a DS/RJ vem mantendo contatos diretos com
o COGRH em Brasília na expectativa da integralização
da GDAT de +aposentados e pensionistas no pagamento do mês de janeiro.
As informações colhidas até hoje são de que
uma reunião entre o Ministério do Planejamento e o da Fazenda
ainda discutia a questão. A DEN deixou claro, no encontro com a
COGRH, que adotará as medidas judiciais cabíveis para fazer
valer o que manda a lei.
2)Verba para pagamento de processos
de exercícios anteriores.
Com a suspensão do decreto
nº 4230 que retinha verbas para pagamento de exercícios anteriores
até o final de novembro, a COGRH disponibilizou para a GRA/RJ,
no ano findo, recursos pertinentes ao exercício de 2002, em folha
suplementar, de alguns servidores do RJ com processos já analisados.
3)Atrasados da atualização
dos anuênios.
Os atrasados relativos à percepção
dos anuênios acumulados até 08/03/99, continuam em fase de
cálculos. A GRA informou que espera começar a encaminhar
os processos já calculados para a COGRH/DF, a partir de março.
4)Abate-teto nos contra-cheques dos
AFRFs no exercício de cargo de DAS.
A DS/RJ aguarda resposta ao ofício
datado de 02/01/2003, questionando a GRA/RJ na pessoa da D. Lídia
Gama Delgado sobre o abate-teto sofrido por colegas que exercem cargos
de DAS. Em caso de uma resposta negativa, a DS/RJ estudará junto
com os interessados a possibilidade de ingresso de ações
judiciais.

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