Governo faz campanha contra
servidores públicos no exterior
Reforma da previdência atingiria
os "mais ricos", segundo Ministério da Fazenda
Há algumas
semanas os jornais publicaram uma declaração do presidente
Lula, segundo alguns dos presentes em uma reunião do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), em que ele dizia que,
se fosse necessário, jogaria a sociedade contra os servidores.
Porta-vozes do governo disseram que a declaração fora distorcida.
Anteontem, dia
14/04, a campanha contra os servidores não apenas se concretizou
como ganhou ares internacionais. O jornal O Globo publicou matéria
sobre a participação do Brasil na reunião conjunta
do Bird e do FMI em Washington. Reproduzimos um trecho:
O Brasil
não consegue fazer transferência de renda dos mais ricos
para os mais pobres por causa do sistema da previdência. Pelo sistema
tributário, os mais ricos pagam, mas, pelo previdenciário,
são eles mesmos que recebem os benefícios disse o
secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda,
Otaviano Canuto.
Admirável
a capacidade do secretário em reunir tantos equívocos em
tão poucas palavras. Fica claro todo o foco da Reforma da
Previdência recai sobre o serviço público que,
para o Ministério da Fazenda, os servidores públicos são
ricos e a causa de todos problemas do país é a aposentadoria
integral. Na mesma balada, absolve o atual sistema tributário,
que, segundo Canuto, cobra dos ricos o que deveriam pagar.
Quem são os ricos e os pobres?
O Ministro Berzoini
tem declarado que a reforma com a instituição do
teto e a criação da previdência complementar
atingirá uma minoria dentro do serviço público, pois
a maior parte recebe menos do que o teto proposto. Ricos, portanto, são
os que ganham mais de R$ 1.561,00, o teto do benefício pago no
Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
O governo não
consegue sequer entender-se com a situação sócio-econômica
do país. Ou então tenta esconder intenções
para lá de suspeitas. Ivo Loyola, economista e atuário,
presente ao seminário sobre Previdência organizado pelo Unafisco
Sindical e o Corecon/DF, em Brasília, por exemplo, acredita que
os bancos estão cobrando antecipadamente a fatura de uma possível
queda dos juros, obrigando o governo a transferir compulsoriamente aplicações
de longo prazo dos cidadãos para seu setor de previdência
privada. A pensar assim, Canuto não sabe em que governo trabalha.
Porque isso significa transferir renda dos assalariados justamente para
o setor mais rico da sociedade, com lucros astronômicos nos últimos
anos. Dércio Munhoz, presente ao mesmo seminário, acredita
que a reforma custará R$ 18 bi a mais por ano para o governo, caso
a reforma seja aprovada nos moldes atuais. Dinheiro do Estado e dos trabalhadores
de classe média para o setor financeiro.
Dentro do CDES,
onde a reforma está sendo gestada, encontram-se alguns sonegadores
que devem, segundo a imprensa, mais de R$ 1 bi à previdência.
Quem são os ricos?
Enquanto isso,
através de artifícios contábeis, e o aumento do superávit
primário, o governo junta dinheiro para pagar dívidas que,
se auditadas como manda a Constituição de 88, estaria provado
que não devemos boa parte.
Sistema tributário é injusto
Estudos do Unafisco
já demonstraram exaustivamente que, de 95 para cá, aumentou
enormemente a participação do assalariado no pagamento dos
tributos, enquanto diminuiu a participação do capital. Com
o aumento do peso relativo das contribuições sociais no
financiamento do Estado, os consumidores de baixa renda passaram a pagar
mais tributos do que os ricos, que não gastam todo o seu dinheiro
no final do mês. O Brasil é um dos países que menos
tributa o patrimônio. Os ricos, para informação do
Sr. Canuto, imortalizam sua renda em propriedades, enquanto os pobres
gastam pouco mais de 27% de seu salário em tributos.
Também é
importante lembrar a desgastada declaração do ex-secretário
da Receita, que dizia que para cada real pago há um sonegado, expressão
da incompetência e da ineficácia do, ainda vigente, sistema
tributário. Quem sonega, os pobres?
Servidores vão se mobilizar
contra o ataque a seus direitos
A impressão
que esta declaração, dada ao FMI, é um prenuncio
de que o confronto interessa ao governo, sabe-se lá porquê.
A generalização coloca servidores que, em tese, não
seriam atingidos, na linha de frente da resistência às reformas.
Os servidores mais qualificados deveriam ser os principais aliados do
governo no resgate do serviço público, tão desbaratado
na hedionda gestão de FHC. Na Receita Federal, os AFRF que poderiam
vir a desempenhar um papel de vital importância na reformulação
do sistema tributário e na administração tributária
leia-se, cobrar o justo de quem deve, nem mais nem menos. Cada
servidor, agora, terá que se voltar obrigatoriamente para a defesa
dos direitos conquistados em décadas.
Aí talvez
esteja o maior perigo. O governo mudou de mãos, mas não
mudaram os argumentos neoliberais, baseados em fatores econômicos
e financeiros, que são usados como biombo para uma reforma que,
no fundo, é política e imposta por organismos internacionais.
A seguir pelo caminho anunciado, Lula dá prosseguimento do desmonte
do Estado. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, tem dito que os sindicalistas
erram o alvo quando referem-se aos direitos dos servidores como "conquistas
da categoria". Para ele, a manutenção do serviço
público nas mãos do Estado é uma "instituição
da democracia". É isso que garante a estabilidade democrática,
"porque sem serviços públicos não há
Estado". Ao transferir o futuro de servidores públicos para
a iniciativa privada, a Reforma da Previdência compromete a qualidade
de seus quadros, perde mão-de-obra qualificada para o mercado e
altera um vínculo fundamental: transforma o SERVIDOR em EMPREGADO,
nivelando todos os direitos por baixo, ao invés de elevar as garantias
e proteção para quem opta por trabalhar nas esferas governamentais.
Lula dá prosseguimento ao desmonte do Estado brasileiro e deve
enfrentar mobilizações maiores que FHC, porque os servidores
públicos não aceitarão passivamente os seus direitos
serem usurpados e, ainda por cima, serem apontados como os grandes responsáveis
por todas as dificuldades da nação. O governo confunde a
população sobre quem são os ricos e os pobres, como
tem confundido os eleitores sobre quem são os seus aliados. Nós
esperávamos que o governo Lula mudasse o país. Pelo visto,
ele mudou de país. Foi morar no FMI, de onde tem mandado os seus
recados.
Fórum Fluminense prepara
resistência à reforma da previdência
O Fórum
Fluminense em Defesa da Previdência Social, lançado em fevereiro,
na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, vem reunindo-se semanalmente
para organizar a resistência dos servidores públicos e da
sociedade contra a reforma de previdência, principalmente o PL-9,
que abre a possibilidade de transferência da aposentadoria do serviço
público para a iniciativa privada. O Fórum, composto por
diversas entidades, dentre elas a DS/RJ, de servidores públicos
federais, estaduais e municipais , foi o principal organizador
do Dia Nacional de Luta contra o PL-9 em nosso estado. A passeata, que
parou o centro do Rio, foi a maior manifestação contra o
PL-9 em todo o Brasil. Cerca de 20 AFRF reuniram-se na escadaria do Ministério,
na Rua Debret, e seguiram juntos para a passeata, carregando a faixa "Unafisco
contra a privatização da Previdência Social"
Apesar de alguns
erros, na avaliação dos integrantes, o saldo foi muito positivo.
A conclusão foi tirada na última sexta-feira, quando as
entidades reuniram-se para planejar os próximos passos. O presidente
da DS/RJ, Alexandre Teixeira, participou da reunião pelo sindicato.
Agenda de mobilização
O primeiro grande
compromisso definido pelo Fórum é a promoção
da ampla participação da Plenária Ampliada, no dia
27 de abril, a ser realizada em Brasília. Cada entidade deve reforçar
junto à sua categoria a importância de participar desta atividade.
Outra resolução
foi incentivar a realização de seminários conjuntos,
com o objetivo de socializar as informações e uniformizar
o conhecimento sobre o tema. A medida foi considerada importante porque
as críticas são as mais diversas e não há
unidade no discurso. Ante a necessidade de acordos mais sólidos
entre as entidades, descartou-se por enquanto o lançamento de uma
proposta alternativa àquela defendida pelo governo.
Ainda no caminho
da mobilização serão utilizados emails padronizados
para as categorias enviarem aos deputados e senadores e outdoors serão
utilizados para mostrar que a proposta do governo não interessa
à sociedade e sim ao mercado financeiro internacional.
No dia 16 de maio,
haverá uma Audiência Pública na Assembléia
Legislativa do Estado.
O Fórum
fará sua próxima reunião hoje, dia 16 de abril, quarta-feira,
às 18 horas, no Auditório da CUT/RJ (Av. Presidente Vargas,
502 15º andar Centro) em conjunto com a Coordenação
Estadual dos Servidores Públicos Federais. A participação
é aberta.

|