Boletim
n° 52 - 27/06/2002
PALÁCIO DA VERGONHA
Governo edita nova MP para evitar derrota
iminente
O Governo Federal editou ontem outra
Medida Provisória dispondo sobre as carreiras de Auditor-Fiscal
da Receita Federal, da Previdência Social e do Trabalho. A medida
revoga a MP 2.175/29 e derruba o PLV 15/02, que já estava em processo
de votação no Congresso Nacional. A nova MP não satisfaz
a nenhuma das reivindicações das categorias.
Os rumores mais fortes de uma nova
MP começaram na semana passada, desde que o presidente do Congresso
Nacional, Senador Ramez Tebet (PMDB/MS), muito pressionado na base, declarou
que colocaria a matéria em votação nesta semana.
A atitude do governo indignou os parlamentares
que trabalhavam pela aprovação do PLV 15/02. Durante o dia
diversos parlamentares usaram a tribuna da Câmara para protestar.
A avaliação unânime é de que o recurso utilizado
pelo governo é um gesto de desespero diante da iminente derrota
em plenário. As caravanas dos AFRF passaram o dia no Congresso
Nacional denunciando as manobras do governo, que chegou a anunciar através
da imprensa, a partir de terça à noite, que a nova MP era
fruto de um acordo com as categorias e que concedia 21% de reajuste para
os Auditores-Fiscais da Receita Federal. Uma mentira sórdida, que
envergonharia qualquer governo decente. Mas não este.
Novo rito favorece os Auditores
A manobra do governo prova definitivamente
a sua fraqueza. Após sustentar durante quase três anos a
MP 2.175/29, evitando a sua votação, o governo agora terá
que enfrentar as categorias no voto antes do final do ano. O novo rito
de tramitação das MPs obriga a sua votação
em até 120 dias, caso contrário a medida perde a vigência.
Ao invés de depender da convocação de quem quer que
seja, a matéria entra na pauta automaticamente e tranca todas as
votações posteriores na casa onde estiver, caso não
seja apreciada. Esta é a nossa grande vitória política.
Não conseguimos a votação agora, como queríamos,
mas garantimos que isso acontecerá obrigatoriamente. A partir do
45o dia, a MP 46/02 já tranca a pauta na Câmara até
a sua apreciação. Depois de votada, segue para o Senado,
obedecendo aos mesmos prazos. Pelos cálculos, a MP deve ser votada,
no máximo, entre os meses de outubro e novembro.
MP 46/02 indigna a categoria, que prepara
reação
Ontem foi mais um dia de manifestações
dos Auditores no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Carregando
cartazes escritos "NÃO À MP 46/02", os auditores
protestaram contra a arbitrariedade do governo. Hoje, a mobilização
prossegue com contatos com lideranças e preparação
de emendas. Ainda antes do recesso, deverá ser instalada a Comissão
Mista que irá analisar a MP. Já foi definido que o relatório
do Dep. Roberto Pessoa será apresentado como emenda substitutiva
global para ser votada na própria comissão ou posteriormente
em plenário. Várias emendas pontuais estão sendo
preparadas para votação em separado. Outra possibilidade
é entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADIN) para questionar a legalidade da MP 46/02 ou de alguns de seus artigos.
Interferência do governo humilha
o Congresso Nacional
Os parlamentares que estiveram ontem
à noite na reunião de avaliação no Hotel San
Marco estavam indignados com o gesto do governo. É a primeira vez
que o governo susta uma MP em pleno processo de votação
para evitar uma derrota em plenário. A decisão revela desespero
e nenhum escrúpulo para o jogo democrático. Diferentes deputados
no Congresso Nacional, como Milton Temer e Agripino Maia, e em nossa reunião,
como Givaldo Carimbão, Vivaldo Barbosa e João Eduardo Dado,
manifestaram a sua indignação.
Em resumo, denunciam a tentativa do
executivo de submeter os demais poderes à sua vontade, instaurando
uma ditadura branca no país. No Congresso Nacional, os presidentes
da casa não dão um passo sem autorização do
governo, como vimos no caso do Senador Ramez Tebet, que não teve
coragem de convocar a sessão do Congresso Nacional, conforme compromisso
assumido. O senador prestou-se ao papel de segurar o PLV 15/02 para dar
tempo ao governo de preparar a MP 46/02.
Secretário da Receita Federal
emperra negociações
O Dep. Walter Pinheiro (PT/BA) declarou
ser esta é a maior derrota já sofrida pelo governo, apesar
do atraso considerável que a nova MP produziu. "A arma do
governo não tem fôlego para ir tão longe. Embarreiraram
a MP durante 3 anos e agora terão que votar em 3 meses. Essa vitória
é fruto da mobilização de vocês", disse
ele.
Contradizendo nota publicada no jornal
Folha de São Paulo, o deputado descartou a possibilidade do atual
Secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, permanecer no cargo
em um possível governo petista. "Podemos ter um secretário
com perfil de arrecadador, mas nunca de confiscador. Penso que a carreira
já está madura para ter um secretário oriundo de
seus quadros" - afirmou. O deputado também revelou que o secretário
da Receita Federal patrocinou as ações do governo, atrapalhando
tudo que pode nas negociações. "O que está em
questão é a estrutura do Estado. O Secretário da
Receita está interessado é na frouxidão da fiscalização.
Quem alimenta o crime organizado é o dinheiro e boa parte dele
vem da sonegação. O governo FHC esvaziou tanto o Estado
brasileiro que o crime organizado está tomando conta" - completou.
Mais uma etapa vencida
Os Auditores que vieram a Brasília
e viram de perto como funciona o Congresso Nacional ficaram indignados
com a subserviência do legislativo e a falta de compostura do governo.
Hoje, durante todo o dia, haverá uma Plenária das DS para
redefinir a estratégia para os próximos dias, até
o recesso, e para o período posterior, quando recomeça a
contagem de tempo para a tramitação. As novas ações
somente serão definidas nas assembléias desta sexta-feira.
Há pelo menos uma certeza: o momento é favorável
aos Auditores. O instrumento de lançar uma nova MP sempre esteve
à disposição do governo. Mas é um recurso
extremo e o fato deles serem obrigados a usá-lo para evitar o PLV
representa uma derrota política sem precedentes.
AFRF do Rio de Janeiro
reúnem-se com o Dep. Miro Teixeira
Na tarde de ontem, o líder
do bloco PDT/PPS, Dep. Miro Teixeira, recebeu os AFRF do Rio de Janeiro
em seu gabinete para uma avaliação do novo quadro. O deputado
mostrou-se entusiasmado com o resultado da mobilização,
que é, para ele, o maior movimento classista que o Congresso Nacional
já viu. Os AFRF convidaram Miro Teixeira para participar da reunião
da caravana no Hotel San Marco à noite.
O deputado chegou por volta das 21
horas e foi logo dizendo: "Eu vim aqui cumprimentá-los. Nós
provamos que é possível enfrentar o dragão e vencer.
Vocês estão de parabéns". Para ele, a nova mecânica
de tramitação da MP é altamente desfavorável
ao governo, porque não depende mais da boa vontade dos presidentes
da casa. Ele ressaltou a importância de manter todas as categorias
unidas até lá e acredita que o cenário pós-eleitoral
é favorável aos servidores. "Tenho a convicção
de que vamos vencer. A necessidade de editar a MP 46/02 revela a fragilidade
do governo. Não é o ideal, mas fomos vitoriosos no processo".
Miro Teixeira elogiou a postura dos Auditores. Segundo ele, a mobilização
foi capaz de pressionar democraticamente, com um ambiente de leveza, de
cortesia e que o convívio foi sempre agradável. "Foi
brilhante o que vocês fizeram. Recebam todos o meu abraço"
- completou Miro.
Caravana vai ao Porto do Rio de Janeiro
AFRF do DEINF e Auditores da Previdência
Social fizeram na terça-feira uma caravana ao Porto do Rio de Janeiro
para trocar experiências com os colegas que estão segurando
a greve naquela aduana. A caravana, com cerca de 30 integrantes, percorreu
todos os terminais de importação, exportação
e de trânsito. O encontro possibilitou a estes companheiros perceber
como funciona a pressão sobre os colegas que trabalham nas aduanas.
Por outro lado, os AFRF do Porto também foram informados sobre
a greve na zona secundária e sobre a paralisação
na Previdência Social, que vem crescendo nos últimos dias.
As caravanas devem prosseguir, fazendo a aproximação entre
os setores e as categorias. A unidade é um dos grandes trunfos
da batalha que estamos travando pela dignidade das carreiras e do serviço
público.
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