Quinta-feira, 11 de setembro de 2003
Jornal
do Brasil
Planalto admite negociar
Previdência com governadores
Subteto do funcionalismo deve ser
ajustado às características de cada região
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - A reforma da Previdência poderá sofrer
ao menos uma mudança no Senado. O governo federal admite reabrir
a negociação com os governadores para ajustar o subteto
do funcionalismo às peculiaridades de cada região. Está
descartada, por enquanto, a adoção de um teto único,
como defendem setores da oposição. O assunto foi discutido
ontem, durante almoço do chefe da Casa Civil, José Dirceu
(PT), e os líderes dos partidos governistas no Senado.
- Vamos consultar os governadores e tentar construir uma alternativa -
admitiu o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
No encontro de ontem, Dirceu e aliados avaliaram a condução
da reforma e as dificuldades para a aprovação sem modificações.
Também conversaram sobre a reforma tributária. Está
praticamente acertado que caberá ao PMDB, a maior bancada da Casa,
a relatoria da emenda fiscal.
A primeira rodada de audiências públicas para discutir a
reforma da Previdência foi marcada pela disputa política
entre governo e adversários na Comissão de Constituição
e Justiça. Decidido a garantir o acesso de cidadãos comuns
e representantes das entidades ligadas ao funcionalismo, o senador Edison
Lobão (PFL-MA) equipou dois plenários com telões
que transmitiram a sessão ao vivo. Mais de 12 agentes da segurança
do Senado foram mobilizados para manter a ordem. Presidente da CCJ, Lobão
foi criticado.
- Peço a sua Excelência que garanta o acesso das pessoas
- cobrou o senador Rodolfo Tourinho (PFL-BA).
O bloco de oposição questionou o volume de audiências
e o curto espaço de tempo de cada exposição. Incluindo
o ministro Ricardo Berzoini, foram ouvidas nove pessoas. Falaram por 15
minutos.
Em confronto permanente com o Planalto, a senadora Heloísa Helena
(PT-AL) fez um dos protestos mais veementes contra o calendário.
Disse que a CCJ estava agindo com irresponsabilidade, tentando sufocar
a discussão. Foi aplaudida pelo plenário. À mesa,
o ministro da Previdência assistiu a tudo impassível. Não
encarou a colega de partido e bebericou chá.
- Os prazos não serão prejudicados, serão cumpridos
- reagiu Edison Lobão à senadora, tentando manter a ordem.
No fim, foi aprovado requerimento por mais uma audiência pública,
apesar da oposição dos governistas. Será realizada
segunda-feira.
O embate político, durante a audiência de ontem, foi bem
localizado e marcado por forte troca de ironias. Em rota de permanente
colisão, os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Artur Virgílio
(PSDB-AM) trocaram farpas. Mercadante defendeu o silêncio do plenário.
Virgílio ironizou e deu um show de provocação ao
governo.
- Se não aprovar a reforma no dia 8 acontece o quê? O Iraque
declara guerra aos Estados Unidos? Não. Não vamos discutir
este assunto com Casa vazia. Se tiver só três senadores aqui,
vou obstruir. Vamos ficar aqui e fazer calo no bumbum.
O líder do governo também direcionou farpas ao senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ex-presidente do Senado e aliado
tácito do governo. O cacique baiano criticou o curto espaço
de tempo para a discussão da reforma e criticou o Planalto. Em
resposta, ouviu desaforo do petista.
- É um privilégio para a democracia ver o senador Antonio
Carlos em posição de minoria - disse Mercadante.
- Seja mais humilde, se for pretensioso vai liderar mal este governo
- advertiu ACM.

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