Terça-feira, 23 de setembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Governo traça estratégia
para votar segundo turno
Medida provisória que prevê recursos
para setor elétrico é problema não resolvido
Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA - Após superar o desafio e garantir quorum na
sexta e na segunda, o governo se prepara para votar, amanhã, o
segundo turno da reforma tributária na Câmara. Antes, contudo,
precisa analisar hoje uma medida provisória que prevê recursos
do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para socorrer empresas
do setor elétrico. Líderes do governo admitem a polêmica
em torno da MP e temem que venha a tumultuar a decisão sobre a
emenda tributária.
É a primeira barreira que temos a superar. A segunda é
a votação do texto da reforma, na quarta-feira confirmou
o vice-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP).
O relator da MP, deputado João Almeida (PSDB-BA), não acredita
em dificuldades. O texto antecipa os prazos da universalização
do atendimento de energia elétrica à população.
De Frankfurt, na Alemanha, outro negociador da MP, Luciano Zica (PT-SP),
lembra que técnicos dos Ministério de Minas e Energia e
da Fazenda uniram-se ao relator, no fim da semana passada, para aparar
arestas e facilitar a tramitação da medida provisória.
O texto vai conter alterações nas regras de investimento
em fontes alternativas de energia antecipa Zica.
O PFL não vai dar trégua ao governo. Líderes do partido
discutem hoje de manhã o mérito da MP, mas não existe
a menor boa vontade para apressar a votação. Na reunião,
serão decididos os três destaques que o partido têm
direito a apresentar na reforma tributária. Um está praticamente
certo: a retirada da regra de transição de 11 anos para
a cobrança do ICMS no destino dos produtos.
Vamos alterar a estratégia do primeiro turno. Centrar esforços
apenas na transição para dividir a base de apoio do governo
afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA),
que conta com o apoio dos tucanos na empreitada.
Parte do PSDB poderá até apoiar a derrubada da transição
ainda na Câmara. O partido, contudo, está mais preocupado
com a chegada da reforma tributária no Senado. O deputado Walter
Feldman (PSDB-SP) será um dos emissários, ao lado do líder
Jutahy Júnior (BA), para atenuar a objeção dos senadores
tucanos, em especial Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM).
Queremos que a transição da reforma tributária
do tapete verde para o tapete azul do Senado seja o menos traumática
possível justificou Feldman.
Previdência: Planalto mobiliza aliados
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - O Planalto está mobilizando aliados para aprovar
a reforma da Previdência na Comissão de Constituição
e Justiça do Senado. Às vésperas da votação,
líderes governistas mapeiam dissidências e trabalham um acordo
de procedimentos com a oposição para que as alterações
da proposta sejam feitas em plenário, no primeiro turno de votação.
O primeiro desafio será garantir o quórum da sessão,
com a presença de mais 12 parlamentares na comissão, para
evitar o adiamento da votação. Tecnicamente, o governo conta
com maioria na CCJ para aprovar a reforma da Previdência sem o apoio
da oposição. Dos 23 titulares, 14 são vinculados
ao Planalto. Mapeamento preliminar da disposição dos senadores
indica um placar de 16 votos favoráveis ao governo.
Vamos aprovar com alguma folga, mas vai dar trabalho disse
o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
É forte a pressão para que mudanças na emenda sejam
feitas já na comissão, antes de a reforma da Previdência
chegar ao plenário. Preocupados com o calendário, estrategistas
do governo trabalham para que as negociações sejam fechadas
em plenário e evitem atrasos no cronograma. Pelos cálculos
do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a emenda será
apreciada até o início de novembro.
Faremos o debate sem açodamento e votaremos as reformas
no tempo certo. Interlocutores do governo acreditam que o acordo venha
a contemplar apenas mudanças no subteto do funcionalismo e qualificam
como política a decisão de alterar a taxação
dos inativos. Ponto simbólico da reforma da Previdência,
a contribuição previdenciária de aposentados e pensionistas
deve ser mantida como aprovada pela Câmara.
A terça-feira será marcada pela tomada de posição
dos partidos. Pela manhã, a bancada do PFL se reúne para
fechar questão em torno da reforma da Previdência. O partido
deve votar contra o governo, mas admite que oito dos 18 senadores aprovarão
a emenda atendendo àos pedidos dos Estados governados por filiados
à legenda. O PSDB promete trabalhar pela votação
individual de cada uma das centenas de emendas apresentadas à CCJ.
Entre os aliados, PT e PMDB voltam a discutir posição formal
sobre a reforma. Os peemedebistas trabalham para votar unidos na CCJ e
defender seis emendas de bancada em plenário. Senadores petistas
ainda esperam por uma nova conversa com o ministro Ricardo Berzoini para
conhecer os limites de negociação no Senado. O encontro
deve acontecer hoje.

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