Quinta-feira, 13 de novembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Reformas, só depois do Natal
Sem votos, Planalto admite que votações
podem tomar todo o mês de dezembro
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - Com dificuldades para garantir os votos exigidos para
aprovar as reformas constitucionais, operadores políticos do Palácio
do Planalto já admitem a necessidade da convocação
extraordinária do Congresso. Prevista para meados de dezembro,
a conclusão das votações no Senado e na Câmara
deve consumir todo o mês de dezembro, segundo projeções
mais otimistas.
- Já estou preparando os senadores para não pensarem no
Natal. Só teremos Natal depois de votarmos a reforma tributária
e, seguramente, votaremos antes do Ano Novo - disse ontem o líder
do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP). Entre os senadores,
fala-se da necessidade de votações nos dias 27 e 28 de dezembro.
Aprovadas pela Câmara, as reformas tributária e da Previdência
estão empacadas no Senado. Com pouca margem para negociação,
as duas propostas enfrentam bombardeio pesado entre senadores da bancada
governista, que não abrem mão de impor mudanças no
texto aprovado pelos deputados. De outro lado, os partidos de oposição
têm tido sucesso em manobras para adiar as votações,
esticando ao máximo um calendário que já é
curto.
Ontem, a Comissão de Constituição e Justiça
do Senado concedeu vistas de cinco dias ao parecer oferecido pelo senador
Tião Viana (PT-AC), adiando em mais uma semana a segunda etapa
da reforma da Previdência na comissão. Foi mais uma vitória
do PFL e seus colegas de oposição.
Na melhor das hipóteses, a reforma da Previdência deve chegar
ao plenário do Senado na primeira semana de dezembro, para o primeiro
turno de votações. As mudanças passarão por
nova apreciação da Câmara.
Convencido das dificuldades, o chefe da Casa Civil, ministro José
Dirceu, abriu uma forte ofensiva sobre a dissidência governista.
Nos últimos dois dias, ele tem convidado os senadores mais renitentes
para conversas reservadas no Planalto. Cauteloso, tem recorrido à
ajuda da senadora Roseana Sarney (PFL-MA), cuja missão é
sondar antes da investida.
O chefe da Casa Civil deixa claro que o governo não tolerará
dissidência na base de sustentação. O recado tem irritado
senadores experientes.
Vice-presidente do Senado, Paulo Paim (PT-RS) reafirmou ontem que deixará
o partido caso as negociações em torno da taxação
dos inativos, das regras de transição e da paridade não
avancem.
Aprovada pela CCJ, a reforma tributária ainda não entrou
em discussão no plenário do Senado e também enfrenta
empecilhos para avançar. Relator da emenda, o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) continua buscando uma saída para atender às demandas
de governadores e senadores adversários.
Uma nova reunião entre governo e oposição será
feita na próxima segunda-feira. Acuados pelo calendário
curto e pela articulação da oposição, operadores
políticos do Planalto já admitem manobras até então
rejeitadas: o fatiamento da emenda e a implantação da reforma
em etapas.

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