Quarta-feira, 26 de novembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Governo perde o primeiro embate
Rebelião liderada por Renan Calheiros
e labirintite de José Sarney adiam para hoje o primeiro turno das
votações
Doca de Oliveira e Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto fracassou ontem na tentativa
de votar a reforma da Previdência. Aberto no fim do dia, com a discussão
da emenda em plenário, o primeiro turno de votações
foi adiado para hoje, por decisão do presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP). Líderes aliados atribuíram a decisão
à saúde de Sarney, que há quatro dias sofre com uma
crise de labirintite.
- Era muito tarde para dar início à votação.
Deixaremos para amanhã, que será mais tranqüilo - anunciou
o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Frisando ter segurança dos votos necessários para aprovar
a emenda, o senador negou que o adiamento tenha sido motivado pela disputa
entre PMDB e PSDB. Assegurou que a decisão teve respaldo do Planalto,
que não desejava ver a votação da reforma da Previdência
conduzida por outra liderança que não a de Sarney. Na ausência
do presidente, a sessão seria comandada pelo vice, Paulo Paim (PT-RS),
adversário declarado da reforma.
Aborrecido com as concessões do PT à oposição
e decidido a reforçar seu cacife político para tirar maior
vantagem da reforma ministerial, o PMDB deu ontem mais um susto no governo
e ameaçou boicotar a reforma. Horas antes de o plenário
do Senado abrir o primeiro turno de votação, o líder
do partido, Renan Calheiros (AL), deflagrou uma rebelião.
- O PMDB exige que tenhamos conhecimento e possamos sugerir o texto do
subteto - avisou, instalando pânico entre os aliados.
Num gesto calculado, Calheiros mandou o recado para o governo e para
colegas de partido. Numa demonstração de força, o
senador simulou desagrado com o acordo celebrado na segunda-feira entre
Mercadante e o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, em torno
do subteto do funcionalismo. Rejeitou uma negociação concluída
na sua ausência, desautorizando o líder petista e o governador
gaúcho.
- Essa esperteza do Aécio Neves é inadmissível.
Não dá para ser Tiradentes com a cabeça do servidor
público - disparou, mirando no governador de Minas Gerais, que
deseja manter inalterado o subteto aprovado pela Câmara.
O ataque contra o governador tucano foi um sinal do desconforto do PMDB
com o tratamento dado pelo governo aos partidos de oposição.
Líder da maior bancada no Senado e fiel da balança governista,
Calheiros avalia que o governo tem sido mais generoso com os adversários
do que com seus aliados na negociação das reformas.
A reação do senador alagoano mobilizou o presidente do
Senado e desgastou as relações do governo com o PSDB. Informado
da rebelião, José Sarney reuniu os líderes de todos
os partidos para acertar os procedimentos da votação e esclarecer
a negociação em torno do subteto. Diante dos colegas, Calheiros
voltou a reclamar, mas acabou aceitando acordo que já fora fechado.
Senadores tucanos saíram em defesa de Aécio e ameaçaram
votar contra a reforma. Líder da bancada do PSDB, Arthur Virgílio
Neto (AM) não escondia sua indignação com os ataques.
Aborrecido, frisou que era o governo quem precisava dos votos do partido.
Governo estuda a alíquota
da Cofins
BRASÍLIA - O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid,
e o secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda,
Arno Augustin, vão encaminhar aos deputados do PT estudos e análises
dos impactos provocados pelo aumento da alíquota da Cofins na economia.
Alguns setores, especialmente o de serviços, reclamam da elevação
da alíquota de 3% para 7,6%. Líderes governistas também
vêm reclamando do aumento. Além de diminuir as pressões
nos gabinetes, os governistas querem retirar do PFL a bandeira de guardião
da carga tributária.
Rachid e Augustin participaram ontem de uma reunião com os coordenadores
de bancada do PT. Prometeram fazer simulações econômicas,
a fim de descobrir se há margem para diminuição da
alíquota ou para um tratamento diferenciado a determinados setores.
Por enquanto, a equipe econômica mantém-se inflexível.
- A posição do governo é manter a alíquota
de 7,6%, percentual obtido com base no comportamento observado pelo fim
da cumulatividade do PIS - disse Rachid, após a reunião
com deputados petistas, lembrando, contudo, que o Congresso tem autonomia
para propor alterações.
Líder da bancada na Câmara, Nelson Pellegrino (BA) declarou
que Rachid e Augustin mantiveram a mesma posição de negociação,
alegando que a margem para mudanças é extremamente pequena.
Após a insistência dos parlamentares, ficou acertada nova
reunião para a próxima semana.
- Sabemos que o comércio e a indústria estão batendo
palmas para o fim da cumulatividade da Cofins. Mas sabemos também
que setores produtivos com cadeia mais curta vão enfrentar dificuldades
- explicou Pellegrino. (P. T. L.)

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