Quinta-feira, 04 de dezembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Decisão de Berzoini provoca impasse
Ministro recusa isentar servidores inativos com mais
de 75 anos da contribuição previdenciária
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - As negociações em torno da emenda constitucional
que fará ajustes na proposta original da reforma da Previdência
chegaram ontem a um impasse. O ministro Ricardo Berzoini rejeitou a inclusão
de servidores inativos com idade a partir de 75 anos na faixa de isenção
da contribuição previdenciária. Aceitou apenas tornar
mais flexíveis as regras de transição para a aposentadoria.
Liderados pelo vice-presidente do Senado, Paulo Paim (PT-RS), os partidos
de oposição se negaram a fechar um acordo para acelerar
a tramitação da emenda.
- É bobagem o governo não aceitar, acho que está
na hora de um gesto de grandeza -, cobrou o senador petista.
- Acho que se o Berzoini encontrar um velhinho na rua é capaz
de pisar-lhe o pé - desabafou o líder do PFL no Senado,
José Agripino Maia (RN).
A isenção para os inativos a partir de 75 anos seria concedida
apenas a idosos vítimas de doenças incapacitantes.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), chegou a convocar
a imprensa para anunciar a assinatura de um documento conjunto, formalizando
o entendimento entre todos os partidos e a redução dos prazos
de tramitação da emendas constitucionais.
O ato foi desmarcado momentos depois, por causa da decisão do
ministro. Além disso, o bloco de oposição recusou
o formato final da regra de transição que condicionava a
aposentadoria integral ao período de 35 anos de contribuição
ao serviço público. A proposta de Paulo Paim não
trazia tal exigência, aceitando 35 anos de contribuição
de servidores que tenham transitado entre a iniciativa privada e o funcionalismo.
- Com este governo, tratar da questão do idoso é perda
de tempo -, disse José Agripino.
As negociações foram suspensas no fim da tarde, para uma
nova rodada de conversas entre o senador Paim e o ministro-chefe da Casa
Civil, José Dirceu. Até o início da noite, a expectativa
era de que o acordo pudesse ser formalizado ainda ontem para que a emenda
paralela à reforma seja apreciada hoje pela Comissão de
Constituição e Justiça do Senado.
O acordo frustrado, que chegou a ser anunciado por Sarney, foi arquitetado
em um jantar reservado, na noite da última terça-feira.
O presidente do Senado era o anfitrião. À mesa, com ele,
o líder da bancada do PMDB na Casa, Renan Calheiros, o chefe da
Casa Civil, José Dirceu, e o ministro da Fazenda, Antônio
Palocci Filho. Preocupados com o calendário apertado para a conclusão
das reformas e aprovação de outros projetos importantes
para o governo, os ministros pediram o apoio do PMDB para destravar a
agenda do parlamento.
Os quatro políticos acertaram uma estratégia para garantir
a conclusão das reformas, a aprovação do Orçamento
da União e do Plano Plurianual de Investimentos.
Isso não impediu, no entanto, que, no jantar, os cardeais do PMDB
reafirmassem o desconforto das bancadas do partido pela demora na definição
do seu embarque oficial na coalizão governista. O comando do PMDB
já não esconde o constrangimento pelo adiamento da reforma
ministerial.

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