Sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

Jornal do Brasil

Governo cede e emenda é aprovada

PDT se nega a reduzir tramitação e Sarney anuncia sessões aos sábados e domingos para concluir votação antes do Natal


Doca de Oliveira

BRASÍLIA - Acuado pelos partidos de oposição e por dissidentes da bancada governista, o Planalto cedeu às pressões e conseguiu aprovar emenda constitucional que modifica a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Ratificada em votação simbólica, após acordo que uniu todos os partidos, a emenda paralela segue para o plenário, onde será apreciada em primeiro turno nas próximas semanas. O desfecho positivo das negociações não foi suficiente, entretanto, para garantir a redução dos prazos de tramitação da proposta, medida rejeitada pelo PDT.

Atropelado pela negativa do partido, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou ontem que o Senado trabalhará durante os finais de semana para garantir a aprovação até o encerramento dos trabalhos legislativos.

Líderes dos partidos aliados desejam ver as duas emendas da reforma da Previdência aprovadas até o dia 20 de dezembro. O segundo turno da proposta original será votado até o próximo dia 12. No caso da emenda paralela, a orientação é ratificá-la até o dia 19.

- O mais impossível era conseguir unanimidade em torno da proposta. Agora, vamos trabalhar sábado e domingo até o fim do ano para aprová-la - informou Sarney.

O Ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, acabou cedendo na definição da regra de transição, em conversas travadas na noite de quarta-feira. O acordo foi comunicado aos líderes momentos antes da votação na comissão.

A emenda aprovada pela CCJ contempla os quatro principais pontos encaminhados pelos partidos de oposição com o apoio de setores da bancada governista. Governadores poderão fixar o subteto do funcionalismo público do Executivo estadual no intervalo entre os próprios vencimentos e o de um desembargador. Terão até 90 dias para fazê-lo, após a promulgação da reforma da Previdência.

Os senadores também conseguiram promover um abrandamento na chamada regra de transição entre os dois modelos, garantindo a equivalência de um ano para cada ano trabalhado aos servidores que tenham 35 anos de contribuição. O governo não recuou, entretanto, na retirada do redutor das pensões e na inclusão dos servidores inativos com idade a partir de 75 anos na faixa de isenção de cobrança da contribuição previdenciária.

Encerradas as conversas, os partidos de oposição demonstraram satisfação com o resultado da pressão feita sobre o governo e defenderam a rápida aprovação da emenda paralela.

- A política é a arte do possível e esta é a emenda possível. O PFL não será obstáculo para as coisas boas - comentou o líder dos pefelistas no Senado, José Agripino Maia (RN).

- É importante discernir o que é um avanço real e o que é avanço nenhum. Avançamos bastante - endossou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

Recuando da oposição ostensiva ao governo, o PDT decidiu votar a favor da emenda paralela à reforma da Previdência. O partido negou os cinco votos de que dispõe no Senado à proposta original, mas deve votar fechado pelas alterações.

Os apelidos da sigla

Doca de Oliveira

BRASÍLIA - Apelidada inicialmente de Conceição - personagem imortalizado na voz de Cauby Peixoto -, a proposta de emenda constitucional - ou PEC, na linguagem burocrática -, com os ajustes na reforma da Previdência, trocou, ontem, várias vezes de nome, ao sabor do humor dos senadores da Comissão de Constituição e Justiça.

Animados com o acordo que garantiu o atendimento das suas reivindicações, políticos governistas capricharam na busca de um símbolo feminino para ilustrar a proposta.

- A proposta começou como emenda Conceição e agora virou emenda Gisele Bündchen. Esguia, enxuta e popular - qualificou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

- É preciso lembrar que a Gisele Bündchen também agrada aos velhinhos - disse o senador Fernando Bezerra (RN), negociador da reforma tributária pelo PTB.

PEC Conceição foi o apelido encontrado pelo líder do PFL, José Agripino Maia (RN), para referir-se às mudanças na reforma da Previdência. Para ele, é o nome perfeito para alguém ''que ninguém sabe, ninguém viu''. A alcunha surgiu logo que a proposta original da reforma da Previdência foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e o relator, Tião Viana (PT-AC), propôs a apresentação de outra emenda constitucional para alterar a proposta ratificada pelos deputados. Assim, se evitariam atrasos na promulgação.

O resultado final das negociações manteve uma suave divisão entre contentes e descontentes. E a PEC acabou ganhando mais apelidos:

- Não me parece uma Emenda Gisele Bündchen, não. Está mais para um personagem de terror - desancou Demósthenes Torres (PFL-GO).

- É um Michael Jackson siliconado - radicalizou o líder do PDT, Jéfferson Péres (AM).

Após ter apoiado o governo na aprovação da reforma original, a senadora Seres Slhessarenko (PT-MS) cobrou um acordo com a Câmara dos Deputados para evitar que a PEC Conceição, ou Gisele Bündchen, fique parada na Câmara, onde será apreciada em dois turnos de votação.

- Esta PEC não parece com modelo nenhuma, ela terá a nossa cara, que estamos votando - afirmou. E deu a deixa para a reação da colega Heloísa Helena (PT-AL):

- A minha não.