Sábado, 06 de dezembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Governo cede na reforma tributária
Pressionada, equipe econômica aceita antecipar redução
progressiva da CPMF a partir de 2005 e fecha acordo para votação
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - Travada por disputas políticas e pela defesa
de interesses dos Estados, a reforma tributária foi equacionada
ontem pelo Senado e pode ser levada ao plenário nos próximos
dias. Sob pressão do bloco de oposição, a equipe
econômica cedeu, autorizando a antecipação da redução
progressiva da carga tributária a partir de 2005 - por meio do
ajuste na alíquota da CPMF - e a desoneração dos
produtos da cesta básica.
Avalizado pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, o acordo prevê
a implantação da reforma em três etapas, até
2007. O texto final da emenda será submetido às bancadas
dos partidos na próxima terça-feira, fase preliminar da
articulação com que os líderes pretendem tornar possível
a votação da proposta pela Comissão de Constituição
e Justiça na quarta-feira e o primeiro turno em plenário
no dia seguinte.
- A reforma tem tudo para ser votada e traz muitos benefícios
para a população - disse o ministro da Fazenda.
No encontro de ontem, os senadores acertaram não apenas os pontos
a serem contemplados em cada uma das etapas de implantação
como, principalmente, os instrumentos de regulamentação.
A promulgação da emenda dará fim à guerra
fiscal entre os Estados e colocará em funcionamento o Fundo de
Desenvolvimento Regional, principal foco de disputa entre os governadores.
Criado para custear políticas de desenvolvimento para as regiões
mais pobres, o fundo será composto com parte da arrecadação
do IPI e do Imposto de Renda - R$ 2,2 bilhões - que será
repassada por meio de convênios dirigidos a programas ou obras específicos.
A maior parte deste dinheiro, 93%, será destinada aos Estados das
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Deste montante, 25% serão repassados aos municípios mais
carentes, tendo por critério o Índice de Desenvolvimento
Humano. Os outros 7% serão destinados à áreas economicamente
deprimidas, com prioridade para o Vale do Jequitinhonha e as regiões
Noroeste de Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
- O dinheiro não será pulverizado para garantir que as
obras sejam feitas efetivamente - explicou o relator, Romero Jucá
(PMDB-RR).
Ainda voltado às regiões mais pobres, o governo estuda
uma política industrial para impulsionar a atividade econômica
nos Estados com menor desenvolvimento do país. A idéia é
usar recursos do BNDES para industrializar as regiões mais carentes.
A primeira etapa da reforma tributária atende as demandas do governo
federal para equacionar o ajuste fiscal das contas públicas. Estão
garantidas a prorrogação da CPMF e da desvinculação
das receitas da União. Preocupado com o calendário fiscal,
o Palácio do Planalto admite promulgar a reforma de modo fatiado
para que os pontos mais urgentes possam vigorar em janeiro de 2004.
Senado e governo acreditam ter encontrado um modo de acabar com a CPMF.
Prorrogado por mais quatro anos, o tributo passará a ter caráter
fiscalizatório e sofrerá uma redução de alíquota
até atingir o teto de 0,08%. Criada para dar liquidez aos cofres
da União durante uma crise internacional, a CPMF não poderá
ter sua alíquota reajustada depois de aberta a redução
progressiva.
Pressionado por um calendário curtíssimo, o Senado abre
hoje uma rodada de sessões deliberativas. Os senadores trabalharão
nos próximos fins de semana - sábado e domingo - para garantir
a contagem dos prazos regimentais de aprovação das reformas
da Previdência e tributária. O governo aposta num acordo
entre os partidos para que a reforma tributária seja concluída
em tempo recorde e aprovada em dois turnos até a próxima
sexta-feira.

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