Quarta-feira, 17 de dezembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Discurso do governo não está
afinado na votação da Cofins
Voz divergente, Mercadante quer Educação
e Saúde fora do aumento da alíquota
Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA - O governo tem pressa e quer votar hoje, na Câmara,
a medida provisória que aumenta a alíquota da Cofins de
3% para 7,6%. Para isso, no entanto, precisará unificar o discurso
dos líderes da Câmara e do Senado e vencer as obstruções
planejadas pelo PFL e o PSDB. Enquanto os deputados aliados fecham o acordo
com a equipe econômica, o líder do governo no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP), alardeia que educação e Saúde
estarão fora da MP. Já a oposição quer alíquota
mais baixa 6,1% ou um leque maior de áreas beneficiadas.
PFL e PSDB prometem obstruir a votação, frustrando os planos
do Planalto de votar a MP hoje na Câmara e, no mais tardar, sexta
no Senado. Os tucanos apresentaram um documento no qual afirmam que o
fim da cumulatividade da Cofins trará aumento na arrecadação
de aproximadamente R$ 8 bilhões, o que caracterizaria elevação
na carga tributária. Além disso, acabaria com o setor de
serviços, que representa 58% da mão-de-obra e 44% dos salários
pagos no país.
O princípio da cumulatividade é correto. Mas o governo
não pode fazer disso um aumento da carga tributária
criticou o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Junior (BA).
Após apresentar uma forca, simbolizando o assassinato dos postos
de trabalho, os tucanos propuseram uma alíquota única, de
6,1%, para todos os setores, com a possibilidade de um gatilho para cima
quando for comprovado que o governo está perdendo arrecadação.
Cobram, no entanto, transparência da Receita nos números
oficiais da arrecadação.
Não queremos que o governo perca dinheiro. Mas o Executivo
está com fome demais. Não adianta crescer em 2004 e estancar
em 2005 e 2006 apontou o líder do PSDB no Senado, Arthur
Virgílio (AM).
O PFL também está esmurrando a mesa. Líder do partido
na Câmara, José Carlos Aleluia (BA) acredita ser possível
um acordo de procedimentos, desde que o governo mantenha os setores de
educação, saúde e construção civil
com a alíquota de 3% praticada atualmente. Já no Senado,
o líder José Agripino (PFL-RN) é menos aberto a negociações.
Quer proteger também o setor de transportes e as operações
de hedge (compra de dólar a preços prefixado). Ele diz que
cobrar Cofins desta operação vai espantar os investidores.
É bom que o Aleluia coloque as primeiras barreiras lá
na Câmara. Aqui, vamos exigir mais coisas garantiu o senador
pefelista.
Responsável pelas negociações do governo com a oposição,
Mercadante defende que o texto da MP indique o compromisso em encaminhar,
no prazo de 90 dias, um projeto de lei ao Congresso transferindo a contribuição
previdenciária patronal da folha de pagamento para o faturamento
da empresa.
É preciso dar um tempo para as empresas se acostumarem
com as mudanças declarou.
Mercadante garante que todos os dados exigidos pela oposição
estão disponíveis num estudo feito pela Receita Federal
e distribuído aos líderes oposicionistas. Na Câmara,
no entanto, os líderes, mais cautelosos, criticam a precipitação
de Mercadante.
Mais uma vez, ele quer meter a cunha em um projeto que está
na Câmara. Temos que fechar um acordo de governo, sem personalismos
disse um líder governista.

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