quinta-feira, 17 de julho de 2003
TRIBUNA
DA IMPRENSA
Estados aceitam integralidade mas rejeitam
regime da paridade
BRASÍLIA - Os governadores deram sinal verde para
que o Palácio do Planalto leve adiante, nos debates sobre a reforma
da Previdência, o acordo sobre aposentadorias integrais para os
atuais servidores públicos, mas não a manutenção
da paridade dos reajustes entre ativos e inativos.
"Os governadores acham que a paridade deve ser melhor discutida
na comissão de mérito", afirmou o governador do Rio
Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), interlocutor dos estados da Região
Sul mais Mato Grosso do Sul. "Os governadores do Centro-Oeste deixam
esse assunto para ser tratado posteriormente, no debate que será
travado no Congresso", disse o governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB).
Posição semelhante foi tomada pelos governadores do Norte,
do Nordeste e do Sudeste. Em Belo Horizonte, o governador Aécio
Neves (PSDB) garantiu, depois de ter conversado com vários governadores,
que os estados "não colocarão qualquer obstáculo"
para que comece hoje a tramitação formal do projeto da reforma
previdenciária. "Caberá ao Congresso, com toda autonomia
e autoridade, decidir o que é melhor para o País",
disse Aécio, ao participar das comemorações do Dia
de Minas Gerais, na cidade histórica de Mariana.
No Sul, os governadores também aprovaram a proposta de garantir
pensão integral para quem ganha até R$ 2,4 mil e aplicar
um redutor de 50% sobre todo valor que exceder esse limite.
"A proposta do governo não modifica o fundamental, que é
o enfrentamento do déficit crescente da Previdência",
avalia Rigotto. "Em princípio, não temos impacto negativo
pelos próximos 15 anos." De acordo com simulações
feitas pelo Ministério da Previdência com sete estados, a
manutenção da integralidade, combinada com regras de idade
mínima e tempo mínimo de serviço público,
pode até render um ganho por alguns anos pelo adiamento dos pedidos
de aposentadoria - mas entre 2012 e 2015, a situação voltaria
a piorar.
"Nós, na verdade, gostaríamos que não houvesse
mudanças em relação à PEC original, mas concluímos
que nesse aspecto da integralidade dá para apoiar até porque
o impacto financeiro não é tão expressivo",
disse Perillo.
Decisão sobre
paridade sai hoje
MARIANA (MG) - O ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse
ontem que as mudanças que estão sendo propostas para a reforma
da Previdência têm em parte o apoio dos governadores e que
caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomar a decisão
sobre o restante.
Segundo Dirceu, a avaliação que foi feita ao longo do dia
de ontem é que os governadores compreendam a situação
do governo federal e possam aceitar a integralidade para os servidores
atuais, com a manutenção de quesitos como a idade, tempo
de contribuicão e tempo no cargo, conforme foi apresentado pelo
ministro Ricardo Berzoini (Previdência).
A paridade - o repasse dos reajustes dos servidores ativos para a aposentadoria
dos inativos - e a mudança nas pensões, segundo Dirceu,
são questões sobre as quais o governo federal deverá
apresentar uma posição hoje, quando o presidente Lula retornar
da viagem à Europa.
Dirceu disse que durante a tramitação da proposta, o governo
continuará conversando com os governadores. Para ele, as reformas
têm o apoio do País, da maioria da Câmara e do Senado,
dos governadores, dos partidos que integram a base de sustentação
do governo e também a compreensão dos outros partidos, tanto
do PFL quanto do PSDB. "Vamos aprovar as reformas", afirmou.
Segundo Dirceu, os obstáculos estão sendo enfrentados neste
momento, como a greve dos servidores públicos, mas o núcleo
das reformas e os princípicos são compromisso do presidente
Lula, dos governadores e dos partidos. "E nós vamos mantê-lo
(o núcleo)", disse.
Dirceu foi agraciado ontem com a Comenda Oficial do Dia de Minas Gerais,
em Mariana. Durante seu discurso, ele reiterou que Lula está determinado
a retomar o desenvolvimento econômico do País e que é
importante ter acesso a mercados e tecnologia, mas isso não é
o bastante. Para superar os obstáculos, disse o ministro, é
preciso unidade nacional e a determinação para aprovação
das reformas que o presidente enviou aos Congresso. Segundo Dirceu, é
necessário o apoio dos governadores e dos partidos para a superação
dos problemas.
Dirceu: governo usará poder e
influência para aprovar reforma
BRASÍLIA - O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu,
deixou claro ontem, em reunião de quase três horas com a
bancada de deputados do PT, o recado do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva sobre a reforma da Previdência: o governo vai usar
toda sua influência e seu poder para aprovar o relatório
do deputado José Pimentel (PT-CE), que será apresentado
hoje na Comissão Especial da Câmara.
O ministro não precisou dizer se toda a bancada petista votará
unida, orientação está que deverá ser estabelecida
nos próximos dias pelo presidente do PT, José Genoino. O
deputado Paulo Bernardo (PT-PR) relatou que Dirceu foi categórico
ao dizer que o governo vai usar de toda sua influência para aprovar
o texto de Pimentel e que não está trabalhando com a possibilidade
de alteração na votação da proposta, mesmo
que eventualmente seja derrotado em algum ponto.
Dirceu fez essas afirmações ao ser questionado por deputados
se o relatório de Pimentel era preliminar e se o governo negociaria
outras alterações na proposta. Dirceu garantiu que o texto
de Pimentel não se trata de relatório preliminar e que a
posição do governo é de defender a votação
desse relatório, tanto na comissão especial quanto no plenário
da Câmara.
O ministro-chefe da Casa Civil reafirmou que não trabalha com
a possibilidade de alteração do relatório, mas entende
que pode perder em algum ponto. "Vamos usar nossa influência
para aprovar o relatório", disse Paulo Bernardo, repetindo
Dirceu. O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, que também
participou da reunião de bancada petista, disse que o limite da
negociação sobre a reforma é o que estará
no texto de Pimentel.
Segundo o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), o ministro Dirceu ouviu queixas
das alas mais à esquerda do PT de que o governo só está
negociando as reformas, previdenciária e tributária, com
os governadores, excluindo os parlamentares do processo. O ministro discordou
da reclamação, afirmando que os ministros já tiveram
vários encontros com a bancada, e marcou para dia 26 um encontro
com toda a bancada para ouvir todas as queixas.
Comando de Greve rejeita nova proposta
para a Previdência
BRASÍLIA - O Comando Nacional de Greve dos servidores públicos
rejeitou, na tarde de ontem, a nova proposta de reforma da Previdência.
A proposta foi apresentada pelo governo ao grupo de governadores, que
representam as cinco regiões do País, mantendo a aposentadoria
integral para os atuais servidores, porém com novas condições.
"Não teve, até agora, negociação alguma
do governo com os servidores, só conversa", reclamou José
Domingues Godoi Filho, do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições
de Ensino Superior (Andes) e integrante do Comando de Greve. Ontem, os
servidores realizaram manifestações na Esplanada dos Ministérios.
Outro integrante do Comando de Greve, Vicente Neto, criticou as negociações
que estão sendo feitas entre a União e os governadores dos
estados. Segundo ele, os servidores foram alijados do processo. "É
esdrúxula essa instância nova chamada reunião de governadores",
afirmou.
Em um balanço feito ontem, as lideranças da greve calcularam
que 55% da categoria aderiram à paralisação contra
a reforma da Previdência. Entre outros, segundo o Comando, estão
parados os docentes de 25 universidades federais e 100% dos técnicos
administrativos dessas instituições, 55% dos servidores
do Judiciário, 30 a 35% dos trabalhadores na Saúde, 45%
dos funcionários das escolas, 80% dos servidores do IBGE e 85%
dos do INSS. A greve começou no dia 8 de julho. O Comando de Greve
reivindica a retirada de tramitação da proposta de reforma
previdenciária.

|