Segunda-feira, 01 de dezembro de
2003
TRIBUNA
DA IMPRENSA
Governo tenta esta semana a prorrogação
da tabela do IR
BRASÍLIA - Depois de impedir, na semana passada,
a oposição de obter urgência para a votação
da correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física
(IRPF), o governo prepara-se agora para prorrogar por mais um ano a alíquota
de 27,5% para salários acima de R$ 2.115,00. "Nossa vontade
é votar e aprovar o projeto na terça-feira", disse
o deputado Professor Luizinho (PT-SP), vice-líder do governo.
O mais provável, porém, é que o projeto seja votado
na quarta-feira, dada a polêmica que envolve. "Feito isto,
e votada a medida provisória que acaba com a cumulatividade na
Cofins e o projeto que estabelece a Parceria Público-Privado (PPP),
restarão à Câmara apenas o Plano Plurianual e o Orçamento
da União para zerar a sua pauta", afirmou Luizinho.
Caso o Senado aja rápido e aprove um projeto que faz algumas mudanças
na proposta da reforma da Previdência - chamada de PEC paralela,
porque tramita paralelamente à outra, com os pontos que não
obtiveram consenso, como o subteto nos estados -, o projeto poderá
chegar à Câmara ainda neste ano.
Os partidos de oposição pretendem fazer barulho em favor
da correção da tabela do IR em 22,8%, como propunha projeto
relatado pelo deputado Antonio Cambraia (PSDB-CE) que, derrotado, foi
destituído da função de relator, conforme determina
o regimento interno da Câmara. Para seu lugar, o presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), nomeará o deputado José
Pimentel (PT-CE), relator da reforma da Previdência e fiel às
determinações do Palácio do Planalto.
João Paulo teve responsabilidade direta na derrota das oposições,
que tentavam corrigir a tabela do IR e impedir a prorrogação,
por mais um ano, da cobrança da alíquota de 27,5% para salários
acima de R$ 2.115,00. Na condição de presidente da Câmara,
advertiu os aliados do Palácio do Planalto de que se deixassem
as oposições aprovar a urgência para a proposta amanhã,
o governo correria o risco de ser derrotado no plenário, em seguida.
Era preciso, antes, segurar o projeto na Comissão de Finanças
e Tributação, onde tramitava. A manobra deu certo.
Para o presidente da Câmara, a correção da tabela
e a redução da alíquota de 27,5% para 25% representaria
uma perda de quase R$ 2 bilhões para o Tesouro, justamente num
momento em que o governo não tem caixa para fazer investimentos.
Compensação
Professor Luizinho é mais dramático. Para ele, a correção
na tabela do IR causaria uma queda de arrecadação insustentável
para o País. Mesmo, assim, os deputados vão consultar a
equipe econômica do governo antes de votar a proposta, para saber
se será possível algum tipo de compensação,
nem que seja uma pequena correção no abatimento das despesas
com educação, hoje, de R$ 1.998,00.
Essa proposta é defendida pelo presidente da Câmara. Depois
de aprovado pela Câmara, o projeto que prorroga a alíquota
de 27,5% será votado pelo Senado. Lá, as coisas não
são boas para o governo. O senador Paulo Paim (PT-RS), por exemplo,
está entre os que defendem a correção da tabela.
Argumenta que parte do salário é corroída pela inflação,
o que aumenta o impacto negativo do IR sobre o contribuinte. Ele lembra
ainda que há casos em que o reajuste salarial do fim do ano pode
colocar o contribuinte em uma faixa maior de contribuição.
Fazem parte do movimento a favor da correção da tabela,
além de Paim, o senador tucano Antero Paes de Barros (PSDB-MT),
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), cotado para ser ministro, na vaga do
PMDB, possivelmente de Cidades, e o senador Paulo Octávio (PFL-DF),
todos eles à frente de algum tipo de projeto que corrige a tabela
do IRPF.
Governo e oposição
buscam acordo para votar paralela
BRASÍLIA - O Senado começa a discutir hoje a segunda fase
da reforma da Previdência, com os acerto finais para votar a chamada
emenda paralela, que altera ponto da proposta aprovada em primeiro turno
na última quinta-feira. A expectativa dos líderes governistas
é fechar o acordo esta semana, antes da votação em
segundo turno da reforma, prevista para a próxima semana. Um dos
pontos da emenda paralela, os subtetos salariais, será debatido
pelos líderes partidários.
Pelo texto da reforma da Previdência, o limite dos salários
dos funcionários do Executivo é o salário do governador.
A proposta paralela faculta aos governadores o envio à Assembléia
Legislativa de projeto de lei estabelecendo subteto que terá como
limite a remuneração de desembargador, que corresponde a
90,25% do vencimento do salário do ministro do Supremo Tribunal
Federal.
A oposição afirma que não há indisposição
com relação à proposta, mas desconfia da intenção
do governo em manter benefícios que contrariam as expectativas
de gastos do setor. "Eu me recuso a assumir compromissos para reduzir
os prazos de tramitação da emenda paralela antes de conhecer
os termos da proposta", afirma o líder do PFL, senador José
Agripino Maia (PFL).
Segundo ele, a tendência da oposição é condicionar
um eventual acordo para reduzir o prazo de votação aos benefícios
propostos pela emenda.
O presidente do Senado, José Sarney, acredita que há "vontade
política" para votar a emenda paralela o quanto antes. Segundo
ele, o presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP),
também espera concluir a votação rapidamente.
Sarney disse que não se opõe à convocação
do Congresso, a partir do dia 16 de dezembro, para que não haja
necessidade de interromper a tramitação da proposta. "O
problema da necessidade de convocação depende justamente
do andamento dos trabalhos no Senado e na Câmara e há vontade
política da nossa parte, e da parte do presidente da Câmara
para que seja uma tramitação rápida", afirmou.
Toda emenda constitucional tem de ser aprovada em dois turnos de votação
pelo Senado e pela Câmara, por três quintos de votos (49 senadores
e 308 deputados), no mínimo. Caso as expectativas se confirmem,
o texto deve chegar à Câmara antes do início do recesso
parlamentar, dia 15 de dezembro. Caberá então ao governo
decidir se convoca ou não o Congresso para que os deputados possam
examinar o quanto antes a emenda paralela.
O líder do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PcdoB-SP),
acredita que seus colegas estão receptivos à proposta. "Os
deputados que acharam que a reforma foi rigorosa,terão agora a
chance de aprovar melhorias para aposentados e pensionistas", previu.
Para a base do governo, Rebelo disse que o que importa é cumprir
o acordo feito no Senado. O líder disse que, se houver necessidade,
não vê impedimento no prosseguimento dos trabalhos do Legislativo.
O que prevê a chamada emenda paralela
Transição
A idéia é reduzir em um ano a idade de aposentadoria para
cada ano que o servidor trabalhar a mais além de 30 anos (mulher)
e 35 anos (homem) para que possam se aposentar antes dos 55 e 60 anos.
Alíquotas
Definição de alíquotas menores, ainda não
fixadas, de contribuição do INSS para trabalhadores sem
vínculos empregatício e donas de casa. O prazo de carência
para os benefícios também será menor.
Aposentadoria
Voltar a conceder aposentadorias iguais aos salários dos atuais
servidores, desde que tenham completado 25 anos de serviço público
quando se aposentarem.
Deficientes
Adoção de critérios especiais para aposentadoria
de portadores de deficiência.
Subteto
Prazo de 60 dias para que os governadores enviem projetos às assembléias
elevando seus salários, caso eles sejam baixos, respeitando o limite
do salário do desembargador.
Censo
Adoção do controle social da Previdência, com representantes
do Ministério Público, Legislativo e Judiciário e
a realização de um censo previdenciário a cada cinco
anos.

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