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Terça-feira, 02 de dezembro
de 2003
TRIBUNA
DA IMPRENSA
Governo deve prorrogar alíquota
de 27,5% do IR por mais um ano
BRASÍLIA - O governo deve fechar em mais um ano o
prazo de prorrogação da alíquota de 27,5% do Imposto
de Renda da Pessoa Física para garantir a aprovação
do projeto até amanhã. Segundo o deputado José Pimentel
(PT-CE), o Planalto discutiu com os governadores a possibilidade de prorrogar
os 27,5% por um ano (originalmente era por tempo indeterminado) com a
promessa de retomar a discussão sobre a correção
da tabela em 2004, depois de concluída a primeira fase da reforma
tributária.
"A unidade que existe é manter a alíquota de 27,5%
e remeter para 2005 as mudanças na progressividade e na tabela",
afirmou Pimentel, acrescentando que estados e municípios não
aceitam nem aumentar o limite de isenção em 10%, quanto
mais a proposta do deputado e relator Antônio Cambraia (PSDB-CE),
que corrige toda a tabela em 22,87%.
Na prática, o Planalto está usando os governadores e prefeitos
- que ficam com 47% da arrecadação geral do IR e 100% do
desconto na fonte de seus servidores - para pressionar a oposição
e, no máximo, negociar uma proposta intermediária que traga
menos perda de receita.
Uma delas é a criação de uma alíquota intermediária
de 10% na tabela, que atingiria a faixa salarial entre R$ 1.058 e R$ 1.300
(que passaria a isenta pelo relatório de Cambraia e hoje é
tributada em 15%). "A perda com essa proposta seria menor, mas essa
é apenas uma das alternativas", afirmava ontem Pimentel.
Segundo ele, a correção completa da tabela em 22,87% causaria
uma perda de arrecadação de R$ 3,45 bilhões anuais,
dos quais R$ 2,05 bilhões seriam absorvidos por estados e municípios.
"Estados e municípios não admitem perder nenhuma parte
de sua receita", diz Pimentel. "Outra proposta só surgirá
se tiver uma sinalização favorável dos governadores."
Conforto
Na semana passada, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), chegou a fazer uma defesa entusiasmada da classe média,
que segundo ele poderia receber um "conforto" com o aumento
do limite de dedução das despesas com educação,
hoje em R$ 1.998 por dependente. Na sexta-feira, entretanto, o petista
já reconhecia que a tendência da Câmara seria aprovar
o projeto original, sem concessões. "A base aliada gostaria
de uma correção na tabela, mas vai votar com o governo",
anunciou o vice-líder Professor Luizinho (PT-SP).
O objetivo dos governistas é votar a prorrogação
dos 27,5% hoje no plenário da Câmara. Antes, porém,
devem medir forças com a oposição na Comissão
de Finanças e Tributação, onde tramita o substitutivo
de Cambraia. A comissão se reúne hoje e, em tese, não
precisaria votar o relatório, mas o governo aposta numa última
tentativa de diálogo com o PSDB e o PFL antes de partir para o
confronto direto.
Fim da cumulatividade
da Cofins dará mais R$ 8,1 bi ao governo
BRASÍLIA - Estudo feito pela assessoria técnica do PSDB
mostra que a medida provisória (MP) que pôs fim à
cumulatividade da Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (Cofins) provocará um grande aumento de impostos. Com a
MP, a Cofins deverá arrecadar mais R$ 8,1 bilhões ao ano,
de acordo com uma projeção feita a partir da cobrança
do PIS sem a cumulatividade, que tem a mesma base de arrecadação.
A Cofins hoje arrecada R$ 35,6 bilhões; passaria para R$ 43,8
bilhões, segundo o exame feito pelo partido. Os tucanos elogiam
a decisão do governo de acabar com a cumulatividade da contribuição,
mas criticam a elevação da alíquota, que subiu de
3% para 7,6% em cima do faturamento das empresas.
"O fim da cumulatividade vinha sendo pedido pelos setores produtivos
há anos. Mas a alíquota foi aumentada demasiadamente",
diz o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), um dos responsáveis pela
análise da legenda, que será apresentada hoje à Executiva
Nacional tucana.
A MP da Cofins entrará na pauta da Câmara na próxima
semana. Conforme o estudo, em alguns setores de serviços, o aumento
da carga tributária será brutal, o que obrigará a
esfera produtiva a aumentar os preços para os consumidores. O ramo
educacional, por exemplo, teria de ampliar os valores em 7% para compensar
a elevação da carga de impostos. Hoje, desse campo de atividade,
a Cofins junta R$ 244 milhões. Passaria para R$ 808 milhões.
O setor de pesquisas e desenvolvimento teria de aumentar os preços
em 4,4%, o de correios e telecomunicações, em 3,9%, e o
de fabricação de material eletrônico e equipamentos
de comunicação, 2,8%. "O impacto será tão
grande que obrigará o setor produtivo a aumentar seus preços
nas proporções da elevação do imposto",
diz Paes.
O PT contesta a ampliação denunciada pelo PSDB. Para o
deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), relator da reforma
tributária na Câmara, o PSDB esquece-se de que o impacto
inicial é ilusório, porque, com o fim da cumulatividade,
a tendência será fazer com que haja uma queda contínua
na cobrança do imposto. "Essa conta não tem sentido
e os dados estão equivocados", diz.
"Evidentemente que o setor de serviços é muito diferente.
A Cofins passará a ser vista como crédito para a cadeia
produtiva subseqüente." Para Guimarães, o crescimento
da arrecadação da Cofins no primeiro ano é natural
porque não é mais cumulativa, o que a faz parecer grande,
de muito impacto. "No segundo ano, essa arrecadação
cairá, porque o setor produtivo terá créditos a receber
do governo federal. Acho que, em 2004, já haverá um impacto
positivo de receitas", afirma.
O PSDB, no entanto, informa que todos os cálculos foram feitos
com base na arrecadação do PIS sem cumulatividade, com a
percentagem de 1,65%; "Se tivesse sido adotada em 2003, a mudança
da Cofins poderia ter aumentado a arrecadação em mais de
R$ 8 bilhões, um acréscimo de 23%, equivalente a 0,7% do
faturamento bruto ou 1,4% do valor adicionado por todos os setores da
economia", diz Paes.
O presidente nacional do PT, José Genoino, também critica
o PSDB por fazer projeções a respeito do aumento da alíquota
da Cofins. "O PSDB é especialista em aumento da carga tributária
porque, durante os oito anos em que, ao lado do PFL, foi governo, a carga
tributária evoluiu de 26% do PIB (Produto Interno Bruto) para 36%.
Ou seja, em oito anos, o PSDB e seus aliados conseguiram elevar a carga
de imposto do Brasil em dez pontos porcentuais."

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