Quarta-feira, 10 de dezembro de 2003
TRIBUNA
DA IMPRENSA
Falta de acordo com PFL ameaça
votação da reforma tributária
BRASÍLIA - A falta de acordo entre o PFL e o governo
poderá atrasar ainda mais as votações da reforma
tributária no Senado. O líder da bancada, José Agripino
(RN), anunciou ontem que seus senadores deverão pedir vistas ao
relatório do senador Romero Jucá (PMDB-RR) hoje, adiando
a votação na Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ). Além disso, afirmou, poderão ser
apresentadas emendas ao texto, para prolongar a votação.
A base aliada quer concluir este processo para votar o primeiro turno
da reforma tributária em plenário ainda hoje.
Um telefonema do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, para
Agripino, e uma conversa pessoal com o senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA)
não foram suficientes para convencer o líder pefelista a
apoiar o acordo. Agripino apresentou ao líder do governo, Aloizio
Mercadante (PT-SP), a proposta para aumentar o repasse de recursos ao
Fundo de Participação dos Municípios (FPM) de 22,5%
para 25% da arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) e Imposto de Renda.
O PFL quer também a redução da alíquota da
Cofins, atualmente de 7,6%, incluída na Medida Provisória
135, e que o governo retire do texto da reforma tributária a cobrança
da Cofins e a Cide sobre as importações.
A decisão da bancada oposicionista surpreendeu o governo. Além
de o partido ter participado das negociações por intermédio
do senador Tourinho, Mercadante reclamou que as reivindicações
não haviam sido apresentadas durante as negociações.
O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), foi mais enfático.
"Ou o PFL aceita esse calendário de votações
ou vamos aproveitar enquanto ainda temos tempo para votar sem o seu apoio".
O governo conta com a possibilidade de votar a reforma hoje na CCJ, o
primeiro turno amanhã em plenário e o segundo turno na sexta-feira
ou na terça-feira seguinte, dia 16. Isso é fundamental para
o governo, pois a Constituição determina que a prorrogação
da CPMF e a Desvinculação das Receitas da União (DRU)
até 2007 só podem entrar em vigor em 2004 se aprovadas ainda
este ano.
Depois de uma reunião com José Dirceu, os líderes
governistas Mercadante e Renan deixaram o encontro dizendo que não
aceitam as propostas do PFL. Mercadante argumenta que a taxação
das importações é uma reivindicação
do setor produtivo para assegurar isonomia entre o produto brasileiro
e importado.
Renan por sua vez, afirma que o aumento do FPM reivindicado pelo PFL
"poderia arrebentar com o ajuste fiscal", uma vez que expandiria
o repasse de recursos federais em cerca de R$ 2,5 bilhões a mais
por ano.
Racha
O PFL já enfrenta as negociações rachado. Embora
Agripino afirme não ter sido comunicado sobre essa disposição,
os senadores da Bahia e do Maranhão, no total de cinco dos 17 pefelistas,
deverão apoiar o acordo. Os dois estados são beneficiados
com a manutenção da guerra fiscal pelos incentivos fiscais
já concedidos em seus estados. Além deles, estaria favorável
ao acordo o senador João Ribeiro
(TO).
Atendido em suas principais reivindicações, o PSDB assumiu
um tom conciliatório. "Está na hora de trabalhar para
votar, mas o PSDB não vai abandonar o PFL e vai assegurar o entendimento
com o governo", disse o líder tucano, Arthur Virgílio
(AM), ao reconhecer que seu partido não pode votar contra o texto
acertado entre os líderes partidários.
Votação
da Previdência deve ser concluída hoje
BRASÍLIA - Depois de sete meses de ter sido enviada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso, a reforma da Previdência
deverá ser concluída hoje com a votação em
segundo e último turno pelos senadores. A falta de acordo na reforma
tributária respingou na Previdência e quase pôs em
risco a votação prevista para hoje.
A oposição apresentou emendas de redação
à reforma previdenciária, obrigando que a proposta retornasse
para análise da Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado. Mas os líderes do governo entraram
em campo e marcaram para ontem à noite uma sessão extraordinária
da CCJ permitindo, assim, que a votação seja concluída
hoje pelo plenário do Senado.
"Acho que dá para votar esta semana", disse o líder
do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Votar amanhã
(hoje) ou na semana que vem não faz diferença. O governo
deveria pegar todas as suas energias e jogar na reforma tributária",
afirmou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). "Estamos
apresentando emendas para marcar posição. É um direito
regimental que nós temos. Que diferença faz aprovar amanhã
(hoje) ou na semana que vem a reforma da Previdência?", indagou
o líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN).
Segundo o líder do PT e relator da reforma da Previdência,
senador Tião Viana (AC), as emendas apresentadas pela oposição
não mexem no mérito da reforma. "São apenas
emendas que corrigem ponto e vírgulas", disse. Durante toda
a tarde de ontem, Tião Viana tentou chegar a um entendimento com
os senadores do PFL e do PSDB para que as emendas fossem retiradas e a
reforma não precisasse retornar à CCJ. Mas a oposição
não concordou. "A tentativa de acordo foi por água
abaixo e, por isso, vamos fazer uma sessão extraordinária
da comissão", afirmou o presidente da CCJ, senador Edison
Lobão (MA).
Depois da aprovação da reforma da Previdência, o
governo se concentrará na votação da emenda paralela
ao texto principal da proposta previdenciária. A chamada proposta
de emenda constitucional (PEC) paralela contém os pontos negociados
pelos senadores com a administração federal, que alteram
a reforma da Previdência. Pelo calendário dos líderes
aliados ao Palácio do Planalto, a emenda paralela deverá
ser votada, em primeiro turno, na segunda-feira. O segundo turno deverá
ocorrer até o dia 22, antes do recesso parlamentar.
Assim que a votação for concluída no Senado, a emenda
paralela seguirá para a análise dos deputados. Os senadores
pressionam para que o Poder Executivo convoque o Congresso para trabalhar
em janeiro, a fim de que a Câmara conclua a votação
da emenda paralela. Mas os deputados estão contra a convocação.
"Vamos votar essa emenda com rapidez", limitou-se a dizer o
presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

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