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terça-feira, 01 de julho de
2003
Folha de São Paulo
PREVIDENCIÁRIA
Bancada de deputados federais do partido já
redigiu sete das nove emendas que serão apresentadas até
sexta
PT quer mudar aposentadoria de políticos
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A bancada de deputados federais do
PT concluiu ontem a redação de sete das nove emendas que
vai apresentar até sexta-feira à reforma da Previdência
e incluiu um tema de última hora: quer acabar com as aposentadorias
especiais de vereadores, deputados, senadores e chefes do Executivo.
Os detalhes dessa nova proposta serão
discutidos hoje em reunião da bancada. Sua aprovação
seria um contrapeso a ser usado por aqueles petistas que reclamam da impopularidade
de vários pontos da reforma.
As emendas não afrontam a proposta
do Executivo, mas propõem mudanças que têm por objetivo
diminuir o impacto das alterações sobre o funcionalismo,
importante base eleitoral do PT.
A tributação dos servidores
inativos que ganham acima de R$ 1.058, por exemplo, sofreu forte bombardeio
dos petistas no Congresso. A emenda redigida ontem, que já começou
a receber assinaturas, prevê uma faixa de isenção
maior para o funcionalismo federal, de R$ 2.400; ela mantém a faixa
de R$ 1.058 para Estados e municípios, mas permite que eles alterem
esse limite para cima.
As outras emendas propõem regras
que supervalorizam a contribuição ao serviço público
no cálculo da aposentadoria, amenizam o aumento da idade mínima
para a aposentadoria e a redução das pensões, abrem
a possibilidade de aumento real do teto do regime geral da Previdência
(R$ 2.400, pela proposta), mantêm a aposentadoria especial para
professores e parte do sistema atual de paridade entre o reajuste dos
servidores ativos e inativos.
Os petistas discutirão hoje
a proposta de emenda que possibilita a criação de fundos
públicos e fechados de Previdência. Apesar de as emendas
serem defendidas pelo maior partido governista na Câmara, elas terão
que passar pelo aval do governo para serem acrescentadas ao parecer do
relator José Pimentel (PT-CE).
Acatadas as sugestões, é
grande a chance de que elas sejam atribuídas à base aliada,
que também apresentou emendas ao texto.
O deputado Nelson Pellegrino (PT-BA),
líder do PT na Casa, confirmou ontem que as eventuais mudanças
serão negociadas com a base aliada e defendeu outras alterações
que não estão incluídas nas emendas petistas, como
o aumento do subteto salarial do Judiciário nos Estados.
Pellegrino defendeu também
que esses acertos contem com a participação da liderança
do governo no Senado, para evitar possíveis alterações
futuras nos pontos aprovados na Câmara.
Ontem, dia em que o Congresso normalmente
fica vazio, houve quórum. Marcaram presença 89 deputados
até as 14h30. A liderança do governo na Casa passou o final
de semana ligando para deputados da base aliada como forma de evitar o
ocorrido na semana passada, quando não houve a presença
mínima de 52 dos 513 deputados para a realização
das sessões de segunda e de sexta-feira.
Isso atrasou o cronograma de apreciação
das reformas, que é contado em número de sessões.
PREVIDÊNCIA
Pela projeção do governo, déficit
em 2032 pode baixar para R$ 8,84 bi, contra R$ 13,5 bi com as regras atuais
Reforma pouparia R$ 6 bi em três
anos
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A reforma da Previdência, se
aprovada como o governo pretende, vai reduzir em pouco mais de R$ 6 bilhões
os gastos com aposentadorias e pensões de funcionários públicos
civis nos próximos três anos, até o fim do mandato
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Estão incluídos no cálculo
a cobrança de contribuição de inativos (R$ 900 milhões
por ano) e o fim da aposentadoria integral -os pontos mais polêmicos
da reforma encaminhada pelo governo ao Congresso em abril.
Já nos primeiros 12 meses pós-reforma,
parte dos trabalhadores do setor privado vai pagar uma conta extra de
R$ 1,9 bilhão por causa do novo teto de benefícios, de R$
2.400. Os números são estimativas feitas pelo Ministério
da Previdência, mas essa segunda parte não é contabilizada
oficialmente como impacto da reforma. A arrecadação extra
será bancada por cerca de 2,35 milhões de trabalhadores
da iniciativa privada.
"A proposta não teve,
em nenhum momento, objetivo fiscal", disse o ministro Ricardo Berzoini
(Previdência) sobre o novo teto, que valerá para futuros
servidores públicos e vai demorar alguns anos até ser repassado
integralmente aos aposentados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
que já contribuem pelo teto.
O aumento da contribuição,
porém, tem efeito imediato e vai ajudar a reduzir o rombo nas contas
do Regime Geral. O dinheiro a ser economizado no pagamento de benefícios
aos servidores seria teoricamente dirigido a outros gastos, como investimentos
públicos. Neste ano, o Orçamento da União prevê
investimentos de mais de R$ 14 bilhões, dos quais foram pagos menos
de R$ 200 milhões até meados deste mês.
A proposta de emenda constitucional
em debate no Congresso, chamada de PEC 40, acaba com a aposentadoria integral
dos servidores públicos, aumenta a idade para acesso ao benefício,
reduz o valor das pensões e cria a contribuição de
inativos.
A diferença entre o que os
servidores e a União contribuem e os benefícios pagos aos
aposentados e pensionistas cairá nos próximos anos, mas
a conta não sairá do vermelho com a reforma. "Só
haveria uma chance de zerar esse déficit: a ruptura institucional,
o calote. E isso não está em questão", afirma
Berzoini.
Aos dados: mantidas as regras atuais
de aposentadoria dos servidores públicos civis, o Tesouro irá
desembolsar R$ 14,3 bilhões em 2004 para cobrir a conta. O déficit
cresce até 2012, quando alcança R$ 16 bilhões, e
cai para R$ 13,5 bilhões em 2032. Isso tudo são estimativas
sem a reforma.
O Ministério da Previdência
traçou quatro cenários para o desempenho das contas públicas
em consequência da PEC 40. Como os atuais servidores podem optar
entre esperar até os 60 anos (homens) e os 55 anos (mulheres) ou
se aposentar com um benefício menor mais cedo (a partir dos 53
anos e dos 48, respectivamente), o governo trabalha com hipóteses
de adesão entre 50% e 70% à nova regra. As estimativas também
levam em conta a criação ou não do fundo de previdência
complementar dos servidores, que a emenda constitucional se limita a autorizar.
A economia a ser produzida até
o final do mandato de Lula, em 2006, varia de R$ 6,03 bilhões a
R$ 6,35 bilhões, dependendo do cenário. Ao longo de 28 anos,
as novas regras de aposentadoria do setor público civil reduziriam
os gastos em algo entre R$ 47,27 bilhões e R$ 55,27 bilhões.
Na melhor das hipóteses, restará, em 2032, um déficit
entre R$ 8,84 bilhões e R$ 10,18 bilhões.
Em todos os cenários, a economia
cresce no mandato do sucessor do presidente Lula e ainda mais no mandato
do sucessor do sucessor. Os dois cenários que não prevêem
aportes da União para fundos de previdência complementar
dos servidores, na qualidade de empregador, são os que proporcionam
menos gastos.
Já no ano que vem, a reforma
faria o governo deixar de gastar algo entre R$ 1,37 bilhão e R$
1,40 bilhão com as aposentadorias dos servidores civis. Embora
tenha tornado a proposta mais abrangente entre as duas reuniões
de governadores que definiram o rumo da reforma da Previdência,
o impacto agora aparece menor.
As projeções do governo
não levam em conta os gastos com aposentadorias e pensões
dos militares. As propostas de mudança nesse sistema de aposentadorias,
que deveriam acompanhar a reforma dos servidores civis, seguem indefinidas.
As estimativas têm como base
apenas parte dos gastos com o Poder Judiciário porque o governo
não tem acesso a todos os dados dos juízes.
Berzoini sugere IR maior
para "superpensões"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Previdência,
Ricardo Berzoini, lançou ontem na reunião do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva com os governadores a idéia de
criar uma alíquota maior do Imposto de Renda das pessoas físicas
para incidir sobre as chamadas "superaposentadorias".
Governadores gostaram da sugestão,
apesar de ela não ter constado do resumo da reunião e de
também não ter ficado registrado o compromisso de vir a
ser discutida no curto prazo.
Berzoini fez a sugestão quando
o governador Ronaldo Lessa (PSB-AL) reclamou que pagava pensões
e aposentadorias altas. "Pago pensão de R$ 22 mil", queixou-se
Lessa.
Berzoini, então, sugeriu que
fosse criada uma alíquota alta de Imposto de Renda para atingir
as altas aposentadorias. Segundo o
ministro, poderia haver um mecanismo para o repasse desse imposto para
os Estados, ainda que parcialmente. No entanto, ele não detalhou
o mecanismo. Hoje, já há cobrança de Imposto de Renda
sobre aposentadorias.
(KENNEDY ALENCAR)

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