quinta-feira, 17 de julho de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA NO AR
Paridade entre ativos e inativos, porém, continua
indefinida
Estados cedem e aceitam aposentadoria
integral
DA AGÊNCIA FOLHA
Governadores disseram ontem que aceitam manter o direito à aposentadoria
integral para os atuais servidores públicos, nos moldes da proposta
para a reforma da Previdência feita anteontem pelo governo federal
em reunião com cinco governadores (RS, MG, GO, AM e RN), representantes
de cada região do país.
Os governadores, no entanto, não fecharam questão sobre
a paridade, mecanismo pelo qual os aposentados recebem os mesmos reajustes
dos servidores da ativa.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), coordenador
da região Sudeste nas negociações com o Planalto,
afirmou que a "ampla maioria" dos Estados é favorável
à aposentadoria integral para os atuais servidores. "Há
um sentimento da maioria dos governadores de que isso, apesar das perdas
dos Estados, não seria intolerável", disse ele. Aécio
diz, porém, que não há consenso em relação
à paridade e à manutenção integral das pensões.
Só os representantes das regiões Norte (Eduardo Braga,
PPS-AM) e Nordeste (Wilma de Faria, PSB-RN) disseram que há consenso
em suas áreas contra a paridade.
Nas outras três regiões, não houve consenso nesse
tema. O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), representante
do Sul, declarou que havia unanimidade apenas quanto a aceitar a aposentadoria
integral para os servidores.
O relator da reforma da Previdência na Câmara, José
Pimentel (PT-CE), incluía na proposta, até ontem à
noite, tanto a aposentadoria integral quanto a paridade, ambas somente
para os atuais servidores.
Concessão
O apoio dos governadores à aposentadoria integral foi justificado
por alguns deles como uma "concessão" para facilitar
a aprovação da reforma.
"Continuo não concordando com a integralidade. No entanto,
em qualquer negociação, as partes têm de ceder um
pouco", disse o governador da Bahia, Paulo Souto (PFL). Em relação
à paridade, disse que é totalmente contrário. "Com
paridade e integralidade, a reforma não existe."
Representante do Nordeste, Wilma de Faria (PSB-RN) disse que conversou
ontem com outros chefes de Estado da região e que está sendo
configurado um consenso a favor da integralidade.
O governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), disse
ser a favor da integralidade para os atuais servidores, ressalvando que
"essa é a concessão limite". Para o tucano, houve
antecipação do governo nas negociações, e
agora ele tem que fazer concessões.
Essência da reforma
Da mesma forma que o governador baiano, Alcântara disse que é
contra a paridade. "Isso, sim, fere a essência da reforma."
Segundo Eduardo Braga (PPS-AM), a paridade impediria o fechamento das
contas da Previdência. Ele disse que os governadores do Norte também
querem que o redutor para as pensões seja mantido nos 30% da proposta
original, e não em 50%, como se discute no Congresso. As demais
alterações serão aceitas. "Todas as modificações,
desde que o governo nos mostre os cálculos atuariais fechados,
serão aprovadas pelos governadores", disse Braga.
Em nota oficial, o governador goiano, Marconi Perillo (PSDB), representante
do Centro-Oeste, disse: "Todos concordam com a posição
favorável ao entendimento do governo federal de que a integralidade
deva permanecer para os atuais servidores públicos com as novas
regras".
Sobre a questão da paridade, disse que há "divergências",
pois "uns são contra, e outros, a favor".
"Eu comuniquei ao ministro José Dirceu [Casa Civil] que os
governadores [do Centro-Oeste] não se manifestariam neste momento
em relação à paridade."
Colaborou a Sucursal de Brasília
Tasso critica "fraquejo"
do governo federal
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) defendeu ontem em Belo Horizonte,
onde se reuniu com o governador Aécio Neves (PSDB-MG), que na discussão
da reforma da Previdência o governo sustente o texto inicial, sem
mudanças. E afirmou ainda que o PSDB pode até bancar o embate,
diante do "fraquejo" governista.
"Se os líderes governistas estão fraquejando, nós
podemos mostrar ao país que a gente pode fazer uma oposição
com muita responsabilidade", afirmou.
O senador disse que a Previdência é o "grande empecilho"
para o crescimento do país. "Não se pode prejudicar
o futuro do país em nome de alguns."
Tasso afirmou que o governo teve "bastante coragem" na construção
do texto que está no Congresso, mas falta unidade à base
governista para sustentar o que foi proposto inicialmente.
Mas a posição do PSDB na reforma não será
isolada. Tasso disse que o partido deverá caminhar com os governadores.
"Os governadores exercem uma liderança, e uma conversa como
essa com o Aécio Neves é muito importante para a nossa decisão."
(PP)
REFORMA NO AR
Dirceu é contra paridade e subteto maior para
Judiciário estadual
Texto do relator contraria orientações
do governo
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A versão do parecer da reforma da Previdência mantida até
a noite de ontem pela base aliada do governo na Câmara contraria
o governo ao manter a paridade de reajuste entre salários e aposentadorias
dos atuais servidores e aumentar o subteto salarial do Judiciário
nos Estados de 75% para 90,25% dos vencimentos de um ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal).
A integralidade (salário integral na aposentadoria) foi mantida
para os atuais servidores desde que respeitadas condições
como tempo na carreira, tempo de serviço público, idade
mínima e período de contribuição. Os futuros
servidores ficaram, pela versão, sem paridade e sem integralidade.
A Folha teve acesso à versão, que representa o entendimento
acertado pela base aliada, mas que contraria não só pontos
defendidos pelo governo, como posturas assumidas pelos governadores -no
caso da paridade e do subteto-, que seriam os responsáveis em dar
o aval para qualquer mudança na reforma, de acordo com as palavras
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, que chegou na madrugada vindo da Europa, se reúne hoje às
9h com ministros e com os congressistas para tentar fechar um acordo em
torno do texto, que pode e deve ser alterado até a sua leitura
no plenário, prevista também para hoje as 11h.
Pensões
Além dos dois temas citados acima, o relatório deixava em
aberto a alteração na questão da redução
das pensões, ponto que era dado como consensual pela maioria dos
envolvidos. A proposta original do Executivo prevê a redução
das novas pensões para até 70% do valor do salário
da ativa. A proposta de alteração que estava sendo acordada
não reduzia as pensões de até R$ 2.400.
O fato novo é que os governadores bateram muito no acordo, afirmando
que a faixa de isenção praticamente anula a possibilidade
de os Estados terem ganho fiscal. Estudava-se ontem um possível
meio-termo, que seria reduzir a faixa isenta para R$ 1.058.
Já a paridade enfrenta resistência no governo e não
agrada aos governadores. O ministro José Dirceu havia tentado ontem
demover os deputados de manter a questão no parecer, mas não
havia obtido sucesso até a noite.
O aumento do subteto salarial constante do parecer também contraria
declarações do próprio Dirceu, que chegou a descartar
ontem publicamente a alteração, atendendo novamente o pedido
dos governadores.
A Folha questionou algumas lideranças do governo e da base aliada
na Câmara sobre o parecer e a avaliação geral foi
a seguinte: o relatório de ontem representa o que a base aliada
quer e, se for demolido, pode criar uma reação entre os
congressistas além de reforçar a reclamação
geral de que o Legislativo está se submetendo aos governadores.
Apesar disso, todos afirmaram que a tendência é a de que
o relator da reforma, José Pimentel (PT-CE), acate qualquer sugestão
definida pelo presidente. A questão da paridade é a mais
delicada. Os líderes avaliam que, se ela ficar de fora, a repercussão
será péssima na base.
PM
Em reunião realizada na noite de ontem pela coordenação
da bancada do PT -que teve a participação do relator Pimentel-,
os deputados do partido confirmaram os pontos do parecer ao qual a Folha
teve acesso e acrescentaram alguns detalhes.
Um deles é a inclusão da Polícia Militar e dos Bombeiros
nas regras da proposta, com a ressalva de que a idade mínima para
eles será definida por meio de projeto de lei complementar. Essas
categorias, como os militares, estavam de fora da proposta. Os militares
continuam de fora.
"Não se pode achar que a opinião do presidente da
República é importante. Se ele disser que não dá,
vamos ter que parar e conversar", disse Nelson Pellegrino (BA), líder
da bancada do PT.
Parecer não contempla reivindicações
da CUT
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de terem anunciado durante o dia de ontem que haviam encampado
as propostas de alteração da reforma da Previdência
feitas pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), os deputados
federais da ala governista do PT não brigaram por sua inclusão
no parecer fechado na noite de ontem em reunião da coordenação
política do partido na Câmara.
As propostas de alteração defendidas pela CUT nos últimos
dias são basicamente três: o aumento da faixa de isenção
da contribuição previdenciária dos servidores inativos
de R$ 1.058 para R$ 2.400, o aumento do teto de aposentadoria de R$ 2.400
para R$ 2.700 e uma flexibilização da aplicação
do redutor salarial de 5% ao ano para os servidores que decidirem se aposentar
antes da idade mínima.
No texto fechado ontem à noite, fruto de acordo entre os líderes
da base aliada do governo na Câmara, a CUT foi contemplada só
com um protocolo para a apresentação de um projeto de lei,
no prazo de 60 dias, incluindo 40 milhões de pessoas que estariam
excluídas atualmente da Previdência.
REFORMA NO AR
Manutenção da paridade de reajuste entre
ativos e inativos causa discórdia entre José Dirceu e João
Paulo
Relatório opõe governo
e base na Câmara
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Na véspera da apresentação do relatório da
reforma da Previdência na Câmara, o governo e sua base aliada
ainda estavam divididos em relação ao texto final.
Enquanto o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP),
e deputados governistas defendiam a paridade dos reajustes entre servidores
ativos e inativos, o governo é contra a proposta.
A manutenção da paridade para os atuais servidores é
um ponto que não agrada aos governadores nem ao Palácio
do Planalto, principalmente aos ministros José Dirceu (Casa Civil)
e Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Apesar disso, a versão do parecer mantida até ontem pelo
relator da reforma, José Pimentel (PT-CE), previa a paridade. Até
as 11h de hoje, porém, que é o horário previsto para
a leitura do parecer, o conteúdo pode ser alterado.
"A proposta não é igual à original. Todos os
servidores, inclusive os magistrados que estão no serviço
público, terão a paridade e muito possivelmente a integralidade
[aposentadoria igual ao salário da ativa]", disse João
Paulo.
O deputado e os líderes dos partidos aliados ao governo escutaram
de Dirceu que a paridade deveria ficar fora do relatório porque
sofre também a oposição da maioria dos governadores.
Apesar disso, os deputados disseram a Dirceu, num café da manhã
na casa de João Paulo, que já tinham se comprometido com
em defender a paridade.
"A base aliada decidiu reafirmar a posição de que
quer incluir no relatório a paridade e a integralidade. Dirceu
ficou de conversar com Lula e dizer que é essa a nossa posição",
afirmou o deputado Nelson Pellegrino (BA), líder da bancada do
PT. "Ficamos quatro meses sendo informados do que o governo quer
e do que vai fazer. Decidimos dizer ao governo o que a base aliada quer
e o que vai fazer", disse Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder
do governo.
"Se vão fazer isso, saibam que somos contra e que deixamos
isso claro", teria dito Dirceu, de acordo com o relato de presentes.
Ainda segundo os deputados, o ministro afirmou que dificilmente convenceria
Lula da necessidade da paridade. O ministro Ricardo Berzoini (Previdência)
fez ontem uma defesa técnica da paridade, afirmando que ela beneficiaria
os Estados (veja texto ao lado).
O posicionamento dos aliados ontem teve origem na quarta da semana passada,
quando o governo autorizou os deputados a negociar a paridade e a integralidade
para atuais e futuros servidores (proposta do Judiciário).
A reação contrária dos governadores e o consequente
recuo do governo causou um mal-estar entre os congressistas, que se sentiram
preteridos na negociação.
Resistência
Com isso, parte da base aliada começou a organizar uma "resistência"
ao recuo. Numa reunião anteontem, João Paulo solicitou a
36 deputados federais do setor governista do PT que não vacilassem
na posição.
A bancada do partido se reuniu ontem com Dirceu e Berzoini para tentar
resolver esse e outros pontos. Os ministros ouviram dos petistas reclamações
acerca da condução política da reforma.
Eles dizem que nenhuma das emendas apresentadas pelo partido foi considerada.
E reclamam que só ontem foram procurados pelo governo. (RB E FK)
Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, enviado a Brasília
Berzoini diz que paridade
ajuda Estados
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) fez ontem uma defesa
da manutenção da paridade para os atuais servidores.
Depois de se reunir com a bancada petista na Câmara, ele também
sinalizou com um "agrado" para o Poder Judiciário, que
pode ter um fundo de pensão específico para complementar
as aposentadorias de seus futuros servidores.
A base aliada quer a paridade para os atuais servidores, embora isso
não tenha sido bem recebido pelos governadores. A paridade existe
hoje no serviço público e garante reajustes iguais e na
mesma data para servidores ativos e inativos.
Para Berzoini, não há obstáculo de ordem conceitual
ou fiscal para a proposta. Apesar de dizer isso agora, a paridade não
estava contemplada no projeto original (PEC 40).
Para o ministro, a paridade para os atuais servidores beneficiaria os
Estados. Sem ela, os benefícios devem ser reajustados pela inflação,
segundo a proposta original.
"A paridade é um mecanismo melhor para os governantes e pior
para os servidores. Mas é reivindicação dos sindicatos
por uma questão cultural e histórica", disse o ministro,
lembrando que, se não houvesse paridade, o governo estaria gastando
mais com seus aposentados.
Dirceu descarta elevar subteto para
Judiciário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Casa Civil, José Dirceu, descartou ontem uma das
reivindicações prioritárias do Judiciário
na reforma da Previdência, a de aumentar o subteto salarial previsto
para a magistratura nos Estados.
"A proposta de subteto aprovada na CCJ é a proposta que o
governo e os governadores vão defender no Congresso Nacional",
afirmou o ministro após reunião com a bancada do PT.
Apesar disso, o aumento do subteto constava da versão mantida
até a noite de ontem do parecer da reforma que será lido
hoje no plenário. Se o governo derrubar o aumento do subteto na
apresentação do parecer que será lido hoje às
11h, na Câmara, pode criar nova crise com o Judiciário.
A negativa de Dirceu em aumentar o subteto atende à pressão
de governadores que buscam alívio nos gastos com pessoal. Pela
proposta anterior, haveria três subtetos salariais para o funcionalismo
nos Estados, um para cada Poder. O Judiciário teria como limite
75% do maior salário do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Essa proposta emplacou durante tramitação da reforma na
CCJ da Câmara por pressão do Judiciário: o texto original
do Executivo previa apenas um subteto nos Estados, vinculado ao salário
dos governadores. Apesar da vitória, os juízes pressionaram
para que o limite subisse de 75% para 90% do salário do ministro
do Supremo.
A dor de cabeça do governo pode aumentar devido ao fato de que
o aumento do subteto já era dado como certo pela liderança
do governo na Câmara e pelos representantes do Judiciário.
A pressão do Judiciário surtiu efeito e o aumento para 90,25%
foi colocado pelo relator da reforma da Previdência na última
versão do parecer.
Durante a reunião, Dirceu declarou, segundo os deputados, que
o governo definiu a data de hoje como a última em que a reforma
sofrerá mudanças: "Quero deixar clara uma coisa, e
vocês sabem que eu sempre falo com franqueza: o que for lido amanhã
[hoje] no plenário da Câmara [o parecer] é o acordo
fechado com a base aliada e com os governadores e vai ser levado até
o fim para a votação no plenário". (RB)
Paralisação
pode afetar portos, aeroportos e BC
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fracassadas as tentativas de convencer o governo a retirar do Congresso
a proposta de reforma da Previdência, os servidores em greve querem
paralisar hoje áreas estratégicas -a vigilância sanitária
em portos e aeroportos, a distribuição de dinheiro e a mesa
de câmbio do Banco Central.
Ontem, os organizadores da greve contabilizavam 55% de adesão
no país. O governo não informou os índices da paralisação.
"Achamos esdrúxula a definição de uma instância
de negociação chamada "reunião com os governadores'",
afirmou Vicente Neto, da Fasubra (servidores de universidades).
Mais cautelosos, sindicatos de juízes federais e do trabalho preferem
aguardar o parecer do deputado José Pimentel (PT-CE), relator da
reforma, que será apresentado hoje. No entanto, desde já
avisavam: se não for mantida a integralidade (salário integral
na aposentadoria) para os futuros servidores, pretendem "recrudescer
as ações".
"Estamos procurando nos posicionar com cautela. Mas, se vier alguma
coisa extremamente danosa, não descartamos radicalizar a posição",
afirmou Paulo Sérgio Domingues, presidente da Ajufe (juízes
federais).
A paralisação do Banco Central e da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) vem sendo discutida desde
que teve início a greve, no último dia 8. A idéia
é mostrar ao governo que os servidores públicos são
capazes de parar o país.
"Já organizamos a paralisação das vigilâncias
sanitárias em portos e aeroportos e finalizamos a negociação
com o Banco Central", afirmou Gilberto Jorge Cordeiro Gomes, da Condsef
(servidores federais).
Negociação
Pimentel conversou ontem com os sindicalistas, mas eles não saíram
satisfeitos do encontro. Segundo os grevistas, o texto do parecer já
estava pronto e não adiantava reclamar.
"Todas as reuniões têm efeito, nem que seja para um
processo de irritação comum, de todo mundo", afirmou
Luiz Marinho, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
O propósito da reunião era "dar um retorno, conversar"
sobre o que já havia sido decidido pelos líderes partidários,
segundo José Pimentel. "O parecer foi construído com
sugestões dos líderes da base do nosso governo."
Uma manifestação convocada pelos servidores em protesto
contra a leitura do relatório que ocorreria ontem na Câmara
dos Deputados frustrou as expectativas.
Os organizadores esperavam até 5.000 pessoas, mas foram apenas
cerca de 350, segundo estimativas da Polícia Militar.
Das 11 entidades filiadas à Cnesf (Coordenação Nacional
de Entidades de Servidores Federais), apenas quatro integraram o protesto.
Os manifestantes caminharam pela Esplanada até a sede do Ministério
da Previdência.
Colaborou CAMILO TOSCANO, da Sucursal de Brasília
Greve no Incra afeta reforma agrária
em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Os funcionários do Incra (Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária) paralisaram ontem por tempo indeterminado suas
atividades no Estado de São Paulo, em protesto contra a reforma
da Previdência encaminhada ao Congresso pelo governo Lula.
Com a greve no Incra, ficam suspensos 40 processos para desapropriação
de terras para fins de reforma agrária no Estado, a análise
de cerca de 4.000 pedidos de concessão de crédito para assentados
e a expedição de certidões de cadastro de imóvel
rural.
"Até agora, o governo federal não abriu negociação
efetiva com o comando de greve em Brasília", disse ontem o
diretor do Sindsef (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público
Federal, filiado à CUT), Sinésio Sapucahy Filho, 48.
O Incra de São Paulo -Estado que registra um dos principais focos
de conflito agrário, o Pontal do Paranapanema, onde também
está localizado o maior acampamento de sem-terra do país,
com cerca de 4.000 famílias- conta com apenas 92 funcionários.
De acordo com o Sindsef, 90% dos funcionários aderiram à
greve.
A assessoria de comunicação do Incra-SP informou que o
superintendente regional, Raimundo Pires Silva, viajou a trabalho ontem,
mas autorizou dizer à imprensa que a greve dos servidores "é
um direito" e que "logo eles retornarão ao trabalho".
O órgão não estimou índice de adesão
à greve.
Mesmo parado, o Incra paulista deverá receber hoje o ministro
Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), em um seminário
sobre o PPA de 2004-2007.
(RUBENS VALENTE)

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