terça-feira, 05 de agosto de
2003
Folha de S.Paulo
REFORMA SOB PRESSÃO
Planalto dispõe de R$ 2 bi para emendas de parlamentares
Governo acena com verbas e cargos para
aprovar reforma
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Planalto armou uma estratégia para aprovar a reforma da Previdência
que prevê o atendimento de pedidos de verbas orçamentárias
e de cargos feitos por congressistas. O mapa das verbas foi confeccionado
na subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil da Presidência
da República, sob o comando do ex-deputado Marcelo Barbieri (PMDB-SP).
Relaciona as emendas de interesse dos deputados e das bancadas estaduais
de acordo com prioridades de atendimento.
A promessa do Planalto é de liberá-las ao longo das próximas
semanas, durante a votação das reformas constitucionais.
Só de restos a pagar referentes ao Orçamento de 2002 o
governo dispõe de cerca de R$ 2 bilhões para emendas de
parlamentares, ainda não atendidas.
A liberação dessas verbas é uma das principais reivindicações
de deputados da base aliada do governo para votar a reforma. Mas há
queixa de atraso.
Os líderes partidários voltaram a pressionar o governo,
nos últimos dias, por uma aceleração na liberação
do dinheiro do Orçamento previsto para as emendas.
A liberação começou pelo Ministério da Saúde:
R$ 3,7 milhões para obras de saneamento em 34 cidades das cinco
regiões do país, a maior parte no Norte e Nordeste. A expectativa
da Câmara aumentou ontem com o lançamento, no sistema de
execução financeira da União de um empenho de R$
2 milhões para obras do açude Castanhão, uma emenda
da bancada do Ceará.
O empenho significa, em outras palavras, que o governo se comprometeu
em fazer o gasto. O passo seguinte é a execução do
gasto.
Prioridades
No mapa do Planalto, as emendas dos congressistas são relacionadas
por ordem de prioridade. Cada deputado pode apresentar até R$ 2
milhões em emendas para obras nos Estados.
A partilha dos recursos prevê que R$ 1,2 bilhão será
destinado para atender as emendas individuais dos congressistas, em três
etapas. Deputados e senadores deverão apontar as cinco obras prioritárias
de cada um. Cerca de R$ 800 milhões também começaram
a ser liberados para atender às emendas de bancada, de interesse
dos Estados. Esse é o caso da verba para o açude de Castanhão.
Há queixa de atrasos também na liberação
dos cargos de até terceiro escalão. Os pedidos dos partidos
foram mapeados pelo secretário de Organização do
PT, Sílvio Pereira. A exemplo das emendas ao Orçamento,
também há critérios para a nomeação
dos indicados: idoneidade, competência e, sobretudo, defender o
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A promessa é
fazer as nomeações solicitadas depois de votada a reforma
em primeiro turno.
O partido que mais se queixa de promessas não cumpridas é
o PMDB, que aguarda a nomeação de pelo menos 20 indicações
já feitas. A expectativa do partido é que elas saiam entre
o primeiro e o segundo turnos da votação da Previdência.
O PMDB joga ainda com a possibilidade de o governo antecipar a reforma
ministerial para o final de agosto ou início de setembro, quando
espera ocupar pelo menos duas pastas.
O PTB e o PL têm queixas, mas devem acompanhar o governo nas votações
da reforma da Previdência, porque apostam que serão recompensados
mais adiante.
A votação em primeiro turno da reforma previdenciária
é o primeiro teste real da base de sustentação montada
pelo governo na Câmara dos Deputados.
Mesmo que seja votado um texto de comum acordo entre os líderes,
a oposição provocará votações para
medir a extensão do apoio e da insatisfação dos governistas
com o Planalto, mesmo sabendo que deve ser derrotada.
Entre as votações que a oposição quer provocar
em separado na Câmara está a contribuição dos
inativos do funcionalismo.
Governistas avaliam
que emenda passará na Câmara com 400 votos
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Os líderes do governo Lula na Câmara dos
Deputados esperam aprovar a reforma da Previdência Social com uma
média de 400 votos, 92 de folga em relação ao mínimo
necessário para aprovar uma emenda constitucional na Casa: 308
votos (ou três quintos dos 513 deputados federais).
O cenário foi fechado na manhã de ontem em consulta telefônica
aos líderes de todos os partidos e seria apresentado ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A expectativa dos governistas é que o relatório do deputado
federal José Pimentel (PT-CE) será aprovado com o apoio
de 380 a 420 deputados federais na votação que deve ocorrer
entre hoje e amanhã no plenário da Câmara.
A única possibilidade de esse cenário mudar, avaliavam,
seria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não acatar
nenhuma das reivindicações de alteração do
relatório feitas pela base palaciana na Câmara, que seriam
discutidas em reunião na noite de ontem no Palácio do Planalto.
Caso o cenário ideal para a base aliada se concretizasse na noite
de ontem, os únicos votos contrários dos partidos aliados,
na contabilidade dos líderes governistas, partiriam das pequenas
alas do PMDB, do PP e do PTB que se opõem ao governo Lula, dos
três deputados chamados de "radicais" do PT, Babá
(PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (CE), e do PDT de Leonel
Brizola, partido que integra oficialmente a base governista, mas que há
muito tempo se posiciona como oposição ao Palácio
do Planalto.
Oposição
A contabilidade de votos da liderança governista conta também
com cerca de metade dos votos dos oposicionistas PFL e PSDB, que somam
129 deputados. A pressão dos governadores, principais avalistas
das reformas, e o fato de o PSDB ter defendido a reforma da Previdência
na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso são os
principais trunfos dos líderes governistas.
"Não haverá oposição ferrenha do PSDB
e do PFL, eles tendem a fazer discurso contrário, a bater, mas
não vão criar problemas", afirmou o deputado Paulo
Bernardo (PT-PR), um dos interlocutores do Planalto na Câmara.
A estratégia do governo prevê, pelo menos, encerrar ainda
hoje a fase de discussões do relatório do deputado José
Pimentel (PT-CE), que seria apresentado em plenário com as emendas
do acordo que seria costurado entre os líderes do governo e o presidente.
Havia a expectativa de tentar votar ainda hoje o relatório, buscando
evitar maiores pressões dos servidores públicos que prometem
fazer uma marcha em Brasília contra a reforma da Previdência.
Nessa estratégia, pelo menos o texto básico seria votado,
deixando para amanhã as votações dos destaques que
serão feitos pelos deputados para tentar alterar o relatório
do deputado José Pimentel.
Subteto
Os deputados defendem o aumento do subteto salarial do Judiciário
nos Estados de 75% para 90,25% do salário de ministro do Supremo,
o aumento da faixa isenta (R$ 1.058 pela proposta atual) para a redução
das novas pensões -ou a diminuição do abate, hoje
entre 30% e 100% do que exceder R$ 1.058- e uma regra que amenize a entrada
em vigor do aumento da idade mínima de aposentadoria.
A nova cara que a proposta deveria assumir ainda ontem é fruto
de pressão do Judiciário e da própria base governista
na Câmara, que forçou o Planalto a negociar com o argumento
de que posições irredutíveis colocariam em risco
a aprovação de pontos do texto. No degrau de cima, a articulação
representou ainda uma disputa de força entre Dirceu, que defendia
a negociação, e Palocci, contrário a alterações
significativas.
Oposição
teme não obter alterações e já se articula
para atrasar votação
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de setores do PFL e da liderança do PSDB terem se posicionado
a favor da reforma da Previdência, os partidos traçaram estratégias
para a votação em plenário que tem como objetivo
expor o PT perante uma de suas tradicionais bases: os servidores.
Os pefelistas querem que o PT experimente o seu próprio "veneno"
e, por isso, pretendem usar estratégias adotadas pelos petistas
quando estavam na oposição. Os tucanos buscam alterações
no texto. Se não forem atendidos, apresentarão destaques.
"É fundamental que o povo saiba que o PT e os seus aliados
estão agindo de forma diferente da que pregaram na campanha. É
necessário que eles assumam isso. Eles têm de provar do mesmo
veneno", disse o líder do PFL na Câmara, José
Carlos Aleluia (BA).
O PFL, que é contra que a reforma da Previdência seja votada
hoje, defende que se firme um acordo de procedimento, por meio do qual
seja liberado o acesso dos servidores às galerias. Pretende também
aumentar o número de pessoas que debatem em plenário. Segundo
o regimento, o governo pode encerrar o debate após seis discursos.
Caso o governo aceite o acordo, o partido abre mão da obstrução
-pedidos de verificação de quórum ou levantamento
de questões de ordem. A obstrução foi adotada pelo
PFL na comissão especial, cuja votação chegou a ser
atrasada em mais de cinco horas.
Deputados ligados ao senador Antonio Carlos Magalhães (BA) -cerca
de 20 parlamentares- devem votar com o governo.
A orientação na bancada do PSDB é que o partido vote
a favor do texto do relator José Pimentel (PT-CE). "Não
posso chegar lá e dizer que voto contra. Seria negar tudo que já
dissemos. Se o PT nega tudo que já fez, ele é que tem de
se explicar para a sua base", afirmou o líder do partido na
Câmara, Jutahy Júnior (BA).
A legenda, entretanto, quer incluir no texto três pontos considerados
"prioritários". Caso não sejam acatados pelo relator,
o partido apresentará destaques.
O primeiro trata da garantia de benefício mínimo para trabalhadores
urbanos excluídos do sistema. Os outros dois são a definição
de regras de transição para quem está perto da aposentadoria
e de regras gerais por parte da União para serem seguidas por Estados
e municípios na criação dos fundos de pensão
dos servidores.
Hoje a bancada do PSDB na Câmara se reúne para afinar o
discurso na votação.
REFORMA SOB PRESSÃO
Palácio do Planalto negocia proposta intermediária
que prevê um subteto de 85% nos Estados
Lula rejeita subteto de 90% para juízes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
A falta de consenso em relação ao subteto do Judiciário
impediu que o governo fechasse ontem um acordo sobre a proposta que pode
ser levada à votação entre hoje e amanhã na
Câmara. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não
aceitou aumentar o subteto de 75% para 90,25%, como querem os juízes.
Uma proposta intermediária de 85% nos subtetos estaduais foi a
que mais avançou.
As possíveis concessões do governo foram discutidas em
duas reuniões no Palácio do Planalto, a primeira coordenada
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a segunda pelo ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu.
Cinco pontos do relatório do deputado José Pimentel (PT-CE),
que é defendido pelo governo, deverão sofrer alteração.
A definição das concessões do governo ficou para
nova reunião de Dirceu com os líderes aliados na Câmara
às 10h de hoje. Se o Judiciário não aceitar a proposta
intermediária, a tendência é que o subteto dos juízes
estaduais permaneça em 75%, como prevê o relatório.
"Há intensas discussões com o STF para encontrar uma
redação que deixe clara a não-necessidade de regulamentação
do subteto pelos Estados. Quanto ao restante das mudanças, o Lula
não disse nada, mas insinuou que aceitou todas", disse o líder
do PSB, Eduardo Campos (PE).
Um ponto que ficou definido foi o abono de 11% para todos os servidores
que decidirem não se aposentar antes da nova idade mínima
prevista na proposta, que passa de 48 anos para 55 (mulheres) e 53 anos
para 60 (homens).
Por exemplo: o servidor que chegar aos 53 anos, tendo contribuído
com a Previdência por 35 anos, terá como estímulo
para cumprir os sete anos seguintes a não-cobrança de 11%
de contribuição previdenciária, que paga hoje. Na
proposta atual, esse estímulo estava previsto somente para aqueles
que já haviam reunido condições para se aposentar.
Em relação à redução das pensões
que forem concedidas após a reforma, também haverá
mudança. O atual relatório prevê descontos entre 30%
e 100% para a faixa das pensões que ultrapassar o valor de R$ 1.058.
A proposta de mudança mais provável é do aumento
da faixa isenta para R$ 2.400 e a fixação do desconto em
50%. Há também a possibilidade de manutenção
dos R$ 1.058, com a redução restrita a 30% do que exceder
esse valor.
Outra questão era relativa à integralidade salarial para
a aposentadoria dos atuais servidores. Os aliados na Câmara argumentam
que a redação da proposta dá margem para um benefício
menor do que o salário da ativa. Eles queriam que a redação
fosse alterada como forma de assegurar de fato a integralidade. O governo
se manifestou favorável à idéia.
Ficou definido na reunião de ontem no Planalto que será
enviado ao Congresso, pelo Executivo, um projeto de lei detalhando as
formas de inclusão de cerca de 40 milhões de pessoas que
estariam de fora do sistema previdenciário.
Na reunião com Lula, participaram o relator da reforma, José
Pimentel, o líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC do
B-SP), e os ministros Ricardo Berzoini, Antonio Palocci Filho, Luiz Gushiken
e Luiz Dulci. (RANIER BRAGON, JULIA DUAILIBI, OTÁVIO CABRAL, RAYMUNDO
COSTA e WILSON SILVEIRA)
REFORMA SOB PRESSÃO
João Paulo Cunha (PT) reforça policiamento
e limita a 30 o número de servidores no plenário
Câmara tenta conter protestos
na votação
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os servidores federais pretendem pressionar os deputados
a votar contra a proposta de reforma da Previdência do governo a
partir de hoje no Congresso. Por outro lado, o presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), reforçou o policiamento e limitou
a 30 os servidores em plenário.
A galeria comporta 260 pessoas, mas, por segurança, será
permitida a presença de apenas cem espectadores já a partir
de hoje. Além dos 30 representantes de entidades nacionais de servidores,
haverá 70 senhas distribuídas a partidos com bancadas na
Câmara. O PSTU, que apóia a greve, não terá
direito a senhas.
Do lado de fora do Congresso, serão cerca de mil homens da Polícia
Militar do Distrito Federal distribuídos, desde o início
da manhã, por todos os acessos à Câmara. Escaldado
pela repercussão negativa do confronto entre policiais e manifestantes
duas semanas atrás, João Paulo preferiu não envolver
o batalhão de choque.
Do lado dos grevistas, a ordem é iniciar a pressão na chegada
dos parlamentares a Brasília, já no aeroporto. Cálculos
do comando nacional de greve mostram que devem chegar à capital
cerca de 3.000 manifestantes hoje.
O grupo deve atingir cerca de 30 mil pessoas na quarta, quando será
realizada uma marcha em protesto contra a reforma da Previdência.
Os servidores discordam do fim da aposentadoria integral para os futuros
funcionários públicos, da ausência de uma regra de
transição para os atuais e da tributação dos
inativos.
Entre os servidores, a idéia é fazer pressão mesmo
ante a possibilidade de repressão. "Enfrentamos a ditadura
militar 20 anos atrás, por que não podemos enfrentar o governo
do PT?", disse José Maria de Almeida, presidente do PSTU.
A marcha prevista para amanhã deve custar cerca de R$ 3,6 milhões
apenas para o transporte dos servidores.
Com a proximidade da votação, o principal racha entre os
servidores públicos diminuiu. As 53 entidades sindicais que deixaram
a CUT, alinhada ao PT, para formar a CSP (Central dos Servidores Públicos),
apóiam a marcha de amanhã, embora discordem da greve.
Liminar negada
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Maurício
Corrêa, e a ministra do STF Ellen Gracie Northfleet negaram ontem
pedidos de liminar que suspenderiam a tramitação da reforma
da Previdência na Câmara.
Nos dois casos, servidores inativos moveram mandado de segurança
contestando a cobrança da contribuição previdenciária
de inativos, prevista na proposta.
Rio antecipa caravana
contra a previdenciária
DA SUCURSAL DO RIO
O Sintrasef (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público
Federal no Estado do Rio de Janeiro) enviou ontem a Brasília uma
"comissão de frente" de manifestantes contra a reforma
previdenciária.
Os sindicalistas decidiram apressar a saída de parte do grupo
(três ônibus) temendo uma manobra do governo e a antecipação
para hoje da votação -prevista para amanhã.
O restante da caravana fluminense, que deverá ter ao todo 42 ônibus
e cerca de 2.000 pessoas, sai hoje do Rio.
Mais de 40 entidades do funcionalismo público federal, estadual
e municipal integram o Fórum Fluminense em Defesa da Previdência
Pública. Participam do grupo sindicatos de universidades públicas
e ministérios, do Banco Central, da Polícia Federal, do
INSS e de servidores do Poder Judiciário, além da CUT-RJ
(Central Única dos Trabalhadores).
O diretor financeiro do Sintrasef, Paulo Alberto Lima da Cruz, disse
que a orientação para antecipar a partida veio do comando
da marcha, em Brasília, diante dos rumores de que o governo driblaria
o protesto antecipando a votação.
O papel desses primeiros enviados é iniciar a pressão sobre
os deputados e, caso a votação seja antecipada, iniciar
os protestos. "Se você coloca lá 40, 50, 100 mil pessoas,
e isso não representa nada, que diabo de democracia é essa?
Aí ninguém vai impedir [a votação]. O nosso
protesto é ordeiro e pacífico, dentro das regras democráticas",
afirmou Cruz.
Segundo ele, só o Sintrasef investiu cerca de R$ 500 mil na preparação
da marcha -incluindo o pagamento dos ônibus, alimentação
e hospedagem para os manifestantes, além do custo de plenárias
e assembléias preparatórias.
Gilmar Cabral, da coordenação do Fórum Fluminense,
disse que cada sindicato paga as despesas de seus associados, mas afirmou
não ter ainda o valor exato gasto na caravana.
A delegação deve sair às 10h, depois de um protesto
e da concentração na Cinelândia. Bonecos do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda)
serão levados a Brasília.
TRIBUTÁRIA
Virgílio Guimarães pretende substituir
Confaz por novo conselho
Relator quer teto de 25% para ICMS
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O relator da reforma tributária na Câmara,
deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), afirmou ontem,
em São Paulo, que seu texto, a ser apresentado na semana que vem,
conterá "salvaguardas constitucionais" para evitar o
aumento da carga de impostos, entre eles a definição da
alíquota máxima de 25% para o ICMS (Imposto sobre a Circulação
de Mercadorias e Serviços).
Virgílio visitou as duas principais entidades do empresariado
paulista, a Associação Comercial de São Paulo e a
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo). Nos dois encontros com o setor, ele procurou, em nome do governo,
"tranquilizar" a categoria, dizendo que a reforma não
trará um aumento de tributos.
Segundo ele, as cinco alíquotas do ICMS estarão definidas
em disposição transitória no seu relatório,
que deve chegar à Câmara na próxima terça-feira,
e serão 4,5%, 12%, 15%, 18% e 25%. O temor do empresariado paulista
é que a unificação nacional do ICMS, principal ponto
da reforma tributária, nivele pelo teto o patamar de cobrança
do imposto.
Na menor alíquota, entrariam produtos alimentícios. Na
máxima, os produtos que já estão nessa faixa de descontos.
Os demais entrariam no desconto de 18%.
Conselho
Outra medida anunciada pelo relator aos empresários é a
criação de um Conselho Tributário, que substituiria
o Confaz, conselho formado pelos secretários da Fazenda dos Estados,
e que definiria quais produtos deverão ocupar cada faixa de desconto.
Com isso, o deputado Virgílio Guimarães espera diminuir
ainda mais o poder dos Estados na reforma tributária. "É
um modelo inspirado na vanguarda. O Confaz superpoderoso vai acabar",
afirmou Guimarães.
O novo conselho seria formado por representantes da sociedade civil e
suas atribuições também estariam atreladas às
Assembléias Legislativas.
Mas, em seu relatório, Guimarães também pretende
incluir mecanismos que indiquem quais produtos deverão constar
de cada faixa e estabelecer um período de transição
para a criação de uma alíquota interestadual.
O encontro na Fiesp, no final do dia, foi realizado a portas fechadas.
Os empresários, com base em cálculos feitos pela oposição,
reclamam que a reforma tributária, tal como está formulada,
poderia elevar de 36% para 41% do PIB (Produto Interno Bruto) a carga
tributária do país.
Olho nas urnas
De acordo com o deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP), que faz parte
da Comissão Especial da Reforma Tributária na Câmara
e que participou das reuniões de ontem, os empresários cobraram
do relator o compromisso de que as mudanças não trarão
aumento de impostos.
"Na Fiesp, foi dito de maneira franca pelo relator que a carga não
sofrerá um incremento", declarou Feldman. Pela manhã,
na Associação Comercial, Guimarães disse que o governo
fará a reforma de olho "nas urnas, não no cofre",
ao afirmar que o contribuinte não será prejudicado.

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