sexta-feira, 08 de agosto de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA SOB PRESSÃO
Concessões visaram preservar tributação
de inativos
Governo cede ao Judiciário, e
Câmara aprova subteto maior
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo patrocinou na madrugada de ontem mais uma série de concessões
na reforma da Previdência para assegurar o apoio necessário
para sua aprovação.
Em uma votação que terminou às 4h, a Câmara
dos Deputados cedeu à pressão para elevar o subteto salarial
dos juízes como desejava o Judiciário, mexeu nas regras
da idade mínima de aposentadoria e deixou acordado que, na semana
que vem, subirá a faixa isenta de contribuição previdenciária
para os inativos federais.
Todas as alterações foram negociadas com a oposição
e com a base aliada e tiveram como objetivo principal minimizar rebeliões
entre os aliados e garantir que a tributação dos inativos
não fosse derrubada.
Com isso, a proposta entregue pessoalmente à Câmara pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de abril já foi
modificada em seus principais pontos antes de ter sido concluída
sua votação em 1º turno na Câmara. Ainda restam
algumas emendas para serem votadas, além do 2º turno e de
toda a tramitação no Senado.
A principal modificação da madrugada foi a modificação
no subteto salarial do Judiciário nos Estados, que subiu de 85,5%
para 90,25% (R$ 15.650) do salário de um ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) -exatamente como queriam os juízes e parte da
base aliada, liderada pelo PL.
O governo batia o pé na questão, mas acabou se rendendo
aos argumentos de que não conseguiria manter a proposta original.
No início, a reforma previa que o subteto salarial nos Estados
seria o mesmo para os três Poderes: o salário do governador.
Os juízes chiaram e patrocinaram um lobby que conseguiu alterar
na Comissão de Constituição e Justiça a proposta,
estabelecendo três subtetos diferenciados, um para cada Poder.
Mesmo assim, não ficaram satisfeitos, já que o texto substituto
previa que o subteto dos magistrados nos Estados não poderia ultrapassar
75% do salário do ministro do STF. Depois de muitas negociações,
o governo cedeu para 85,5% e, na madrugada de ontem, acabou aceitando
os 90,25% exigidos pela magistratura, que ameaçou entrar em greve
e barrar a proposta com ações no STF.
As outras duas mudanças significativas acordadas ontem atendem
à CUT, ao PT e aos outros partidos de esquerda que compõem
a base aliada. Por 481 votos a 10, foi criada uma regra de transição
que flexibiliza o impacto da nova idade mínima de aposentadoria,
que sobe sete anos com a reforma: de 48 para 55 anos, no caso das mulheres,
e de 53 para 60 anos, no caso dos homens.
Pela proposta, para os servidores que reúnam até 31 de
dezembro de 2005 as condições para se aposentar pelas regras
atuais (48/ 53 anos) será diminuído de 5% para 3,5% ao ano
o redutor do benefício caso eles optem pela aposentadoria antes
da nova idade mínima. "A esquerda dizia ser importante que,
ao mexer no andar de cima [subteto dos juízes], teríamos
que compensar para os de baixo", argumentou o deputado Professor
Luizinho (PT-SP), vice-líder do governo.
Outra concessão para "os de baixo" já tem acordo
para ser votada na semana que vem e vai ao encontro de reivindicação
de vários partidos da base. Pela proposta, haverá duas faixas
distintas de isenção para a tributação dos
inativos. O funcionalismo nos Estados e municípios terá
desconto dos 11% da contribuição previdenciária só
na faixa que ultrapassar R$ 1.200. Já o funcionalismo federal terá
isenção até R$ 1.440.
Segundo os governistas, como os salários nos Estados e municípios
são mais baixos, um aumento da faixa isenta para eles acabaria
inviabilizando a redução de despesas prevista no caixa dos
governadores. (RANIER BRAGON)
Planalto temia derrota nos inativos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A votação da manutenção da tributação
dos inativos na proposta da reforma da Previdência representou o
momento mais arriscado do governo Luiz Inácio Lula da Silva no
Congresso. Até minutos antes da proclamação do resultado,
às 3h da madrugada de ontem, o governo temia o pior: sofrer a primeira
derrota na Câmara dos Deputados e justamente no ponto principal
da reforma.
"Corremos um sério risco. Na hora do encaminhamento da votação,
tínhamos na nossa conta algo entre 305 e 310 votos. Mas havíamos
decidido votar. Desistir seria pior", disse o presidente nacional
do PT, José Genoino.
Apesar de não ser mais deputado, ele acompanhou toda a articulação
e foi um dos que mais comemoraram com o resultado: 326 votos (apenas 18
a mais do que o necessário) contra 163. A tributação
havia sido mantida.
O processo que resultou na vitória do Palácio do Planalto
começou 12 horas antes, quando o ministro José Dirceu (Casa
Civil) começou uma tensa reunião com os aliados. Colocou-se
na mesa logo de cara o resultado da madrugada de anteontem, quando o governo
conseguiu aprovar o texto base da reforma, mas teve 56 votos contrários
na base aliada, além de oito abstenções no PT.
O ministro colocou como ponto de honra do governo a manutenção
da tributação.
"Vocês passaram por uma prova de vida ou morte", afirmou
a aliados o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo
na Casa. "Que ninguém aqui tenha ilusões sobre o que
teria acontecido se tivéssemos perdido."
Os governistas saíram da reunião na Casa Civil em disparada
em direção à Câmara, levando a proposta para
tentar evitar o confronto no plenário.
PFL e PSDB se reuniram com os aliados no gabinete do presidente da Casa,
João Paulo Cunha (PT-SP), e ouviram que o governo cederia ao Judiciário,
às reivindicações da base e dos oposicionistas, mas,
em troca, queria que as emendas para derrubar a tributação
fossem retiradas.
Os tucanos aceitaram. O PFL, porém, acabou se transformando no
grande empecilho para o acordo, mesmo com posicionamento contrário
da ala ligada ao senador Antonio Carlos Magalhães (BA).
Teste
Diante disso, João Paulo e os líderes aliados resolveram
ir ao plenário e, com votações menos polêmicas,
testar o quórum da Casa para decidir se colocariam a questão
dos inativos em votação. O plenário cheio esperava
havia horas pela definição dos líderes. A sala de
cafezinho dos deputados -onde era transmitido o jogo Goiás x Vasco-
era a mais concorrida. Vários deputados só iam ao plenário
na hora da votação. Durante os discursos, voltavam ao cafezinho.
Enquanto isso, Dirceu disparava telefonemas e líderes procuravam
conseguir votos. A ala carlista foi chefiada pelo deputado ACM Neto (PFL-BA).
"Vamos ter entre 28 e 30 votos para o governo", dizia ele antes
da votação.
O PFL acabou dando 31 votos. Às 2h, a senadora Roseana Sarney
(PFL-MA) apareceu para arregimentar os votos do Maranhão e dizer
aos pefelistas reticentes que os governadores do partido exigiam o apoio
ao governo.
Depois de aprovarem uma alteração na regra da idade mínima
por 481 votos a 10, João Paulo se reuniu com Rebelo e outros governistas.
Bateram o martelo: a proposta iria a votação.
"O painel apontou a presença de 494 deputados [do total de
513]. Se o governo não vencesse com esse quórum, não
venceria nunca", afirmou o deputado Professor Luizinho (PT-SP), vice-líder
do governo.
Para limpar o caminho, João Paulo agiu evitando protelações
e derrubando requerimentos, além de ter recorrido a um socorro
regimental para evitar que um destaque do Prona -que pedia a retirada
da exigência de que os fundos de pensão complementar sejam
pelo modelo de contribuição definida- fosse a voto. Argumento:
Enéas (SP) assinou o destaque como deputado e não como líder
de bancada.
Devido à perspectiva de margem apertada, os governistas estenderam
a votação da tributação ao máximo.
Isso porque apenas 491 deputados haviam votado e o governo queria esperar
os outros três, que eram aliados.
Após a comemoração do resultado, Dirceu ligou para
Rebelo e o felicitou. Em seguida, a Câmara aprovou o aumento do
subteto que os magistrados queriam. Já passava das 4h quando Rebelo
e outros líderes se reuniram no gabinete da liderança do
PSB para comemorar, com uísque, a manutenção da tributação.
(RB)
REFORMA SOB PRESSÃO
Governo não conseguiria manter contribuição
previdenciária apenas com os votos dos aliados
Oposição garante cobrança
de inativos
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A exemplo do que ocorreu na votação do texto principal
da reforma da Previdência, a oposição novamente foi
fundamental para que o governo conseguisse manter na proposta, na madrugada
de ontem, a contribuição previdenciária dos servidores
inativos, o ponto mais polêmico da reforma.
O governo precisava de 308 dos 513 votos da Câmara dos Deputados
para manter a tributação. Acabou conseguindo 326, apenas
18 a mais.
Os dez partidos da base aliada contribuíram só com 267
votos, apesar de terem 376 deputados.
Se contasse apenas com os aliados, a tributação sairia
do relatório do deputado José Pimentel (PT-CE) por causa
de 41 votos.
Os votos necessários acabaram vindo da oposição
-31 pefelistas e 26 tucanos votaram com o governo devido, principalmente,
à atuação dos governadores e de dois políticos-chave
para o Planalto nas negociações: o senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA) e o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP).
Eles atuaram decisivamente em suas bancadas. Sarney contou com a ajuda
da filha, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA).
O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), líder do governo na Câmara,
disse que a ajuda dos oposicionistas só veio porque o atual governo
se abriu para o diálogo. "No governo anterior não havia
negociação. Temos uma relação civilizada e
respeitosa com o PSDB e o PFL", disse.
Contra o Planalto
Noventa e quatro integrantes dos partidos da base votaram contra a manutenção
da cobrança, ou seja, em franca oposição às
orientações do Planalto.
Dos dez partidos da base, apenas o PPS se manteve integralmente fiel,
com 17 votos pela manutenção da tributação.
Toda a bancada de 14 deputados do PDT de Leonel Brizola, partido declaradamente
contrário à reforma, votou contra o governo.
Proporcionalmente, os partidos aliados que mais "traíram"
o Planalto foram PDT (100% contra), PC do B (63,6%), PV (50%) e PMDB (41,8%).
Dos 93 deputados do PT, três votaram contra o governo: Luciana Genro
(RS), Babá (PA) e João Fontes (CE).
"Nossa base é uma base em construção. Tem um
núcleo com uma história comum na esquerda, uma parte que
se incorporou durante a campanha e outra que veio após a eleição.
Formar uma base que tenha solidez e seja capaz de suportar pressões
nas votações demanda tempo", disse Rebelo.
Pefelistas se dividem
sobre votação da contribuição dos aposentados
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
A divisão do PFL no posicionamento em relação ao
governo ficou cristalizada ontem durante a votação da cobrança
previdenciária dos servidores inativos. Deputados do partido se
alternaram na tribuna da Casa discursando a favor e contra a medida.
O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), faz oposição
sistemática ao governo, mas não é seguido por cerca
de metade da bancada, principalmente pela ala baiana, coordenada pelo
deputado Antônio Carlos Magalhães Neto.
Ele avaliou que houve um "equívoco" da liderança
na orientação antes da votação. "A bancada
deveria ter sido ouvida depois da decisão da Executiva Nacional
de votar contra a reforma" disse ACM Neto. Aleluia disse que não
é obrigação do PFL aprovar propostas do governo.
O destaque para suprimir a cobrança previdenciária dos
aposentados era de autoria do PFL. O deputado Onyx Lorenzoni (RS) foi
um dos que defenderam a supressão. Já Roberto Brant (MG),
que foi presidente da comissão especial da reforma da Previdência,
defendeu a proposta do governo.
Enquanto a proposta era discutida, ACM Neto mantinha o governador da
Bahia, Paulo Souto (PFL), informado, através do celular. A senadora
Roseana Sarney (PFL-MA) foi à Câmara para levar as orientações
dos governadores do partido a favor da reforma.
ACM Neto dizia, antes da votação, que o PFL daria de 28
a 30 votos a favor da tributação dos inativos, com 18 da
Bahia. O placar do partido foi de 31, com 18 baianos.
No dia anterior, o deputado tinha dito que o PFL teria 30 votos a favor
do texto principal da reforma, sendo 19 da Bahia. O resultado foi de 33
favoráveis, sendo 19 baianos. (FERNANDA KRAKOVICS, RANIER BRAGON
E JULIA DUAILIBI)
REFORMA SOB PRESSÃO
O termo "natureza pública" no texto
abre margem para que dinheiro não seja só de servidores,
mas público também
Previdenciária engessa fundos
de pensão
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O texto da reforma da Previdência aprovado na Câmara poderá
limitar a atuação dos fundos de pensão que serão
criados para complementar as aposentadorias de futuros servidores e ainda
permitir que governantes, principalmente os de Estados e municípios,
utilizem os recursos dessas entidades para investir em projetos de interesse
político.
Na avaliação de especialistas em Previdência ouvidos
pela Folha, essas são as principais implicações da
inclusão do termo "natureza pública" no parágrafo
da reforma que trata sobre a previdência complementar de novos servidores.
Para os especialistas, a intenção do Congresso pode ter
sido boa, mas, tecnicamente, poderá provocar efeitos colaterais.
"Quiseram evitar que se criasse a falsa idéia de que os fundos
seriam uma forma de privatização da Previdência e
estabeleceram que as entidades serão de natureza pública.
Isso significa que o dinheiro também é público e
não dos participantes", declarou o ex-secretário de
Previdência Social Marcelo Viana Estevão.
Segundo ele, tratando-se de dinheiro público, esses recursos podem
ser utilizados pelos governos federal, estaduais e municipais em investimentos
de seu interesse. A tendência é que isso ocorra, principalmente,
em Estados e municípios, onde o controle dos recursos públicos
é menor.
Estevão disse que os fundos de pensão existentes hoje -como
a Previ (Banco do Brasil), a Petros (Petrobras) e a Funcef (Caixa Econômica
Federal)- são entidades fechadas de previdência complementar,
assim como deverão ser os fundos do servidores, de acordo com o
texto da reforma. A diferença, porém, é que os fundos
das estatais são de natureza privada.
O ex-secretário de Previdência Complementar José
Roberto Savóia afirmou que os fundos de natureza pública
ficarão engessados porque serão administrados pelas mesmas
regras que os demais órgãos públicos. "Os funcionários
precisarão ser contratados por concurso público. As compras
de produtos e serviços precisarão ser feitas por licitação",
declarou.
Além disso, o ex-secretário de Previdência complementar
disse que os gestores desses fundos terão menos autonomia para
administrar as entidades, pois serão funcionários públicos
e mais sujeitos a pressões de governantes.
"Um Estado pode querer que o fundo compre títulos emitidos
pelo governo como forma de investimento. Isso pode não ser um bom
negócio, mas como o gestor do fundo poderá ir contra isso?",
afirmou Savóia.
Estevão também avalia que o fato de o governo ter estabelecido
no texto que os fundos serão de contribuição definida
pode não ter sido uma boa estratégia. Para o ex-secretário,
a redação do texto ficou muito inflexível.
"Nem sempre a contribuição definida pura e simples
é a melhor saída. Existem os benefícios de risco
[como aposentadoria por invalidez]. Nesse caso, a contribuição
definida não é uma boa alternativa e sim um sistema misto
com repartição de capitais de cobertura", afirmou Estevão.
Planos de contribuição definida são aqueles em que
o participante contribui sem saber quanto receberá na aposentadoria.
Economia
Com o novo acordo negociado pela base governista na Câmara, o governo
federal deverá perder R$ 100 milhões por ano da economia
prevista com a reforma. O cálculo se refere à elevação
do limite de isenção para cobrança de contribuição
previdenciária dos atuais inativos. De R$ 1.200, esse limite foi
elevado a R$ 1.440, no caso da União.
Essa nova queda na economia se soma aos R$ 60 milhões que o governo
já tinha admitido perder, quando aceitou negociar o limite de isenção
de R$ 1.058 para R$ 1.200. Ou seja, a concessão apenas nesse item
da reforma reduzirá em R$ 160 milhões/ano a economia que
o governo esperava alcançar inicialmente.
Berzoini diz que teto para juízes
é avanço
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nota oficial para cumprimentar a Câmara pela sessões
para votar a reforma da Previdência, o ministro Ricardo Berzoini
(Previdência) afirmou ontem que o subteto para o Judiciário
aprovado pelos deputados é um avanço.
Depois de insistir em manter o subteto dos juízes nos Estados
em 85,5% do salário de ministro do Supremo Tribunal Federal, o
governo cedeu e elevou-o para o defendido pela categoria: 90,25%.
"O subteto aprovado, apesar de ser diferente daquele que defendemos,
constitui um grande avanço em relação à situação
atual, que não prevê limite algum para remunerações
de juízes e desembargadores estaduais."
Ele comemorou a aprovação da contribuição
dos inativos, dizendo que ela "pagará aposentadorias e pensões
aos demais servidores" e que foi "uma demonstração
de responsabilidade política, em tema tão polêmico."
Berzoini elogiou o presidente da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), e os líderes de todos os partidos, por "aprimorarem"
"várias das sugestões originais". Disse crer que
o Senado "consumará" a reforma e elogiou a inclusão
no texto da garantia de proteção aos excluídos da
Previdência.
REFORMA SOB PRESSÃO
Deputados ajudam a aprovar contribuição
de inativos
Petistas que não votaram recuam
e são "absolvidos"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O presidente nacional do PT, José Genoino, disse ontem que o fato
de os oito deputados do partido que se abstiveram da votação
do texto principal da reforma da Previdência terem aprovado a cobrança
dos inativos deve isentá-los de punições.
"Com a votação [da madrugada] de ontem, tudo se resolve
politicamente. Vou solicitar ao diretório que não haja nenhum
tipo de punição", disse Genoino.
Durante a sessão de terça-feira, quando os oito se abstiveram,
Genoino falou em expulsão. Mas, em seguida, moderou o tom.
Os deputados negaram ontem que seu apoio ao governo na votação
de ontem de madrugada, quando foi mantido no texto da reforma a cobrança
de contribuição previdenciária de servidores inativos,
tenha sido um recuo.
Esse item da reforma foi aprovado em votação apertada (326
votos a 163). O governo precisava de 308 votos.
Segundo os petistas, se a taxação dos inativos fosse derrubada,
eles ficariam com o estigma de terem apoiado uma proposta do PFL, partido
que apresentou o destaque para retirar a cobrança do texto.
Apesar de terem se posicionado contra a taxação dos inativos
durante a tramitação da reforma na Câmara, os deputados
argumentaram que votaram a favor para garantir que os aposentados não
terão descontos maiores do que o limite estabelecido pela União.
Pela reforma da Previdência, os inativos terão desconto
de 11% sobre a quantia que exceder R$ 1.200. O governo ainda pretende
votar uma emenda fixando esse valor em R$ 1.440 para os servidores federais.
"Se a taxação não fosse aprovada, governadores
e prefeitos poderiam taxar os aposentados no valor que quisessem. Agora,
pelo menos, há um limite", afirmou o deputado Paulo Rubem
(PE).
Além dele, também se abstiveram da votação
do texto principal da reforma da Previdência os deputados petistas
Walter Pinheiro (BA), Chico Alencar (RJ), Maninha (DF), Ivan Valente (SP),
Mauro Passos (SC), João Alfredo (CE) e Orlando Fantazzini (SP).
No entanto, os três deputados que votaram contra o governo nas
duas votações -Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João
Fontes (SE)- devem ser expulsos do PT.
Apesar da orientação de Genoino, nem todos os governistas
concordam com a absolvição dos oito petistas.
O deputado Professor Luizinho (PT-SP), um dos vice-líderes do
governo, defendeu a punição do grupo mesmo depois da mudança
de posição. "Uma votação não anula
a outra", disse ele. (FERNANDA KRAKOVICS E JULIA DUAILIBI)

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