sexta-feira, 15 de agosto de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA SOB PRESSÃO
Objetivo é evitar atrasos para garantir CPMF
em 2004
Governo quer que tributária saia
"modesta" da Câmara
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o
presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP),
confirmaram ontem que o governo pretende aprovar uma reforma tributária
mínima na Câmara -"modesta e limitada", nas palavras
de João Paulo-, deixando para o Senado as definições
sobre os pontos mais polêmicos.
Além disso, tornaram público o esforço dos governistas
para fatiar a tramitação da proposta -priorizar a aprovação
até setembro de pontos considerados essenciais para a arrecadação
e o manejo orçamentário do ano que vem e deixar o resto
em tramitação.
"O presidente João Paulo e os líderes dos partidos
que apóiam o governo me asseguraram que vão trabalhar firmemente
para que a reforma tributária chegue ao Senado a tempo de, até
30 de setembro, aprovarem a CPMF e a DRU", afirmou Dirceu. Segundo
ele, a medida é fundamental para o equilíbrio fiscal do
país.
A CPMF com alíquota 0,38% (o imposto do cheque, com arrecadação
anual de R$ 24 bilhões) e a DRU (Desvinculação das
Receitas da União, que permitirá ao governo gastar livremente
20% das receitas dos tributos até 2007) valem só até
31 de dezembro. Para valer a partir de janeiro, a aprovação
tem que ocorrer com uma antecedência de três meses.
Antes de chegar ao Senado, a reforma tem que ser aprovada na comissão
especial da Câmara (a votação deve ocorrer na semana
que vem) e em dois turnos no plenário da Casa.
"Vamos aprovar e passar para o Senado uma reforma modesta, limitada,
mas possível. O Senado pode fazer uma reforma muito mais profunda,
em que se discuta todo o sistema tributário nacional", afirmou
João Paulo, acrescentando que o texto que sairá da Câmara
será condizente "com o que a realidade suporta".
Pressão dos Estados
As declarações de Dirceu e João Paulo também
coincidiram em outro ponto. Os dois bateram o pé contra a pressão
dos governadores para incluir na proposta a partilha de receitas federais.
Os Estados buscam uma fatia da arrecadação da CPMF.
Ao comentar o lobby dos governadores, o ministro da Casa Civil disse acreditar
que não haverá reforma se houver uma disputa maior pelo
bolo arrecadatório da União.
"Num momento em que o país não está crescendo
e em que o governo precisa ainda, de forma firme e decidida, assegurar
o equilíbrio das contas públicas, a reforma não pode
se transformar em uma disputa em torno do pacto federativo. Temos uma
herança de dez anos, não podemos querer resolvê-la
neste ano", afirmou o ministro-chefe da Casa Civil.
João Paulo Cunha corroborou: "Não adianta querer rediscutir
o pacto federativo, pois assim a proposta não sai do papel".
Segundo Dirceu, o país precisa voltar a ter investimento, crescer
e gerar emprego.
"Para começar a investir, o empresariado precisa de uma sinalização
clara de que a produção e a exportação serão
desoneradas e de que não haverá aumento da carga tributária.
O Brasil precisa de investimento, de crescimento, de emprego. O resto
é conversa fiada", afirmou.
O ministro procurou ainda rebater as avaliações de que
pode haver atraso no cronograma desejado pelo Palácio do Planalto
já que parte da base aliada e da oposição pretende
minar o acordo firmado nos bastidores entre governo e líderes do
Congresso.
Esse acerto prevê que o Senado não mexerá na reforma
da Previdência aprovada anteontem na Câmara dos Deputados,
em primeiro turno, e que, em troca, a Câmara mandará o mais
rapidamente possível a reforma tributária para o Senado,
onde serão feitas discussões mais detalhadas sobre o assunto.
PFL aprova nova CPMF
se tiver partilha
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O PFL condicionou ontem o voto favorável à perenização
da CPMF na reforma tributária à partilha desses recursos
pela União. Esse é o principal pleito de prefeitos e governadores
e encontra forte resistência no governo federal. "Votamos sim
[CPMF permanente], desde que se faça o ajuste prévio da
repartição com os Estados e os municípios",
afirmou o líder do partido no Senado, José Agripino (PFL-RN).
As declarações foram dadas no Encontro Nacional de Prefeitos
do PFL, ontem, em Brasília. "Essa é a posição
do partido. A CPMF se extingue em 31 de dezembro de 2003; a partir daí
é um novo imposto. Para ser recriado, não pode haver a participação
única da União", disse o líder do PFL na Câmara,
José Carlos Aleluia (BA).
Foi divulgado, como resultado do encontro, o "Apelo de Brasília",
que diz que "uma das maiores fraudes da República é
o uso e abuso do título de "contribuições"
atribuído a numerosos tributos federais para impedir o cumprimento
do artigo 159, que determina a participação dos municípios
na receita de impostos da União".
Na entrada do evento, o prefeito do Rio, Cesar Maia, criticou a condução
das reformas previdenciária e tributária pelo Palácio
do Planalto. "O governo está completamente perdido. Entrou
em uma cama de gato na negociação das reformas, o que significa
tudo o que criticava: negociação homem a homem, corpo a
corpo."
Dos 1.018 prefeitos pefelistas, 537 foram ao evento, segundo a assessoria
de imprensa da presidência do partido.
REFORMA SOB PRESSÃO
Guimarães afirma que toma medida a contragosto
Relator recua e mantém limite
máximo para CPMF
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relator da reforma tributária na Câmara, Virgílio
Guimarães (PT-MG), recuou em sua intenção de retirar
do projeto o limite máximo de 0,38% para a alíquota da CMF,
contribuição que, pela proposta do governo, substituirá
a CPMF em caráter permanente.
O teto para o tributo, equivalente à alíquota atual, foi
incluído no texto original da reforma como um meio de garantir
que o governo não cogitava elevar a cobrança. Guimarães,
porém, suprimiu a regra nas duas versões preliminares já
divulgadas de seu relatório.
Na versão definitiva, a ser apresentada na próxima segunda,
o teto estará de volta, anunciou ontem o relator. O motivo, disse,
foi a repercussão da reportagem publicada ontem pela Folha, apontando
que a mudança abria caminho para a elevação da CPMF
caso o governo seja obrigado a dividir a receita da contribuição
com os Estados, como querem os governadores.
O temor se tornou mais concreto diante do exemplo da Cide: na semana passada,
sob pressão, o Planalto concordou em repassar aos Estados 25% da
receita da contribuição, cobrada sobre a venda de combustíveis;
nesta semana, o ministro Guido Mantega (Planejamento) previu que a Cide
terá de ser elevada.
"Acho lamentável termos de colocar alíquotas de tributos
na Constituição, mas há um temor muito grande de
aumento da carga tributária, e este é um país que
não confia em seu Parlamento", disse Guimarães, relatando
ter recebido críticas durante todo o dia. "Vou incluir o limite
a contragosto, sentindo que estou cometendo um deslize técnico."
Autorização inócua
Até então, a proposta do relator era criar a CMF com autorização
para a cobrança de alíquotas diferenciadas, dependendo da
operação financeira. Ele afirma que a autorização
permanecerá no texto, mas, na prática, se tornou inócua
-como o governo não pode abrir mão de receita, terá
de continuar aplicando a alíquota atual sobre todas as operações.
Embora com a previsão de apresentação na segunda-feira
e votação na próxima quinta, Guimarães admitiu
que seu relatório ainda está sujeito a alterações
e negociações. "Um relatório é sempre
uma construção", disse o relator.
O governo, cujo objetivo principal na reforma é a prorrogação
da CPMF (o chamado imposto do cheque) e da DRU (Desvinculação
de Receitas da União, que permite o uso livre de 20% da receita
dos tributos), tem negociado com os membros mais importantes da comissão
da Câmara encarregada de examinar o projeto.
Um dos principais interlocutores é Delfim Netto (PP-SP), que ontem
esteve com o ministro José Dirceu (Casa Civil). O deputado defende
uma "reforma mínima", em etapas: primeiro, prorrogar
a CPMF e a DRU, ambas em caráter provisório; depois, medidas
consensuais destinadas a incentivar o setor produtivo; por último,
questões relativas à divisão de receitas tributárias
entre União, Estados e municípios.
ANÁLISE
Medidas não dependem de reforma
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de reconstruir o discurso de apoio à reforma tributária
e angariar a simpatia do empresariado, o governo tem associado ao projeto
medidas que não dependem de emenda constitucional e poderiam ser
propostas ou adotadas de imediato -se houvesse tal intenção.
Pela retórica oficial, a reforma vai "desonerar as exportações
e os investimentos". É uma referência a quatro pontos
do texto: fim do ICMS sobre as exportações; fim do ICMS
e do IPI sobre máquinas e equipamentos; fim da cumulatividade (incidência
em todas as etapas do processo produtivo) da Cofins; criação
de regras especiais para micro e pequenas empresas.
A isenção do ICMS para produtos exportados e bens de capital
(máquinas e equipamentos) já foi instituída pela
Lei Kandir, de 1986. Trata-se de uma lei complementar, cuja aprovação
requer 50% dos deputados e senadores.
É verdade que os empresários reclamam de imperfeições
nessa norma, mas nenhuma delas precisa de alterações na
Constituição para serem corrigidas.
Para acabar com a cumulatividade da Cofins, basta uma lei ordinária,
que exige apenas os votos da maioria dos congressistas presentes à
sessão, respeitado o quórum mínimo de 257 dos 513
deputados e 41 dos 81 senadores.
A lei 10.637, de dezembro de 2002, acabou com a cumulatividade de outra
contribuição, o PIS, e estabeleceu que até o final
deste ano o governo deve enviar ao Congresso projeto fixando a mesma regra
para a Cofins.
Mais simples ainda seria acabar com a cobrança do IPI sobre os
bens de capital: é necessário apenas um decreto presidencial,
que poderia entrar em vigor imediatamente -assim como a recente redução
do IPI dos automóveis.
O relator da reforma tributária, Virgílio Guimarães
(PT-MG), também decidiu incluir no texto a criação
de regras especiais para as empresas de pequeno porte -mas a serem definidas
por lei.
Na emenda constitucional da reforma tributária, aliás,
todas essas medidas estão previstas, mas nenhuma de forma auto-aplicável,
ou seja, todas dependem de legislação posterior para entrar
em vigor.
Na prática, portanto, o governo está escolhendo o caminho
mais longo para as mudanças reivindicadas pelos empresários.
A vantagem, pode-se argumentar, é que os princípios estarão
incluídos na Constituição, tornando difícil
sua alteração no futuro. (GP)
REFORMA SOB PRESSÃO
Em relação ao texto original da Previdência,
economia gerada pela reforma cairá para R$ 49 bi até 2023
Concessões geram perda de R$
3 bilhões
JULIANNA SOFIA
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As mudanças feitas até agora pela Câmara na reforma
da Previdência significarão uma perda de R$ 3 bilhões
na economia que o governo federal esperava obter nos próximos 20
anos com as novas regras de aposentadoria dos servidores. Em relação
ao texto da proposta original, a redução nos gastos cairá
de R$ 52 bilhões para R$ 49 bilhões até 2023.
Em média, a economia anual será de aproximadamente R$ 2,5
bilhões -não entra nesse cálculo a Previdência
dos militares, a do Legislativo e a de parte do Judiciário. Somente
no ano que vem, o déficit dos civis da União será
de R$ 16 bilhões, sem considerar ainda os efeitos da reforma.
"A perda de R$ 3 bilhões não é algo significativo
no fluxo total. Principalmente, levando em conta o aspecto político
fundamental de o Congresso Nacional enfrentar um tema difícil e
polêmico, com pressão de segmentos poderosos do país,
e aprovar a reforma", disse ontem o ministro da Previdência,
Ricardo Berzoini.
Ele afirmou que, embora a questão fiscal seja importante, o principal
ganho da reforma é do ponto de vista previdenciário. "Teremos
uma Previdência do servidor sustentável", disse Berzoini,
explicando que as mudanças abrem caminho para um futuro estável,
pois criam o teto de R$ 2.400 para a aposentadoria dos futuros servidores.
Histórico de mudanças
Desde que chegou à Câmara, a reforma sofreu várias
modificações por pressão, principalmente, do Judiciário
e de setores mais organizados do funcionalismo. Berzoini avalia que o
Senado deverá manter o texto aprovado em primeiro turno pela Câmara.
Antes de ser encaminhada aos senadores, a reforma precisa ser votada em
segundo turno na Câmara.
As concessões feitas pelo governo mantiveram, por exemplo, a possibilidade
de os atuais servidores públicos se aposentarem com salário
integral e ainda assegurarem para suas aposentadorias a mesma data e o
mesmo índice de reajuste do salário dos funcionários
em atividade.
A integralidade e a paridade tinham sido eliminadas pelo governo no texto
original. Pela última versão da reforma, as duas vantagens
agora serão preservadas para funcionários contratados até
a promulgação da emenda constitucional, desde que cumpridas
regras de idade e de permanência no setor público.
Para ter aposentadoria integral, o servidor precisará ter 65/60
anos de idade, 35/30 anos de contribuição, 20 anos de setor
público, dez anos na carreira e cinco anos de exercício
no cargo. Antes, o tempo mínimo de exercício no cargo era
de dez anos e não havia exigência de tempo na carreira.
As normas para futuras pensões e para a contribuição
de inativos também foram amenizadas. No caso das pensões,
a intenção inicial era limitá-las a até 70%
do salário ou da aposentadoria do servidor. Os deputados mudaram
a proposta e criaram uma faixa de isenção de R$ 2.400. Acima
desse valor, haveria desconto de 50%. Mas em nova concessão o governo
reduziu o desconto para 30%.
Na contribuição de inativos, a mudança feita pela
Câmara elevou de R$ 1.058 para R$ 1.440 a faixa de isenção
garantida aos atuais aposentados. Ou seja, até R$ 1.440 eles não
recolherão contribuição previdenciária. Acima
desse valor, há o desconto de 11%.
Por pressão do Judiciário, o governo acabou aceitando fixar
em 90,25% do salário de ministro do Supremo Tribunal Federal o
subteto dos juízes nos Estados.
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Leia a íntegra do texto final da reforma da Previdência na
www.folha.com.br/032251
Comissão aprova
redação final do projeto votado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Com três declarações de voto contra, a comissão
especial da reforma da Previdência aprovou ontem, em votação
simbólica, a redação final de 1º turno da proposta,
que teve seus pontos pendentes votados na noite de anteontem no plenário.
Se declararam contrários à redação os deputados
Alceu Collares (PDT-RS), Onyx Lorenzoni (PFL-RS) e Murilo Zauith (PFL-MS).
Alguns parlamentares ainda tentaram discutir o mérito da proposta,
mas foram impedidos pelo presidente da comissão, Roberto Brant
(PFL-MG), que alegou que o que estava em pauta era a redação
do que foi aprovado.
Com isso, a votação da reforma em 2º turno pode ocorrer
na quarta-feira, se houver quórum para abertura de sessão
(52 de 513 deputados) amanhã e na segunda-feira, pois são
necessárias cinco sessões entre as votações
de 1º e 2º turno.
Devido ao acordo de lideranças que resultou na proposta aprovada,
não haverá emendas de bancadas na segunda votação.
Se for aprovada em 2º turno, a reforma irá ao Senado.
Apesar do acordo, pefelistas afirmaram que encaminharão emendas
individuais. O líder Aldo Rebelo (PC do B-SP) disse acreditar na
rejeição de todas.
O dia também foi marcado pela comemoração por parte
dos governistas, que afirmaram não ter cedido muito para aprovar
a proposta anteontem. "Não foi uma vitória do governo,
da Câmara ou da oposição, foi uma vitória do
Brasil", afirmou o presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP).
Abstenção de petistas
foi unilateral, diz Genoino
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O presidente do PT, José Genoino, afirmou que os oito deputados
que novamente se abstiveram na votação de anteontem da reforma
da Previdência estão tomando atitudes unilaterais.
"Esses oito deputados estão se diferenciando demais, estão
tomando atitudes unilaterais. Continuo apelando pacientemente para que
eles votem com a bancada e com o partido no segundo turno", disse
Genoino. Ele não disse se vai rever a posição de
novamente querer dar uma punição aos deputados.
O grupo já avisou, no entanto, que repetirá a abstenção
na segunda rodada de votações na Câmara, prevista
para a próxima quarta-feira.
Os oito deputados são: Chico Alencar (RJ), Walter Pinheiro (BA),
Ivan Valente (SP), Paulo Rubem (PE), Orlando Fantazzini (SP), Mauro Passos
(SC), Maninha (DF) e João Alfredo (CE).
Primeiro eles se abstiveram em relação ao texto principal
da reforma, mas votaram com o governo para inserir na Constituição
a cobrança previdenciária dos inativos. Anteontem, contrariaram
o Planalto e o PT novamente ao se absterem na votação de
destaque para a manutenção do pagamento de pensões
integrais.
Na versão aprovada em primeiro turno, a integralidade das pensões
estará garantida até o limite de R$ 2.400. O que passar
disso será descontado em 30%.
"Simbolicamente, a abstenção é menos agressiva
do que o voto contrário, mas tem o mesmo significado prático.
Fizemos essa opção porque não é um voto contra
o governo ou o partido, e sim contra a proposta de reforma", afirmou
Chico Alencar. Como o governo precisa garantir 60% dos votos (308 deputados)
para manter o texto da reforma, a abstenção tem, na prática,
o efeito de um voto "não".
Os parlamentares negam que tenham recuado na questão da tributação
dos inativos. Segundo eles, como hoje 2.146 municípios já
fazem esse desconto, a aprovação de um limite de isenção
de R$ 1.200 para a cobrança seria uma salvaguarda para os inativos.
(FERNANDA KRAKOVICS)
Servidores enviam óleo
de peroba a deputados
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Em protesto contra a aprovação em primeiro turno da reforma
da Previdência, servidores da UFC (Universidade Federal do Ceará),
em greve há um mês, enviaram ontem caixas com óleo
de peroba aos 20 deputados federais do Ceará que votaram a favor
do projeto.
Os parlamentares receberão as caixas em seus gabinetes, em Brasília.
O óleo de peroba é usado para dar brilho a móveis
de madeira. Também foi enviada uma carta com o protesto dos servidores.
"Foi um ato simbólico para demonstrar nossa indignação
com esses caras-de-pau, que criticavam a reforma e agora ajudaram a aprová-la",
disse a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores da UFC, Lucineide
Paiva.
Cerca de 300 servidores participaram da remessa das caixas na agência
dos Correios localizada na universidade.
Os únicos deputados cearenses que não receberão
o óleo são Gonzaga Mota (PSDB) e Moroni Torgan (PFL), que
votaram contra a reforma.
Os maiores alvos são os petistas José Pimentel, relator
do projeto de reforma, e João Alfredo Teles, um dos oito deputados
petistas que chegaram a se abster em uma votação. (KAMILA
FERNANDES)
Cristovam deve voltar
ao Senado e votar reformas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Educação, Cristovam Buarque, se colocou à
disposição do governo para voltar ao Senado a fim de ajudar
nas votações das reformas da Previdência e tributária
e abriu no PT a temporada de discussão sobre a reforma ministerial,
em princípio prevista para o final do ano.
O gesto fez crescer os rumores, dentro dos círculos petistas,
de que Cristovam reassumiria a cadeira no Senado para ajudar o líder
Aloizio Mercadante (SP) na votação e aprovação
das reformas, mas não voltaria ao governo. O Planalto estaria incomodado
com as frequentes reclamações do ministro por não
ter seus pedidos atendidos pela área econômica.
Um dos projetos de Cristovam, aumentar o Fundef (fundo para o ensino
fundamental), por exemplo, está parado no Ministério da
Fazenda. O ministro, por meio de sua assessoria, disse que tem uma "agenda
positiva" a cumprir no governo Lula e que não é sua
intenção deixar de vez a pasta.
A disposição de voltar ao Senado foi manifestada por Cristovam
em duas ocasiões, uma a Lula e outra ao deputado Luiz Carlos Sigmaringa
Seixas (PT-DF).
A intenção de Cristovam seria ir ao Senado e voltar ao
ministério. Mas o que se diz no PT é que ele deve dar início
às mudanças no governo. A informação também
foi passada a dirigentes do PMDB.
Amigos do ministro atribuem as especulações à "ciumeira"
por Cristovam ter sido o terceiro ministro de melhor desempenho em uma
pesquisa interna do PT.
Antes de mudar o governo, é dado como certo que Lula enxugará
a área social. O presidente resiste à idéia de antecipar
a mudança para atender o PMDB.
Uma hipótese é o remanejamento de Ciro Gomes da Integração
Nacional para o Planejamento. Guido Mantega iria para uma assessoria especial
de Lula no Planalto. O Ministério da Educação, se
Cristovam for mesmo para o Senado, continuaria com o PT.
Pelo menos dois outros ministros são citados, no PT, como candidatos
a perder os cargos: Benedita da Silva (Assistência Social) e Roberto
Amaral (Ciência e Tecnologia). (RAYMUNDO COSTA)

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