sexta-feira, 22 de agosto de 2003
Folha de S.Paulo
ECONOMIA DA REFORMA
Ministro diz a petistas que aperto fiscal dura 8 anos
Palocci condiciona queda de juros à
votação da tributária
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A austeridade fiscal durará oito anos, mas a cada ano o sacrifício
será menor. Uma queda mais significativa dos juros dependerá
da aprovação rápida da reforma tributária
e da nova Lei de Falências. A votação da reforma da
Previdência em primeiro turno na Câmara foi a principal causa
da queda, anteontem, de 2,5 pontos percentuais na taxa básica de
juros. O Banco Central já teve lucro de R$ 21 bilhões neste
ano.
A Folha apurou que esse foi o discurso do ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) a cerca de 60 deputados federais moderados do PT, com os quais
se reuniu anteontem à noite, em Brasília, para traçar
a estratégia de aprovação da reforma tributária
e da nova Lei de Falências.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá realizar
hoje à noite, no Palácio da Alvorada, um churrasco com membros
do mesmo grupo de moderados para agradecer o apoio e traçar planos.
Eleição de 2006
Ao prever a manutenção da austeridade por oito anos, o ministro
da Fazenda revelou indiretamente, segundo os presentes, que acredita na
vitória do PT na eleição presidencial de 2006.
Palocci disse que, no futuro, pode haver um superávit primário
(economia para pagamento de juros) menor que 4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto) ao ano, mas não citou um percentual. "Não vamos
ter vida fácil. Pode ser que, lá na frente, o grau de severidade
seja menor", teria dito o ministro.
Nesse patamar, Palocci espera reduzir significativamente a relação
entre a dívida pública e o PIB, um dos pilares de sua política.
Parabenizado pela queda de 2,5 pontos nos juros básicos, o ministro
disse que o mérito é dos moderados do PT. Se não
tivessem tido unidade na votação da reforma da Previdência,
teria sido maior a defecção entre os aliados e menor o número
de votos decisivos da oposição.
No encontro, Palocci foi claro, segundo relatos de deputados: "Querem
que os juros caiam mais? Votem rapidamente a reforma tributária
e a nova Lei de Falências".
Além de Palocci, estiveram presentes ao encontro os ministros
Ricardo Berzoini (Previdência) e Humberto Costa (Saúde).
Os organizadores da reunião, que aconteceu na casa de um auxiliar
do ministro José Dirceu (Casa Civil), foram os deputados Devanir
Ribeiro (SP), Paulo Rocha (PA), Professor Luizinho (SP) e Paulo Bernardo
(PR), expoentes do grupo moderado.
Punição
Ao discutir o plano de punição dos radicais petistas (três
deputados e uma senadora), os moderados decidiram adiar o julgamento de
setembro para outubro.
Como o prazo para filiação partidária de quem quer
disputar eleição em 2004 acaba no início de outubro,
a insegurança na obtenção da legenda petista poderia
forçar a saída de radicais.
A intenção da cúpula petista, dominada pelos moderados,
é expulsar só em casos extremos.
Esse mesmo raciocínio vale para o grupo de oito deputados federais
que se abstiveram na votação do texto básico da reforma
da Previdência. Alguns já perderam postos federais.
Berzoini diz que Orçamento
está ligado à reforma
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) disse ontem que, se a
reforma da Previdência não for aprovada no prazo previsto,
o Orçamento de 2004 será "muito difícil".
O governo conta com o ganho fiscal que as novas regras de aposentadoria
dos servidores públicos proporcionarão já no próximo
ano. "O Orçamento de 2004 só será razoável
-não será bom, porque todos sabemos das limitações
do país- se a reforma for efetivada. Caso contrário, será
um Orçamento muito difícil, talvez tão difícil
quanto o deste ano", afirmou.
O governo já anunciou que o Orçamento de 2004 terá
receitas de R$ 409 bilhões, um aumento de 12,6% em relação
ao atual, que é de R$ 363,2 bilhões. A lei orçamentária
de 2003 prevê receitas de R$ 352,7 bilhões, mas o número
foi revisado.
Apesar de a oposição ameaçar atrasar a votação
da reforma da Previdência, devido às dificuldades na negociação
da tributária, Berzoini disse estar convicto de que a Câmara
votará a emenda previdenciária em segundo turno na semana
que vem, como previsto.
(JULIANNA SOFIA)
INSS
Déficit já chega a R$
11,9 bilhões neste ano
As contas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) fecharam o mês
de julho com déficit de R$ 2,4 bilhões, o que representa
um aumento real -acima da inflação- de 54,6% em relação
ao mesmo período do ano passado. No ano, o resultado negativo já
chega a R$ 11,989 bilhões. Os dados de julho, divulgados pelo ministro
Ricardo Berzoini (Previdência), mostram o efeito da greve dos servidores
na concessão de aposentadorias e pensões pelo INSS. No mês
passado, o número de benefícios emitidos caiu 19,6% em relação
a julho de 2002 -o que equivale a 56.779 benefícios. Em relação
a junho deste ano, a queda foi de 11,5%. (DA SUCURSAL DE BRASÍLIA)

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