segunda-feira, 01 de setembro de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA AOS PEDAÇOS
Texto será alterado para limitar cobrança
progressiva
Governo vai rever proposta do PT de
imposto sobre bens
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para atenuar as resistências à reforma tributária
e viabilizar sua votação na Câmara dos Deputados,
o governo vai rever um capítulo do projeto que é caro ao
PT, mas incomoda particularmente o empresariado: a progressividade dos
impostos sobre o patrimônio.
Ou seja: o princípio segundo o qual valores maiores devem ser
tributados com alíquotas também maiores -tese que a reforma,
seguindo o discurso histórico petista, propõe ampliar, incluindo
os impostos cobrados sobre heranças e vendas de imóveis.
Mas, nos últimos dias, em negociações com empresários,
partidos de oposição e aliados mais próximos do centro
do espectro político, ficou praticamente acertado que o texto será
mudado para incluir limites, exceções, ressalvas e atenuantes
à regra.
No caso do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações,
cobrado pelos Estados com alíquota única de 4% sobre as
heranças), por exemplo, deverá ser incluído um teto
para as novas alíquotas progressivas.
"Precisamos esclarecer que ninguém quer enfiar a faca em
ninguém", diz Paulo Bernardo (PT-SP), representante do governo
na comissão de deputados que prepara um novo projeto de reforma
para a votação no plenário da Câmara, que deve
acontecer na quarta-feira.
É uma referência aos temores de empresários e tributaristas
em relação a alíquotas na casa de 75%, mencionadas
por membros do governo quando citam experiências de outros países.
Em resposta, o teto ficaria próximo dos 10%.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) já indicou que aceita
outra alteração, sugerida pelo PTB: isentar do imposto a
criação de fundações com objetivos sociais,
educativos e culturais.
Também bastante defendida é a isenção para
máquinas e equipamentos destinados à produção.
No limite, prevê Walter Feldman (PSDB-SP), representante tucano
nas negociações, a progressividade do ITCMD acabará
ficando optativa no texto constitucional.
"Sai o "será" e entra o "poderá ser'",
explica ele.
Imóveis, iates e jatos
O ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis, cobrado
pelos municípios com alíquota de 2%), cuja progressividade
já é introduzida de forma optativa na reforma, pode acabar
sem alteração nenhuma.
"Acho muito difícil aplicar [a progressividade do imposto]",
disse o relator do projeto de reforma tributária, deputado Virgílio
Guimarães (PT-MG).
Segundo Guimarães, está em discussão também
a cobrança do IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores) sobre veículos aquáticos e aéreos, generalizada
em seu relatório. Os empresários querem exceções
para embarcações e aeronaves destinadas à produção,
enquanto petistas mais ideológicos temem que iates e jatos particulares
escapem do imposto.
Na Câmara dos Deputados, o governo já teve de ceder em outro
tributo sobre patrimônio, o Imposto sobre Grandes Fortunas, previsto
pela Constituição, mas nunca posto em prática. Originalmente,
a reforma permitia a sua criação por lei ordinária,
que exige apenas maioria simples dos votantes, mas, pressionado, Guimarães
restabeleceu a necessidade de lei complementar, que exige maioria absoluta.
Todos os impostos em discussão arrecadam pouco. O imposto sobre
herança, por exemplo, respondeu por apenas R$ 500 milhões
dos R$ 470 bilhões arrecadados pelo país em 2002.
Os defensores da tributação progressiva sobre o patrimônio
argumentam que se trata de uma medida de justiça fiscal. Para os
opositores, não faz sentido tributar algo que é consequência
de produção e renda já tributadas anteriormente.
DOMINGO CÍVICO
Pela 1ª vez no governo, ele participa da cerimônia
de troca da bandeira
Lula abre Semana da Pátria
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez em seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva participou da cerimônia de troca da bandeira, na praça
dos Três Poderes, em Brasília. Na ocasião, declarou
abertas as comemorações da Semana da Pátria.
Lula estava acompanhado da primeira-dama, Marisa. Também estavam
presentes o vice-presidente, José Alencar, e sua mulher, Mariza,
e os ministros José Viegas (Defesa) e Celso Amorim (Relações
Exteriores).
A cerimônia de substituição da bandeira durou 50
minutos e, ao final, quebrando o protocolo, o presidente passou outros
dez minutos cumprimentando espectadores e dando autógrafos. Foi
embora sem conceder entrevista.
A substituição da bandeira do mastro principal da praça
dos Três Poderes é realizada uma vez ao mês.
Lula assistiu às evoluções da banda dos Fuzileiros
Navais e à cerimônia da Corrida do Fogo Simbólico
da Pátria. Pelos cálculos dos organizadores, o evento reuniu
de 2.000 a 2.500 pessoas.
Planalto quer limitar
concessões a governadores no texto da tributária
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo espera garantir o apoio dos governadores à reforma tributária,
ao menos na etapa da Câmara dos Deputados, com apenas duas concessões:
a definição das regras para a partilha da Cide (Contribuição
de Intervenção no Domínio Econômico, tributo
cobrado na venda de combustíveis) e mais recursos para o fundo
de compensação pelas perdas com o fim do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as exportações.
No caso da Cide, já está pronta uma minuta da prometida
medida provisória para repassar 25% da receita obtida, cerca de
R$ 2,5 bilhões anuais, aos Estados.
O fundo das exportações deverá contar com algo próximo
a R$ 7,5 bilhões, um meio-termo entre os R$ 6 bilhões de
hoje e os R$ 8,5 bilhões pleiteados pelos governadores. Na conta,
estão incluídos os R$ 2 bilhões do FPEX (Fundo de
Participação nas Exportações), cuja extinção
está prevista na reforma, mas que deverá se manter na Constituição.
Pasep
Os governadores, cujos representantes se encontrarão hoje com a
comissão de deputados que prepara uma nova proposta tributária,
querem ainda mais uma fatia das receitas federais: os R$ 2 bilhões
cobrados anualmente de Estados e municípios pelo Pasep (contribuição
destinada à seguridade social).
"Se o governo quiser nos encantar, o Pasep agora é chave",
diz o tucano Walter Feldman, colega de Estado e partido do governador
paulista, Geraldo Alckmin.
Para outros representantes dos Estados, porém, a concessão
do Pasep pode ficar para quando a reforma chegar ao Senado.
Para esvaziar outra reivindicação dos governadores, a partilha
dos R$ 24 bilhões anuais da CPMF (Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira, o imposto do cheque), o governo
deverá desistir da proposta de tornar a contribuição
permanente.
Também com o objetivo de evitar atritos, pretende-se tirar do
texto a nova cobrança do ICMS, que, pelo texto, passaria a se concentrar
nos Estados de destino das mercadorias.
São esperados cinco governadores, um de cada região, na
reunião com os deputados: Luiz Henrique (PMDB-SC), Aécio
Neves (PSDB-MG), Marconi Perillo (PSDB-GO), Wilma Faria (PSB-RN) e Flamarion
Portela (PT-RR). Ao menos um, Paulo Souto (PFL-BA), deve se encontrar
com o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). (GP)

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