Sábado, 13 de setembro de 2003
Folha de S.Paulo
ROLO TRIBUTÁRIO: Presidente
da Câmara tenta acalmar senadores da oposição
Impasse na reforma fiscal
"contamina" previdenciária
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP),
vai convidar os líderes da oposição no Senado, na
próxima segunda-feira, para uma reunião na qual pretende
explicar os acordos feitos pelos deputados para a aprovação
da reforma tributária.
João Paulo tomou a decisão após ser advertido pelo
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de que os acordos
feitos na Câmara teriam contaminado a reforma da Previdência,
que agora tramita no Senado.
Sarney telefonou a João Paulo na noite de quinta. À tarde,
os senadores, sobretudo os do Norte e do Nordeste, haviam mostrado insatisfação
com os acordos feitos com os governadores, por julgar que eles beneficiariam
os Estados mais ricos, como São Paulo.
O deputado João Paulo deve convidar para a reunião os senadores
que mais se opuseram aos acordos: Arthur Virgílio (PSDB-AM), José
Agripino (PFL-RN) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). O local da reunião
ainda não foi decidido. Sarney também deve ir. PSDB e PFL
são minoritários no Senado, com uma bancada de 29 senadores
num total de 81.
Acordos
O texto básico da reforma tributária foi aprovado na madrugada
de quinta-feira, 4, após um acordo entre os governadores estaduais,
o Palácio do Planalto e os líderes partidários, feito
no gabinete de João Paulo. Novos acordos foram feitos esta semana
para a votação dos destaques.
Segundo João Paulo, o texto da reforma não teria sido aprovado,
na madrugada do dia 4, se o Planalto não tivesse negociado e cedido
a algumas exigências dos governadores: "Naquela fatídica
quarta-feira [na madrugada de quinta-feira] certamente não teria
sido aprovada, não passaria".
Ao longo de toda a quarta-feira, 3, a posição do Planalto
fora a de não negociar e votar o projeto a qualquer custo. O governo
dizia ter segurança sobre o número de votos necessários
para aprovar a emenda, mas João Paulo, em conversas com os líderes,
avaliou que os governadores de fato poderiam tirar votos da base aliada.
Contra a vontade do Planalto, que vetara a negociação,
João Paulo falou com os governadores Geraldo Alckmin (SP), Cássio
Cunha Lima (PB), Wilma Maia (RN) e Simão Jatene (PA) e reabriu
os canais entre os Estados e o Planalto. "[A votação
de reformas] É uma discussão que não pode ficar circunscrita
a meia dúzia de pessoas", afirma João Paulo: "É
difícil alguma coisa avançar na Câmara se não
houver negociação".
Para assegurar a aprovação do texto básico, o Planalto
cedeu aos Estados e aos municípios 25% da arrecadação
da Cide e assumiu o compromisso de compensar as perdas estaduais com a
desoneração das exportações. Votado o texto
básico, São Paulo reagiu alegando perdas para os Estados.
Novas negociações foram feitas para dar aos Estados regras
mais favoráveis na partilha do ICMS e dos recursos do fundo que
vai compensar os governadores por perdas com a desoneração
das exportações. Foi a vez dos Estados do Norte e do Nordeste
reagirem.
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