Sexta-feira, 19 de setembro de 2003
Folha de S.Paulo
ROLO TRIBUTÁRIO:
Presidente diz que governo está disposto a negociar mudanças
nos projetos; objetivo é aprovar DRU e CPMF
Lula intervém na negociação
das reformas
RAQUEL ULHÔA/DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros José
Dirceu (Casa Civil) e Antônio Palocci Filho (Fazenda) assumiram
diretamente as negociações com senadores dos partidos governistas
e da oposição sobre as reformas tributária e previdenciária.
O objetivo é garantir pelo menos a aprovação da
prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira) e da DRU (Desvinculação
das Receitas da União) neste ano.
Lula reuniu-se no Palácio do Planalto com a bancada do PT e, depois,
com os líderes dos partidos aliados para discutir a previdenciária.
Dirceu conversou com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)
por telefone e prometeu resolver os problemas da Bahia na tramitação
do Senado. Palocci, por sua vez, telefonou para o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE), convidando-o para uma conversa depois de seu retorno dos Estados
Unidos.
À noite, como resultado das reuniões, o presidente afirmou
que o governo está disposto a negociar mudanças nas duas
reformas. No caso da tributária, Lula admitiu que a votação
de pontos polêmicos poderá ser adiada.
"O presidente disse que temos de fazer todo esforço para
votar o que for possível [na tributária] neste ano. Se não
for possível, será por conta da dinâmica do processo
legislativo", relatou o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).
No caso da reforma previdenciária -único assunto da conversa
com os senadores petistas-, o presidente fez um apelo para que eventuais
alterações sejam feitas dentro de um "limite"
que não desestruture a proposta que saiu da Câmara. Aos líderes
do PMDB e demais partidos aliados, pediu que as alterações
na reforma tributária não comprometam o resultado fiscal
da proposta.
"O que importa é o resultado do jogo", disse, ao admitir
mudanças no texto das reformas, desde que o "resultado fiscal"
não comprometa as contas do governo.
O próprio presidente deverá chamar também os líderes
dos partidos de oposição para uma reunião no Planalto,
para tratar das reformas, segundo o líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP). "Essa conversa seria muito positiva.
A posição dos líderes da oposição no
Senado é muito construtiva. Não vejo dificuldade em se fazer
o diálogo com a oposição", disse Mercadante.
"Se me chamar para uma conversa sobre reformas, eu irei. Não
vou para convescote, mas, para tratar de interesse nacional, vou",
já antecipou o líder do PFL, senador José Agripino
(RN).
O senador Antonio Carlos Magalhães não revelou qual foi
a fórmula proposta por Dirceu, mas afirmou ter ficado "mais
confortável" após a conversa.
Segundo pefelistas, a solução apresentada é o adiamento
da discussão sobre a cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) na origem (Estado produtor) ou no destino
(Estado consumidor).
"Espero que o governo não retalie a Bahia, como está
fazendo, até porque os compromissos assumidos -inclusive na semana
passada pelo presidente- não foram cumpridos na Câmara. Agora
existe a promessa de resolver esses assuntos pendentes no
Senado, o que espero que aconteça", disse o senador ACM.
O PFL da Bahia queria retirar das novas regras do ICMS as empresas que
receberam benefícios fiscais para poupar a Ford.
No caso da previdenciária, Lula admitiu alterações
nas regras do subteto salarial dos servidores do Executivo estadual e
municipal, desde que negociadas com governadores e prefeitos. Os senadores
do PT defenderam mudanças nas regras de transição
com o objetivo de favorecer servidores que começaram a trabalhar
cedo e estão prestes a se aposentar.
Também foi defendida a criação de uma faixa de isenção
na contribuição dos inativos para beneficiar pessoas com
idade avançada e portadores de doenças graves.

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