Terça-feira, 23 de setembro
de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA AOS PEDAÇOS: Pela
regra, governador pode criar subteto maior que seu salário
Estados querem novo teto, diz petista
RAQUEL ULHÔA - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou
ontem que pelo menos quatro governadores já concordaram com a mudança
da regra do subteto salarial dos servidores do Executivo estadual prevista
na reforma da Previdência.
Geraldo Alckmin (SP), Germano Rigotto (RS), Ronaldo Lessa (AL) e Marconi
Perillo (GO) foram consultados por Mercadante e estariam de acordo com
a regra pela qual o governador, se quiser, poderá fixar um subteto
superior ao seu salário.
Em reunião no início da noite, no Palácio do Planalto,
o ministro José Dirceu (Casa Civil) afirmou aos líderes
aliados do Senado que os governadores não querem outra alteração
no texto além da questão do subteto. Segundo participantes,
o ministro afirmou que os governadores estão "mais conservadores
do que nunca".
Trechos da reforma que sofrerem alteração de mérito
terão de ser votados novamente na Câmara, adiando a entrada
em vigor das novas regras.
Na reunião, Mercadante fez um relato sobre as negociações
políticas em torno da tramitação das duas reformas
no Senado, a previdenciária e a tributária. Ele confirmou
que os governadores resistem a mudanças nas regras de transição
e na taxação dos inativos -dois pontos que até os
aliados querem mexer.
O líder do PT, Tião Viana (AC), relator da reforma da Previdência,
disse que já está recebendo do presidente da CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça), Edison Lobão (PFL-MA),
as mais de 40 emendas apresentadas e, por isso, apresentará seu
parecer amanhã, quando poderá ocorrer a votação
na comissão. Ele havia anunciado que só apresentaria seu
parecer na quinta-feira. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),
previu que a votação em primeiro turno da reforma da Previdência
ocorrerá entre os dias 29 de outubro e 5 de novembro.
Tributária
Sarney também falou sobre a possibilidade de o Senado fatiar a
reforma tributária -proposta que ainda está na Câmara-,
aprovando neste ano somente as questões consensuais e adiando a
discussão de temas polêmicos, como a definição
sobre a cobrança do ICMS na origem ou no destino. "Nessa questão
do ICMS é preciso consenso maior", reconheceu Sarney.
Segundo ele, o fatiamento é possível, desde que a reforma
tributária não seja "deformada" e que os compromissos
de Lula com os governadores sejam "assegurados".
Governo pretende votar 2º turno
da tributária amanhã
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A liderança do governo na Câmara pretende votar amanhã
a reforma tributária em segundo turno, mas, para isso, terá
que limpar a pauta trancada pela medida provisória 127, que compensa
perdas das empresas distribuidoras de energia elétrica decorrentes
do racionamento iniciado em 2001.
Com prazo de apreciação vencido, a MP impede que qualquer
outra matéria seja votada antes dela.
A MP foi editada em agosto e, entre outras coisas, autoriza o BNDES a
conceder financiamento às empresas para suprir o adiamento de compensação
prevista em MP anterior.
O relator, deputado João Almeida (PSDB-BA), afirmou que a maioria
das demandas já está negociada.
O problema é que o PFL pretende obstruir a votação
para tentar atrasar o término da tramitação da reforma
tributária na Câmara, que foi aprovada totalmente em primeiro
turno na última quarta-feira.
O partido não se sente contemplado nas negociações
e disse que usará as manobras regimentais de protelação.
A promessa é que não se repita a divisão ocorrida
no primeiro turno, quando os pefelistas acabaram não conseguindo
emplacar uma alteração na reforma que beneficiaria os cofres
da Bahia, que teme perder arrecadação com as novas regras
de cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços, principal fonte de receitas dos Estados).
A Bahia é governada pelo pefelista Paulo Souto.
Na votação do segundo turno, o PFL anunciou que apresentará
os três destaques (tentativa de modificação de parte
do texto) de bancada a que tem direito, o principal deles para suprimir
as modificações propostas para o ICMS.
Os governistas conseguiram assegurar quórum mínimo (52
de 513 deputados) para a sessão de ontem -uma segunda-feira, dia
em que poucos deputados estão em Brasília-, o que evitou
o atraso no cronograma, já que são necessárias cinco
sessões entre as votações de primeiro e segundo turno.
(RANIER BRAGON)

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