Quarta-feira, 24 de setembro de 2003
Folha de S.Paulo
Parecer da Previdência é
analisado
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O parecer do líder do PT, Tião Viana (AC), mantendo inalterada
a proposta de reforma da Previdência aprovada pela Câmara
deverá ser votado hoje na CCJ (Comissão de Constituição
e Justiça). O PFL vai apresentar voto em separado fazendo várias
alterações no texto, mas já prevê derrota.
Para assegurar a aprovação, dois titulares do PMDB cujos
votos eram considerados duvidosos pelo governo -José Maranhão
(PB) e Papaléo Paes (AP)- estavam sendo convencidos pelo partido
a não votar. Nesse caso, eles seriam substituídos pelos
primeiros suplentes do partido: Romero Jucá (RR) e Luiz Otávio
(PA).
Até o início da noite, pelo menos Paes continuava disposto
a rejeitar a reforma. "Se não me tirarem da comissão,
votarei contra", afirmou o peemedebista.
O segundo passo da estratégia do PFL para tentar atrapalhar a
votação consiste em apresentar destaques pedindo apreciação
de mais de cem emendas separadamente. Esse direito será garantido,
segundo o presidente da CCJ, Edison Lobão (PFL-MA).
"Seria antidemocrático impedir a votação em
separado. A reunião será demorada, chata, com a votação
de 150 emendas, mas, ao final, a proposta ficará como o governo
quer", previu Lobão.
Embora prevendo tumultos na reunião de hoje, os governistas estavam
confiantes na aprovação do parecer de Viana. A intenção
do governo é permitir alteração no texto só
na tramitação em plenário, para restringir a fase
de negociações, em que o Planalto deverá fazer concessões
à oposição.
O único ponto que o governo já deu sinal verde para ser
alterado é a regra do subteto dos servidores do Executivo estadual.
Pelo texto aprovado na Câmara, a soma das remunerações
do servidores do Executivo no Estado não pode ultrapassar o salário
do governador.
A alternativa que está sendo negociada no Senado é dar
ao governador a prerrogativa de propor projeto de lei à Assembléia
fixando subteto maior, desde que limitado ao salário de desembargador
-90,25% da remuneração de ministro do STF (Supremo Tribunal
Federal), que é de R$ 17,3 mil.
São necessários 12 votos para aprovar a reforma na CCJ.
Dos 23 titulares, o bloco de apoio ao governo (PT, PSB, PTB e PL) tem
7 votos, o PMDB, 6, e o PPS, 1. Além desses 14, os governistas
esperam contar com pelo menos mais 2 na oposição. O PSDB,
que tem três votos, decidiu votar a favor.
Governo tenta votar texto tributário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai tentar na noite de hoje votar o 2º turno da reforma
tributária na Câmara dos Deputados, o que encerraria a tramitação
iniciada em 30 de abril. A idéia é aprovar o texto e rejeitar
todas as emendas que serão apresentadas principalmente pelo PFL,
que se isolou na oposição aos principais pontos da reforma
e que pretende promover manobras regimentais com o objetivo de empurrar
a votação para a semana que vem.
Segundo o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP),
a intenção é votar a proposta -que já sofreu
diversas alterações em relação ao texto enviado
pelo Executivo- até amanhã.
A reforma foi aprovada em 1º turno na última quarta-feira
e, caso passe em segundo turno, segue para o Senado.
"É claro que se houver dificuldade de quórum, aliado
à obstrução do PFL, isso pode significar percalços
que empurrariam a votação para a semana que vem", afirmou
João Paulo. Os governistas conseguiram no final da tarde de ontem
um acordo com o PFL para votar, sem obstrução, a medida
provisória 127, que trancava a pauta de votações.
A MP, que autoriza o BNDES a financiar empresas de distribuição
de energia afetadas pelo racionamento iniciado em 2001, foi aprovada no
início da noite.
O possível acordo, porém, não se estenderia para
a votação da reforma. O PFL tem direito a apresentar três
destaques (tentativas de alteração de pontos do texto) de
bancada. O mais delicado para o governo será o que propõe
a derrubada de uma das alterações propostas para o ICMS
(Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços,
principal fonte de receita dos Estados), transferindo parte de sua arrecadação
dos Estados de origem para os Estados de destino das mercadorias.
A bancada de São Paulo, influenciada pelo governador Geraldo Alckmin
(PSDB), é favorável á derrubada da alteração.
Cabe ao governo assegurar 60% dos votos dos deputados, 308 de 513, para
manter o texto original e rejeitar o destaque pefelista.
A base aliada teme que se repita o ocorrido na votação
de 1º turno, quando o governo não conseguiu os 308 votos para
manter a proposta de tornar progressiva as alíquotas do imposto
sobre heranças e doações. Houve apenas 280 votos
pró-governo.
(RANIER BRAGON)

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