quinta-feira, 30 de outubro de 2003
Folha de S.Paulo
FISCO EM GUERRA
Audiência teve clima hostil a Moacir Leão
Câmara faz "desagravo"
à Receita e ataca corregedor-geral do órgão
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O corregedor-geral da Receita Federal, Moacir Leão, foi atacado
ontem em audiência pública na Comissão de Fiscalização
e Controle da Câmara dos Deputados. A audiência teve clima
de desagravo à Receita, com todos os deputados presentes fazendo
críticas a Leão e elogiando e defendendo o trabalho do órgão.
Na audiência, o superintendente da Receita no Rio e no Espírito
Santo, Paulo Avis de Souza Freitas, disse que está demissionário
do cargo. Ele informou aos deputados que conversaria com o secretário
da Receita, Jorge Rachid, sobre o tema ainda ontem. Alegou problemas de
saúde, agravados pela recente polêmica envolvendo a instituição.
Durante a audiência, o corregedor-geral foi chamado de "covarde"
por José Góes Filho, delegado da Receita Federal e chefe
da Derat (Delegacia de Arrecadação Tributária) no
Rio de Janeiro.
As divergências entre Rachid e Leão tornaram-se públicas
com a divulgação de conteúdo de conversas telefônicas
grampeadas pela Polícia Federal com autorização judicial.
São gravações que mostram Rachid e seu secretário-adjunto,
Ricardo Pinheiro, discutindo formas de rebater acusações
levantadas pelo corregedor.
As investigações no Rio de Janeiro são outro problema.
No início do mês, a corregedoria deu início a uma
auditoria na Derat, onde há suspeita de envolvimento de funcionários
com supostas quadrilhas de fraudadores do fisco e da Previdência
Social.
O esquema teria causado um prejuízo de pelo menos R$ 250 milhões
aos cofres públicos. A cifra refere-se à compensação
de tributos supostamente irregulares concedidos durante 15 dias em que
os envolvidos foram monitorados por escuta telefônica.
Góes Filho, que esteve foragido da Justiça, foi preso e
liberado, desafiou: "Desafio o doutor Moacir Leão, a qualquer
momento, em qualquer audiência, frente a frente comigo, a mostrar
que existe essa fraude. Não existe a fraude, a Receita tem um controle
muito bom". "Eu lamento que ele não venha aqui. Isso
é covardia." Segundo Góes Filho, é "impossível"
haver fraude e Brasília não saber.
OUTRO LADO
Corregedor já
disse que apenas cumpre seu dever
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O corregedor-geral da Receita, Moacir Leão, foi procurado pela
Folha durante toda a tarde de ontem, por telefone, em Brasília
e no Rio de Janeiro. Apesar dos recados, ele não ligou de volta
até a conclusão desta edição.
Em outra ocasião, Leão rebateu críticas à
sua gestão dizendo estar cumprindo o seu dever.
Na ocasião, ele disse que ficaria surpreso se fosse afastado do
cargo e negou que teria passado para a imprensa dados sigilosos. "Não
divulguei nem mesmo as fitas que contêm diálogos de pessoas
que revelam ódio contra mim. Mas ainda que tivesse feito, não
teria feito nada além de agir em defesa própria."

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