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Sábado, 08 de novembro de 2003
Folha de S.Paulo
TRIBUTAÇÃO
Ministro diz a empresários que, se alguém o convencer,
aceitará correções; Receita é contra alíquota
menor
Palocci já admite alterações
na MP da Cofins no Congresso
GUILHERME BARROS / EDITOR DO PAINEL S.A.
Durante o
encontro com empresários na quinta-feira, em Brasília, o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, admitiu que, durante o período
de tramitação no Congresso Nacional, é possível
que o governo aceite algumas mudanças na medida provisória
nº 135, que aumenta a alíquota da Cofins (Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social) de 3% para 7,6%, a partir de
fevereiro.
Palocci disse,
de acordo com o relato de alguns empresários, que está aberto
ao diálogo e admitiu a hipótese de promover alguma correção
na MP, caso seja convencido dessa necessidade por algum setor. A informação
foi confirmada por Palocci, através de sua assessoria de imprensa.
O ministro
da Fazenda deu essas declarações logo após uma bateria
de reclamações de alguns empresários contra o aumento
da Cofins. "Alguns empresários se queixaram do aumento da
contribuição", diz Josué Gomes da Silva, da
Coteminas, que esteve presente no encontro e é filho do vice-presidente
da República, José Alencar.
De acordo
com o que a Folha apurou, os empresários alegaram que o aumento
da Cofins provocará aumento da carga tributária.
No início
da semana, logo depois de ter editado o pacote tributário com o
aumento da Cofins, no dia 31 de outubro, o governo tinha demonstrado pouca
disposição de promover alguma mudança na MP. Palocci
mostrou-se mais flexível na conversa com os empresários.
Receita
é contra
O secretário
da Receita Federal, Jorge Rachid, afirmou à Folha que não
participou da reunião com os empresários e, portanto, não
podia comentar o que Palocci teria declarado, mas garantiu que, se houver
mudança, não será na alíquota. "Nossa
posição é a de que não há a menor possibilidade
de mudança na alíquota."
De acordo
com Rachid, a MP já prevê algumas exceções
para setores que seriam prejudicados pelo aumento da alíquota.
Entre eles,
citou os setores de pneus, de automóveis, de cosméticos,
de comunicação, de bebidas e de cigarros, além das
empresas optantes pelo Simples e as tributadas pelo lucro presumido.
São,
de acordo com Rachid, os setores considerados monofásicos. Ou seja,
aqueles em que a contribuição é cobrada apenas uma
vez na cadeia produtiva.
O empresário
Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim,
presente ao encontro com Palocci, disse que não tem dúvida
de que o aumento da Cofins prejudicará sensivelmente o setor de
serviços. Já a indústria, segundo ele, será
beneficiada pela não-cumulatividade.
Por esse sistema,
a empresa poderá compensar os créditos referentes à
compra de insumos, bens e serviços no cálculo da contribuição
devida.
Os empresários
argumentam que a não-cumulatividade do PIS, cuja alíquota
aumentou de 0,65% para 1,65%, não trouxe benefícios às
empresas, e ainda aumentou a carga tributária. Com a Cofins, os
empresários acham que irá acontecer a mesma coisa.
O economista
Raul Velloso, especialista em contas públicas, acha que a novela
da MP da Cofins está apenas começando. Segundo ele, durante
a negociação do MP no Congresso, o governo deverá
mesmo fazer algumas concessões. "No setor de serviços,
só deverão ficar as grandes empresas", diz Velloso.
O deputado
Delfim Neto (PP-SP) também acha que o governo deverá abrir
mais algumas exceções durante a tramitação
da MP no Congresso. "A alíquota final da Cofins está
mais para 6,7% do que para 7,6%", diz ele.

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