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Sábado, 15 de novembro de 2003
Folha de S.Paulo
Governo planeja novo IR para 2004
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A redução
das deduções no Imposto de Renda das pessoas físicas
para as faixas de renda mais altas continua em estudo no Ministério
da Fazenda e pode sair ainda neste ano para vigorar em 2004.
O ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho, sempre disse que era sua intenção
modificar a tabela do IR para que ela se tornasse mais progressiva. Ou
seja, tributar mais quem ganha mais, elevando o número de alíquotas
da tabela.
Mas a tentativa
de prorrogar a vigência da alíquota de 27,5%, por meio de
um projeto de lei, acabou fazendo com que os congressistas começassem
a discutir novamente a necessidade de correção dos valores
da tabela. A correção, porém, gera perdas de arrecadação
para o governo federal e para os Estados.
Para mudar
o tom da discussão, o governo poderá aproveitar a tramitação
desse projeto e fazer as mudanças na tabela.
A Folha apurou
que o ministro já tem vários modelos feitos pela Receita
Federal, mas ainda não se decidiu por nenhum. De qualquer forma,
estão descartadas a criação de uma alíquota
de 35% e a correção do limite de isenção,
que hoje é de R$ 1.058. Esse total, segundo os técnicos,
já é duas vezes a renda per capita do país.
A experiência
internacional mostra que a tributação ou começa logo
após a faixa correspondente à renda per capita ou não
existe limite de isenção.
Sobre as deduções,
o objetivo é fazer com que pessoas situadas em alíquotas
diferentes tenham a mesma dedução. Um estudo da Receita
com base na declaração de 1999 mostra que um contribuinte
da alíquota de 15% descontou no máximo R$ 255 de imposto
naquele ano. Quem estava na alíquota de 27,5%, em uma faixa de
renda mais alta, descontou até R$ 467,50.
No mesmo período,
o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério) garantia
R$ 350 por aluno matriculado em escola pública. Os técnicos
lembram que 18% dos recursos do Imposto de Renda destinam-se à
educação pública.
Em 1999, o
total de todas as deduções somaram R$ 53,6 bilhões,
mas o benefício fiscal, ou seja, a redução do imposto
devido, foi de R$ 10,3 bilhões. Para 2004, a estimativa é
de que apenas as deduções de saúde, educação
e dependentes faça com que o governo deixe de arrecadar R$ 11,7
bilhões.
As pessoas
com renda acima de R$ 10 mil que declararam pelo formulário completo
em 1999 apresentaram uma dedução média de R$ 2.650
-75% das pessoas nessa faixa de renda preferiram declarar por esse formulário
para aproveitar as deduções.
REFORMA AOS PEDAÇOS
Pela proposta, unificação do ICMS e fim
da guerra fiscal ficariam para 2005; Lula dará palavra final
Palocci avaliza tributária em
três etapas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, deu ontem aval às negociações
com a oposição feitas pelo líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), com o objetivo de implantar a reforma tributária
em três fases. A palavra final será dada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira.
Ontem, após
audiência com Palocci pela manhã, Mercadante reuniu-se em
seu gabinete com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid,
o secretário-adjunto do Ministério da Fazenda, Arno Augustin,
e o relator da reforma tributária, senador Romero Jucá (PMDB-RR).
"Há
bastante disposição do governo de construir a reforma tributária
como processo, desenhando as três etapas", disse Mercadante,
após a conversa com o ministro.
Segundo o
senador, a idéia de aprovar a emenda constitucional prevendo a
implantação da reforma em etapas só será levada
adiante se não houver riscos à promulgação
da primeira fase neste ano.
É que,
com as mudanças no texto da Câmara, deverão ser promulgados
até dezembro pelo menos os pontos consensuais. O que for alterado
tem de voltar à Câmara. Há receio de que essa "promulgação
fatiada" possa ter sua constitucionalidade questionada.
O governo
precisa garantir a promulgação até 31 de dezembro
pelo menos da prorrogação da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira) e da DRU
(Desvinculação das Receitas da União), do fundo de
desoneração das exportações e da partilha
da Cide (contribuição cobrada sobre combustíveis)
com os Estados.
Esta seria
a primeira fase da reforma. Essas fontes de receita têm de entrar
em vigor em 2004 porque União e Estados contam com esse dinheiro.
Segundo Mercadante,
ficariam para 2005 -a segunda fase- a unificação do ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços),
o fim da guerra fiscal e os mecanismos de desenvolvimento regional. Esses
pontos dependem de legislação complementar para entrarem
em vigor.
Por fim, a
implantação da reforma seria concluída em 2007, com
a "perspectiva de construir um imposto de valor adicionado (IVA)
e unificar as contribuições sociais".
O líder
afirmou que estão sendo discutidos os itens que poderão
constar em cada etapa. "Estamos construindo com o governo vários
cenários. Vamos oferecer uma série de alternativas para
a oposição", afirmou Mercadante.
Na próxima
segunda-feira, haverá reunião de líderes e senadores
envolvidos na reforma tributária, depois da conversa de Mercadante
com Lula.
Jucá
pediu ao secretário da Receita e ao secretário-adjunto da
Fazenda alguns dados a respeito do impacto do IVA nos Estados e do tipo
de alíquota que poderia ser adotada.
"Na verdade,
é fazer conta, é verificar onde se pode avançar.
É preciso um mecanismo de garantias para que não tenham
prejuízos alguns Estados, que perderiam num primeiro momento",
disse o relator.
(RAQUEL ULHÔA)

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