quinta-feira, 20 de novembro de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA AOS PEDAÇOS
Por falta de acordo, tributária
pode voltar à Câmara
Nem fatiada reforma tem a aprovação
garantida
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do aval do Planalto ao fatiamento da reforma tributária,
a prorrogação da DRU e da alíquota da CPMF, a primeira
das três etapas previstas -e a que mais interessa no momento ao
governo-, ainda depende de acordo com a oposição para ser
aprovada até o final do ano e valer a partir de 2004.
Pressionado pelo calendário, o governo precisa aprovar a prorrogação
da alíquota de 0,38% do chamado imposto do cheque (CPMF) -que cairia
para 0,08% em janeiro sem a mudança- e da Desvinculação
de Receitas da União (DRU) no Congresso até 31 de dezembro,
para assegurar receitas já a partir de janeiro do próximo
ano. Para que isso ocorra, o Senado precisa votar um texto de modo que
ele não precise voltar à apreciação da Câmara.
Tecnicamente, isso é possível. O problema é político.
O PSDB, por exemplo, quer ter acesso às estimativas da Receita
sobre a arrecadação da Cofins, o que tem sido negado. O
partido suspeita que ela possa chegar a R$ 15 bilhões, o que poderia
tornar dispensável a cobrança da CPMF pela alíquota
máxima.
Nos cálculos da oposição, a arrecadação
extra do governo em 2004, depois de uma série de medidas tributárias
adotadas neste ano, poderia chegar a R$ 20 bilhões. "É
tamanha violência que não precisa de todo o imposto do cheque
para atender o ajuste fiscal", diz o principal assessor tucano para
a reforma, o economista José Roberto Afonso.
Se houver acordo, o Congresso deve promulgar em dezembro a prorrogação
da CPMF e da DRU, além de dois outros itens de interesse dos Estados.
O restante da emenda Tasso Jereissati (PSDB-CE), que determina o fatiamento
em três etapas, seria encaminhada à Câmara para ser
apreciada no próximo ano.
Divergências
O texto aprovado na Câmara estabelece na Constituição
a alíquota de 0,38% para a cobrança da CPMF, até
que uma regulamentação seja votada, e deixa para a União
parte da receita da Cide (contribuição cobrada sobre a venda
de combustíveis) que seria partilhada com os governos estaduais.
A oposição condena as duas medidas.
O PSDB só aceita manter a constitucionalização da
alíquota de 0,38% da CPMF se for estabelecido um gatilho pelo qual
a alíquota diminuirá sempre que a arrecadação
aumentar. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP),
já descartou essa hipótese.
Oposição e governo podem convergir para outra fórmula:
suprimir da emenda Tasso a alíquota de 0,38% e o gatilho. Aprovada,
a CPMF poderia ser promulgada sem precisar voltar para nova apreciação
na Câmara, pois nada de novo teria sido acrescentado ao texto pelo
Senado.
O mesmo princípio vale para a Cide: basta suprimir do texto aprovado
na Câmara a parte que aplica a DRU sobre o total a ser repartido
com os Estados. Ou seja, tecnicamente, a promulgação dos
itens do ajuste fiscal é possível. O problema é político.
Fundo de compensação
Além das divergências sobre a cobrança da CPMF e o
partilhamento da Cide, falta definir claramente as fontes de receitas
do fundo a ser criado para compensar os Estados que concedem incentivo
fiscal às exportações. A reforma da Previdência
também ainda ameaça contaminar a votação da
tributária.
Exemplo disso é a reação dos governadores do PSDB
a um anunciado acordo do Planalto com o PMDB para retirar da reforma previdenciária
o artigo que estabelece o subteto salarial nos Estados. A medida interessa
especialmente aos governadores Geraldo Alckmin (SP), Aécio Neves
(MG) e Marconi Perillo (GO), mas é combatida pelos governadores
do Sul, todos do PMDB.

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