sexta-feira, 21 de novembro de 2003
Folha de S.Paulo
TRIBUTAÇÃO
Abatimentos seriam de 20% para todos; Rachid diz que seria
tirar do andar de cima para beneficiar o de baixo
Classe média pode ter dedução
menor no IR
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, admitiu ontem que
o governo poderá diminuir os abatimentos com saúde, educação
e dependentes no Imposto de Renda. Resultado: a classe média, que
aproveita mais essas deduções, pagaria mais imposto.
Para compensar esse aumento sobre os que ganham mais, haveria correção
no limite de isenção -valor sobre o qual não há
imposto. "O objetivo é manter a arrecadação
atual. Para beneficiar o andar de baixo, temos que tirar do andar de cima."
Rachid informou que existem vários modelos em estudo e que o ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ainda não se decidiu por nenhum.
A Folha apurou, porém, que a mudança preferida até
o momento é a que corrige o limite de isenção de
R$ 1.058 mensais para R$ 1.164, ou 10% de aumento (o valor exato seria
de R$ 1.163,80, mas a Receita costuma arredondá-lo).
O efeito da correção sobre os salários será
pequeno no fim do mês. O ganho para quem tem renda tributável
acima de R$ 1.164 será de R$ 15,90. Ou seja, o limite de isenção
subiria R$ 106, passando dos atuais R$ 1.058 para os R$ 1.164. Como esses
R$ 106 deixam de pagar 15%, o ganho é de R$ 15,90. Quem recebe
de R$ 1.058 a R$ 1.164 deixará de pagar valores progressivos, até
os R$ 15,90.
Segundo o estudo, o desconto no imposto devido em cada despesa dedutível
deixaria de ser de 15% ou 27,5% para ser de 20% para todos. Com uma despesa
médica de R$ 100, por exemplo, o contribuinte tributado em 15%
deixa de pagar R$ 15. O tributado em 27,5% deixa de pagar R$ 27,50.
Portanto, com a mudança, o contribuinte da primeira faixa -que
ganha até R$ 2.115 mensais- passaria a ter desconto de R$ 20, ou
seja, R$ 5 a mais do que hoje. Já o da segunda faixa, ao ter direito
também ao desconto limitado a R$ 20, perderia R$ 7,50. Dessa forma,
seria eliminada uma distorção da tabela atual, na qual as
pessoas que ganham mais deduzem mais.
Apenas 6,6% dos contribuintes pagam Imposto de Renda no país.
Desse total, 58% estão na alíquota de 15% e 42% na de 27,5%.
De acordo com Rachid, o governo poderá aproveitar e introduzir
as mudanças no projeto de conversão da medida provisória
que prorroga a alíquota de 27,5%, que já está no
Congresso. Se a medida não for aprovada neste ano, a alíquota
volta para 25% e o governo perde cerca de R$ 3 bilhões.
Rachid já havia descartado a correção do limite
de isenção porque o valor atual corresponde a mais de duas
vezes a renda per capita do país. Mas, como os congressistas da
oposição vêm pressionando pela correção
da tabela, o aumento do limite poderia funcionar como um instrumento de
negociação. Os demais valores permaneceriam sem correção.
O governo avalia que, no final das contas, os Estados pedirão
aos congressistas que aprovem as mudanças porque quase metade da
arrecadação do imposto é dividida com os governadores.
Palocci sinaliza rever
alta da Cofins, diz consultor
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob pressão de empresários, o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) sinalizou a possibilidade de rever o aumento da Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social)
de 3% para 7,6% sobre o faturamento das empresas, fixado por medida provisória
no início do mês.
A indicação foi relatada ontem pelo consultor Antoninho
Marmo Trevisan em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico
e Social. Trevisan se encontrara com Palocci na véspera. "O
ministro sustenta a palavra empenhada de que não haverá
aumento da carga tributária e está aberto a rever isso",
contou Trevisan sobre o aumento da Cofins.
Durante a reunião, outro membro do conselho, o empresário
Paulo Skaf, da Abit (Associação Brasileira da Indústria
Têxtil e de Confecção), propôs que se criasse
uma comissão emergencial para impedir o aumento da contribuição.
"Não podemos permitir em hipótese nenhuma que cresça
a carga tributária, expondo a palavra do presidente da República."
O secretário-executivo do conselho, ministro Tarso Genro, se comprometeu
a intermediar uma solução para impedir o aumento dos impostos.
"O conselho é depositário de um compromisso do presidente
Lula de não aumentar a carga tributária."
O ministro vem insistindo em que a intenção do governo
não é aumentar a carga de impostos. Mas o projeto de lei
orçamentária para 2004 encaminhado ao Congresso prevê
aumento da receita com a Cofins em R$ 4,4 bilhões.

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