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Terça-feira, 25 de novembro
de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA AOS PEDAÇOS
Previdenciária vai à votação
hoje após acerto sobre subteto
Governo
faz acordo e aposta na oposição para aprovar reforma
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo
fechou acordo com o governador Germano Rigotto (RS), do PMDB, sobre os
critérios do subteto salarial dos Estados previsto na reforma da
Previdência, que satisfez aos governadores do PSDB. Hoje, governo
e oposição se enfrentam na primeira votação
da emenda constitucional no plenário do Senado.
O governo
espera contar com os dissidentes tucanos e pefelistas na votação
de hoje que, somados aos senadores da base governista, garantem os votos
para a aprovação da reforma -são necessários,
no mínimo, 49 votos a favor. O desafio do governo será reunir
esses senadores no plenário.
Ontem foi
um dia de fazer contas. O líder do PT no Senado e relator da reforma
da Previdência, Tião Viana (AC), disse que o governo teria
53 votos -quatro a mais do que o necessário.
Na verdade,
o governo acredita que a favor do texto básico são 45 votos
assegurados apenas dos partidos aliados. Se somados aos dissidentes do
PFL e do PSDB, podem chegar a 59. Apesar do acordo fechado ontem com Rigotto,
o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), vai encaminhar hoje
voto contra a reforma. PSDB e PFL, principais partidos de oposição,
liberaram suas bancadas, ou seja, cada senador terá a liberdade
de votar como quiser, embora a orientação dos líderes
seja no sentido de rejeitar a proposta.
Sem votos
suficientes para rejeitar a reforma ou aprovar requerimentos para votação
em separado de pontos mais polêmicos, a estratégia da oposição
será tentar forçar os senadores a se expor, assumindo posição
favorável ou contra medidas impopulares.
Para isso,
a tática será pedir votação nominal (com registro
individual dos votos) na apreciação dos requerimentos.
Pelo acordo
fechado ontem pelo líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP),
com Rigotto, será mantido na emenda original da reforma, aprovada
na Câmara dos Deputados, o dispositivo que estabelece três
subtetos salariais para os Estados -o do Executivo limitado pelo salário
de governador, o do Judiciário, pelo subsídio de desembargador,
e o do Legislativo, pela remuneração do deputado federal.
Por outro
lado, a chamada "PEC paralela" -emenda proposta no Senado como
forma de alterar a reforma da Previdência sem mexer no texto original-
vai permitir que o governador, se quiser, estabeleça subteto único
no Estado, que poderá chegar até o valor de salário
de desembargador -que equivale a 90,25% do salário de ministro
do Supremo Tribunal Federal, hoje R$ 17 mil.
O chefe do
Executivo estadual terá um prazo de 60 dias para enviar projeto
de lei à respectiva Assembléia Legislativa propondo esse
subteto.
Entendimento
Pelo entendimento
mantido ontem, enquanto não for promulgada a PEC paralela, o governador
que não concordar com o subteto vinculado à sua remuneração
poderá fixar um salário de referência, com duração
provisória, exclusivamente para servir de teto remuneratório
no Estado.
Esse é
o caso de Rigotto, que considera seu salário baixo (cerca de R$
6.000 brutos) para limitar os salários do funcionalismo. Além
disso, ele defende subteto único aos três poderes.
"O tempo
vai mostrar que os subtetos diferenciados aumentarão as distorções
entre os Poderes", disse. Ele fez questão de dizer que a ampliação
do teto no Estado não significa elevação salarial
do funcionalismo. "O subteto simplesmente provocará a redução
dos salários que estão acima."
Rigotto defendia
a supressão do dispositivo que regulamenta o subteto no texto original
da reforma, mas a proposta tinha oposição dos governadores
tucanos Aécio Neves (MG), Geraldo Alckmin (SP) e Lúcio Alcântara
(CE).
Ontem, Aécio
comemorou o resultado da negociação no Senado. "Serão
mantidos os tetos diferenciados. Foi a vitória da racionalidade.
Vamos encontrar solução para o impasse do Rio Grande do
Sul, que tem toda a nossa solidariedade", afirmou. O acordo tem pelo
menos um ponto frágil: pressupõe que haja acordo para aprovação
da PEC paralela. Mas, no Senado, PFL e PSDB continuam contra essa emenda.
ROLO TRIBUTÁRIO: Texto
sai do Senado
João Paulo diz que pode votar
"nova tributária"
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O presidente
da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), disse
ontem que as mudanças que os senadores fizerem no texto da reforma
tributária, se forem muito diferentes do aprovado pela Câmara,
farão com que a matéria seja tratada pelos deputados "como
uma nova reforma" quando retornar à Câmara.
"O núcleo
do que foi aprovado na Câmara nesta primeira fase vai ser aprovado
também [no Senado]. Não vai voltar para a Câmara a
reforma toda. Vai aprovar uma parte e promulgar. A outra parte continua
no Senado, e aquilo que for muito diferente volta para a Câmara.
E aí, [sendo] muito diferente, nós vamos tratar como uma
nova reforma."
Assim, João
Paulo mostra mais uma vez seu descontentamento com as modificações
profundas que o Senado tenta fazer no texto. Logo que a reforma tributária
foi aprovada pela Câmara e seguiu para o Senado, ele declarou que
a melhor reforma é a aprovada pela Câmara e que, portanto,
seria um "erro" o Senado modificá-la.
João
Paulo, que foi a Belo Horizonte receber o título de cidadão
honorário, não explicou o que seria essa "nova reforma".
Questionado se estava se referindo a um novo fatiamento da reforma, respondeu:
"Não sei".
A seu lado,
o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), relator da matéria
na Câmara, completou: "Isso é o Senado, né?".
Previdência
Sobre a outra
reforma em tramitação, a da Previdência, João
Paulo disse que a decisão de ontem acertada pelo líder do
governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), com o governador Germano
Rigotto (PMDB-RS) foi "a melhor para o Brasil".
O acordo mantém
o subteto salarial dos três Poderes de acordo com o texto aprovado
na Câmara, mas abre uma alternativa para que haja uma solução
para os Estados que temem o achatamento dos salários dos servidores.
Ao lado de
João Paulo, no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro,
o governador Aécio Neves (PSDB) comemorou o acordo na reforma da
Previdência: "Foi a vitória da tese da racionalidade".
Aécio
Neves, que vinha criticando a tentativa de deixar apenas para os Estados
a definição dos subtetos, disse que está disposto
a ajudar Rigotto a resolver o "impasse" no Rio Grande do Sul:
"O Rigotto tem toda a nossa solidariedade", declarou.

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