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Sábado, 29 de novembro de 2003
Folha de S.Paulo
PREVIDÊNCIA PETISTA
Presidente da Câmara discorda de líderes governistas no
Senado e afasta acordo para aprovar texto neste ano
João Paulo descarta votar PEC
paralela agora
RANIER BRAGON
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da
Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), discordou
ontem dos líderes governistas no Senado e praticamente descartou
a possibilidade de o Congresso fechar um acordo para aprovar ainda neste
ano pontos que ficaram fora da reforma da Previdência votada na
quarta-feira, em primeiro turno, no Senado.
Dizendo-se contrário
também à convocação extraordinária
do Congresso em janeiro para discutir o tema, o presidente da Câmara
foi irônico ao avaliar a possibilidade de a Casa voltar a discutir
nos próximos meses temas previdenciários.
"A disposição
da Câmara é ajudar, e não atrapalhar. Mas tem que
estar dentro de um calendário razoável. Se o governo resolver
tirar o Imposto de Renda, a Cofins [Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social], o Orçamento, o Plano Plurianual,
a Sudam, não tem problema nenhum", disse, referindo-se a alguns
dos principais projetos que o governo precisa aprovar ainda este ano no
Congresso.
A tramitação
da reforma da Previdência teve início em abril. Já
foi aprovada na Câmara e, para ser promulgada, depende apenas de
um turno de votação no Senado.
Para que não
houvesse retorno à Câmara, governo e oposição
fecharam um acordo para que os pontos em que não havia consenso
fossem incluídos em uma "PEC (proposta de emenda constitucional)
paralela", que começou a tramitar no Senado e, além
da aprovação nessa Casa, tem que ir para análise
na Câmara.
A "PEC paralela"
reúne, entre outras coisas, a discussão sobre o subteto
salarial do funcionalismo e regras de transição para a entrada
em vigor dos novos parâmetros de aposentadoria.
Desencontro
Dois dos líderes
da articulação governista no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP) e Tião Viana (PT-AC), deram declarações ontem
defendendo a aprovação ainda este ano da proposta paralela
na Câmara.
"Se a emenda
for aprovada com urgência no Senado, tenho certeza de que os líderes
da Câmara examinarão a melhor forma de tramitação.
O empenho da Câmara será o mesmo do Senado", afirmou
Mercadante, que conversou ontem com João Paulo e marcou um encontro
na próxima semana.
Na contramão
das declarações que João Paulo deu posteriormente,
Mercadante afirmou que o presidente da Câmara foi "receptivo"
à idéia.
Tião Viana,
líder da bancada petista e relator da reforma previdenciária,
sugeriu que os deputados apresentem e comecem a discutir um projeto com
o mesmo teor da proposta paralela do Senado. Isso possibilitaria uma promulgação
conjunta, queimando etapas.
"Se alguns
deputados, alguns líderes apresentarem, ela começa a andar.
O tempo é curto. Disposição política há,
mas é preciso ter tempo", afirmou o presidente da Câmara
sobre a proposta paralela do Senado .
Convocação
Sobre a convocação
extraordinária em janeiro para discutir temas previdenciários,
João Paulo foi categórico: "Eu sou contra, em nome
da Câmara dos Deputados. E quero dizer que a Câmara não
precisa ser convocada extraordinariamente".
Na quarta-feira,
os líderes das bancadas de deputados se reuniram com João
Paulo e tomaram a decisão de tentar afastar o possível desgaste
político que uma convocação acarretaria, já
que é preciso pagar dois salários extras aos 594 congressistas
-um gasto adicional de R$ 15 milhões só com os subsídios.

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