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Sábado, 06 de dezembro de 2003
Folha de S.Paulo
ROLO TRIBUTÁRIO
Interesses de Estados e municípios foram acomodados
por Antonio Palocci em acordo selado em reunião
Governo abre cofres para votar tributária
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após cerca de três meses de negociação, o
governo abriu o cofre e acomodou interesses de Estados para tentar assegurar
a aprovação, no Senado, das medidas de interesse mais imediato
da reforma tributária até 31 de dezembro.
Serão R$ 5 bilhões para Estados e municípios, já
em 2004, se a proposta for ratificada depois pela Câmara, além
da prorrogação da chamada guerra fiscal até a promulgação,
pela Câmara, da emenda constitucional da reforma.
Em troca, o governo federal poderá, por mais quatro anos, cobrar
a alíquota de 0,38% da CPMF e usar livremente 20% das receitas
dos principais tributos, por meio da DRU (Desvinculação
de Receitas da União).
Também ganhará a Cofins (Contribuição para
o Financiamento da Seguridade Social) sobre os importados, com receita
adicional de R$ 4,4 bilhões.
O acordo para a votação da reforma foi selado ontem em reunião
do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) com os líderes partidários
e representantes da oposição. O texto ainda será
submetido às bancadas partidárias. Se o entendimento for
aprovado, sobretudo por PSDB e PFL, a reforma poderá ser votada
na próxima quarta pela Comissão de Constituição
e Justiça e na quinta pelo plenário, em primeiro turno.
De imediato, se a reforma for aprovada, Estados e municípios asseguram
um reforço de caixa de cerca de R$ 2 bilhões anuais referentes
a 25% da arrecadação da Cide, contribuição
cobrada sobre a venda de combustíveis.
Também receberão até R$ 8,5 bilhões por ano
como compensação pelo fim do ICMS sobre as exportações
-esse fundo, hoje, não chega aos R$ 6 bilhões anuais. Não
está claro, porém, qual será o valor liberado no
próximo ano.
Depois de resistir a pressões, Palocci concordou em liberar R$
2 bilhões, a partir de 2004, para o FDR (Fundo de Desenvolvimento
Regional). Desse total, 25% serão destinados aos municípios,
prioritariamente àqueles de IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) mais baixos.
Outro R$ 1 bilhão vai para o caixa dos prefeitos, com a elevação
do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) a partir
de 2004. Em 2005 e 2006, a diferença em relação ao
repasse atual (cerca de R$ 22 bilhões ao ano) subirá para
R$ 2 bilhões.
CPMF
O governo também aceitou uma sugestão do senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) segundo a qual a cobrança da CPMF seria reduzida, a partir
de 2005, sempre que as condições macroeconômicas permitirem,
até a alíquota de 0,08%, quando o tributo assumiria função
apenas fiscalizatória.
Palocci concordou ainda em antecipar para 2004 um dos itens da reforma:
o que trata da redução das alíquotas cobradas sobre
produtos da cesta básica de alimentos, uma proposta do PMDB. O
ministro, no entanto, afirmou: será preciso encontrar um mecanismo
que compense os Estados que perderão receita com a medida, mas
sem onerar a União.
Palocci elogiou os termos do acordo. Disse que a proposta estabelece "equilíbrio
entre os entes federados, sem aumento de carga" -especialistas discordam
da segunda parte da afirmação.
A oposição ainda tem restrições. O PFL, por
exemplo, discorda da cobrança da Cofins sobre importados. Se um
único partido for contrário à redução
dos prazos de tramitação, a votação neste
ano fica inviabilizada.
Senadores vão trabalhar no final
de semana
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os senadores vão trabalhar neste final de semana para garantir
que as reformas possam ser aprovadas ainda neste ano. Também deve
haver sessão nos dois próximos finais de semana. O comparecimento
dos senadores aos sábados e domingos foi necessário porque
o líder do PDT, Jefferson Péres (AM), não concordou
em fazer um acordo para ignorar os intervalos exigidos pelo regimento
da Casa entre as votações em comissões e no plenário
-e entre um turno e outro.
Tanto hoje como amanhã a sessão vai ser aberta às
10h. São necessários cinco senadores para tal. "Cada
líder de bancada vai assegurar a presença de seus senadores",
disse o líder do governo na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP).
O calendário divulgado pelo relator da reforma da Previdência,
senador Tião Viana (PT-AC), prevê a votação
em primeiro turno da "PEC paralela" no dia 14, um domingo, e
em segundo turno no dia 22. A "PEC paralela" é uma proposta
de emenda constitucional que tramita no Senado com alterações
na reforma previdenciária. O segundo turno da PEC original deve
ser no dia 17.
A oposição só aceita terminar de votar a reforma
após começar a votação da "PEC paralela",
como garantia de que as mudanças serão aprovadas.

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