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Terça-feira, 16 de dezembro
de 2003
Folha de S.Paulo
REFORMA SOB PRESSÃO
Nova proposta flexibiliza regras da reforma da Previdência,
aprovada na semana passada
Senado aprova PEC paralela
em 1º turno
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro dias após aprovar definitivamente a reforma da Previdência,
que deverá ser promulgada na próxima sexta-feira, o Senado
já começou a flexibilizar suas regras.
Por unanimidade (69 votos), os senadores aprovaram ontem, em primeiro
turno, a chamada "PEC paralela" -proposta de emenda constitucional
que modifica normas previstas na reforma previdenciária.
Entre outras coisas, essa emenda prevê transição para
beneficiar servidores que começaram a trabalhar cedo, estende a
paridade (direito de receber na aposentadoria os mesmos reajustes concedidos
na ativa) a funcionários atuais, permite aposentadoria especial
para portadores de deficiência, amplia a faixa de isenção
da contribuição previdenciária para portador de doença
incapacitante e faculta ao governador o direito de estabelecer subteto
único no Estado.
Depois do segundo turno, previsto para a próxima quarta-feira,
essa "PEC paralela" será submetida à Câmara
dos Deputados.
O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), presidente da Casa, afirmou
ontem que a "disposição política é de
dar um tratamento firme" a essa emenda, mas que a tramitação
será normal.
No Senado, houve acordo para suprimir prazos. A proposta foi negociada
no Senado pelo líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), com
a oposição e com senadores da própria base governista
para garantir a aprovação do texto original da reforma previdenciária
sem alterações.
A senadora Heloísa Helena (AL), expulsa do PT por se opor à
reforma, não votou ontem.
Apesar da aprovação majoritária, a oposição
ainda é cética quanto à aprovação dessa
"PEC paralela" na Câmara. "Essa proposta é
uma forma de aliviar a consciência dos senadores que aprovaram a
reforma. Mas ela não vai ser votada na Câmara, porque o governo
não vai deixar. Ela vai para a gaveta, para o limbo", disse
o líder do bloco da minoria, Efraim Morais (PFL-PB).
Oposição
"Essa emenda é o colesterol bom, só tem medidas boas.
O colesterol ruim, que foi a PEC 67 [o projeto original da reforma], não
contou com o meu voto. O voto do PFL agora é "sim", mas
o partido manifesta profunda preocupação com a tramitação
a partir de agora", afirmou o líder da bancada, José
Agripino (RN).
Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva apóie a aprovação dessa nova PEC, que considerou
um "avanço" em relação à reforma
original.
Subteto
A possibilidade de um subteto único por Estado foi incluída
por pressão do PMDB, contrário à regra prevista na
reforma da Previdência -subtetos diferentes para Executivo (salário
de governador), Legislativo (de deputado estadual) e Judiciário
(de desembargador).
O governador do Rio Grande do Sul, o peemedebista Germano Rigotto, defende
o teto estadual único e não aceita que seu salário
sirva de teto para o Executivo estadual, por ser baixo (cerca de R$ 6.000)
-o que forçaria um achatamento salarial no Estado.
A solução encontrada, após negociação
com governadores tucanos, foi incluir na "PEC paralela" um dispositivo
permitindo que o chefe do Executivo estabeleça subteto único
no seu Estado ou fixe valor de referência -com a finalidade exclusiva
de servir de subteto-, que não pode ser inferior ao seu próprio
salário nem superior ao do desembargador.
A emenda aprovada ontem garante paridade salarial aos atuais servidores
desde que tenham, pelo menos, 20 anos no serviço público,
dez na carreira e cinco no cargo. A reforma original prevê paridade
apenas para os servidores já aposentados.
A "PEC paralela" também cria uma regra de transição
para que servidores que começaram a trabalhar cedo possam aposentar-se
com proventos integrais antes da idade mínima prevista na reforma
previdenciária (60 anos para homens e 55 para mulheres).
Por essa regra, o servidor com 35 anos de contribuição,
se homem, e 30, se mulher, e com 25 anos de exercício no serviço
público, 15 de carreira e cinco no cargo terá um ano de
redução na idade mínima exigida para aposentadoria
para cada ano a mais de contribuição.
A "PEC paralela" também amplia a faixa de isenção
para a cobrança da contribuição previdenciária
de inativos e pensionistas portadores de doenças incapacitantes
para o trabalho, a serem definidas em lei. O dispositivo prevê isenção
da contribuição previdenciária e redutor zero para
as pensões até o dobro do limite máximo estabelecido
para os benefícios do regime geral da Previdência Social
(R$ 4.800).
A nova proposta prevê a adoção de requisitos e critérios
especiais para aposentadoria de portadores de deficiência, definidas
em lei complementar.
Também permite alíquotas menores (ainda não definidas)
de contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
para trabalhadores sem vínculo empregatício e donas-de-casa.
RETA FINAL
Congresso vai votar projetos até
sábado
Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), disseram ontem que todos os projetos
de interesse do governo serão aprovados até sábado,
o que transformaria o domingo no primeiro dia do recesso parlamentar que
vai até 15 de fevereiro. Sarney e João Paulo anunciaram
a autoconvocação das Casas até sábado -pela
Constituição, ontem seria o último dia de trabalho
do Legislativo- como forma de encerrar, no Senado, a votação
da reforma tributária e da proposta paralela da Previdência.
Segundo Sarney, a votação em segundo turno da tributária
e da proposta paralela da Previdência -a original já foi
aprovada pela Câmara e pelo Senado- ocorreriam na quinta. Com isso,
a promulgação se daria até o dia 20. (DA SUCURSAL
DE BRASÍLIA)

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