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Quinta-feira, 18 de dezembro de 2003
Folha de S.Paulo
TRIBUTAÇÃO
Governo endurece negociações
no Congresso e diz que manterá plano original de cobrança
da alíquota maior
Receita veta exclusão de setores
da Cofins
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo
endureceu ontem nas negociações no Congresso Nacional sobre
as mudanças na Cofins (Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social), afirmando que não serão aceitas exclusões
de setores das novas regras.
O secretário
da Receita Federal, Jorge Rachid, disse que essa retirada levaria, obrigatoriamente,
ao aumento da alíquota da Cofins.
"Não
somos favoráveis. O modelo que a sociedade pediu é esse:
uma redistribuição do ônus tributário",
disse Rachid. Segundo ele, o fim da cumulatividade da Cofins (incidência
em todas as fases da produção) implica em peso maior sobre
alguns setores para que outros sejam desonerados.
Para compensar
a não-cumulatividade, a alíquota da Cofins vai passar de
3% para 7,6% sobre o faturamento das empresas a partir de 1º de fevereiro
de 2004. Rachid explicou que a retirada dos setores de saúde, hospitais
e transportes coletivos, como estuda o Congresso, poderia fazer com que
a alíquota passasse para 8,25%. Esses setores perdem porque têm
poucas fases produtivas.
O relator
da medida provisória nº 135, que modifica a Cofins, deputado
Jamil Murad (PC do B-SP), confirmou ontem que a saída dos três
setores geraria perda de receita de R$ 1 bilhão. "E esse dinheiro
já está no Orçamento."
A Comissão
de Orçamento aprovou a previsão de ganho de R$ 9,5 bilhões
com a nova Cofins.
Rachid também pediu mais prazo para que o governo envie para o
Congresso o projeto de lei que regulamenta a desoneração
da folha de salários das empresas da contribuição
previdenciária.
Compensação
A medida será
uma compensação para o setor de serviços porque parte
da contribuição seria desviada para o faturamento, via Cofins.
Ou seja, como o setor emprega muito, haverá uma queda da tributação
com a redução da alíquota incidente sobre a folha.
Murad vinha
afirmando que colocaria em seu substitutivo um prazo de 90 dias para o
envio do projeto. Mas o governo pediu 120 dias e deverá ser atendido.
Portanto a tramitação só acontecerá no segundo
semestre de 2004.
O governo
quer avaliar melhor os impactos das mudanças na contribuição
previdenciária sobre a arrecadação da Previdência
Social. Apesar do endurecimento do governo, Murad e deputados petistas
afirmavam ontem que a retirada de alguns setores das novas regras continuava
em estudo.
O líder
do governo, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse que a idéia
era não excluir setores, mas explicou que a reunião de líderes,
marcada para o início da noite de ontem, definiria os rumos da
medida provisória, que será votada hoje.
De qualquer
forma, hoje a Receita deve divulgar a arrecadação de novembro
e uma informação deve prejudicar o governo. Havia a expectativa
de que a receita do PIS (Programa de Integração Social)
se aproximasse mais da receita da Cofins.
O PIS deixou
de ser cumulativo neste ano e está tendo "excesso" de
arrecadação. Mas o governo disse que isso era temporário.
A Folha apurou, porém, que o PIS cresceu 15,3% em novembro em relação
a outubro. No mesmo período, a Cofins caiu 0,5%.

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