Sábado, 27 de dezembro de 2003
Folha de S.Paulo
ROLO TRIBUTÁRIO
Governo será cobrado por promessa
feita por Mercadante de novas alterações na cobrança
do tributo
Oposição e PMDB querem
alterar Cofins
RAQUEL ULHÔA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo será pressionado pelo PFL e pelo PMDB a fazer novas
alterações nas formas de cobrança da Cofins (Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social) no período de convocação
extraordinária do Congresso, que deve ocorrer entre 20 de janeiro
e 15 de fevereiro.
Os dois partidos vão cobrar a promessa de alteração
feita pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP),
para convencê-los a votar o projeto que acabou com a cumulatividade
(incidência sobre todas as etapas de produção) da
cobrança e, para compensar, elevou a alíquota de 3% para
7,6%.
"Se a palavra do líder valer, a questão da Cofins
continua na ordem do dia. O governo prometeu reabrir a negociação
e mandar uma nova MP [medida provisória]. Se não quiser
perder a credibilidade, vai ter de cumprir", afirmou o líder
do PFL no Senado, José Agripino (RN).
Durante a convocação, o partido oposicionista quer negociar
a redução da alíquota da Cofins e a desoneração
da folha de pagamento, além de rediscutir a cobrança nos
setores de transporte de cargas e da construção civil.
A oposição afirma que a nova forma de cobrança da
contribuição aumenta a carga tributária. A liderança
do governo no Congresso admite um aumento temporário, que arrefeceria
durante a implantação da nova fórmula.
"O PMDB votou o projeto de conversão com o compromisso da
revisão. Queremos resolver a questão dos setores de transporte
de cargas, construção civil e turismo", declarou Renan
Calheiros (AL), líder do governista PMDB.
O outro grande partido de oposição, o PSDB, chegará
à convocação disposto a não negociar. Segundo
o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM), o partido
exige um "pedido formal de desculpas" pelo fato de o governo
ter colocado a medida provisória da Cofins em votação
no Senado sem avisar a oposição.
A aprovação foi na última segunda-feira, dia de
pouca presença de congressistas em Brasília. PSDB e PFL
acusam o governo de ter mobilizado "sorrateiramente" sua base
aliada para votar a proposta sem a presença da oposição.
"Houve uma quebra de entendimento. O diálogo está
interrompido", afirmou Virgílio, que no dia seguinte ao da
votação da MP pregou um susto no governo.
Ele ameaçou pedir verificação de quórum na
votação do Orçamento da União para 2004, o
que derrubaria a sessão, já que não havia a presença
mínima de 92 congressistas. Depois de receber apelos, Virgílio
voltou atrás. "Quero um pedido formal de desculpas. Sem isso,
não negocio mais. Parto para a guerrilha", afirmou ele.
Convocação extraordinária
Além da Cofins, o governo vai enfrentar a insatisfação
de sua base na Câmara dos Deputados, que perdeu uma queda de braço
com o Senado em torno da convocação. Os senadores governistas
queriam o período extra para que fosse votada a proposta paralela
da Previdência.
Os governistas da Câmara avaliavam que não valeria a pena
passar pelo desgaste, já que a convocação -que ainda
não foi definida oficialmente pelo governo- resulta no pagamento
de dois salários extras aos congressistas.
"É impossível votar essa proposta na convocação.
Nada aconteceria se deixássemos isso para fevereiro. O que colocarem
a mais na pauta servirá apenas para explicar o inexplicável",
disse o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo.

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