segunda-feira, 18 de agosto de 2003
Jornal
do Brasil
Lula admite negociar tributária
Presidente ressalva, no entanto, que concessões não podem
desvirtuar objetivo da reforma: desonerar a produção
BRASÍLIA - Depois de vários embates com os governadores
e de bater de frente com o PFL, o governo Luiz Inácio Lula da Silva
entra em uma semana decisiva para a reforma tributária. O deputado
Virgílio Guimarães (PT-MG) apresenta hoje o parecer final
da reforma à comissão especial da Câmara.
O presidente Lula se mostra confiante na aprovação da reforma.
Em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, ontem, disse estar
comprometido com a emenda constitucional que muda o sistema de impostos,
mesmo que ''seja necessário'' fazer algumas concessões.
A ressalva: negocia desde que o objetivo principal, de desonerar a produção,
seja preservado.
- Não é uma reforma para mim ou para o meu partido, é
para o país - disse.
A perspectiva do vice-líder do governo na Câmara Professor
Luizinho (PT-SP) é positiva. Trabalha com a hipótese de
aprovação do texto na comissão especial ainda na
quinta-feira para chegar ao plenário na próxima semana.
Para facilitar a aprovação do relatório da comissão
especial, Professor Luizinho disse que pediu a Virgílio Guimarães
um relatório que respeitasse os conceitos iniciais do texto do
governo.
- Virgílio ficou de apresentar o relatório com as nossas
bases. Se trabalhar assim vai reduzir as dificuldades de aprovação.
Se entrar nos embates com os governadores, tudo ficará mais complicado.
Na semana passada, o relator acenou com uma série de alterações
no texto que agradaram à comissão de governadores e à
indústria. O governo aceitou dividir com os Estados a arrecadação
da Cide, o ''imposto'' dos combustíveis, mas já avisou que
não está disposto a repartir os recursos da CPMF, a contribuição
sobre movimentação financeira.
A proposta do governo tem como prioridade desonerar a produção,
reduzir as alíquotas do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) para acabar com a guerra fiscal
entre Estados, além de isentar a cesta básica de alguns
tributos para beneficiar brasileiros de menor poder aquisitivo.
O governo pretende ter a reforma tributária aprovada - tanto na
Câmara quanto no Senado - até 30 de setembro. O deputado
petista Jorge Bittar explicou que, se o prazo não for respeitado,
a União poderá perder em arrecadação no próximo
ano por causa da noventena (prazo de 90 dias para que as novas alíquotas
comecem a valer). Seria o caso da CPMF, que será permanente.
O governo insiste que a reforma não irá aumentar a carga
tributária, apesar de vários tributaristas afirmarem o contrário.
Para eles, só a prorrogação da CPMF já pesará
no bolso do consumidor.
O presidente Lula também disse, na entrevista, que ninguém
pode acusar o PT de ter obstruído a tentativa do então presidente
Fernando Henrique de fazer a reforma da Previdência. Alegou que
ele tinha ''mais de 400 deputados na base''. ''Não houve vontade'',
disse.
com Edna Simão

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