segunda-feira, 08 de setembro de 2003

Jornal do Brasil

Mobilização contra a reforma
Servidores querem FH na briga pela Previdência
NELSON BREVE

BRASÍLIA - Na tentativa de reverter a derrota que tiveram na votação da reforma da Previdência na Câmara, sindicatos de servidores públicos iniciaram uma mobilização política. Elegeram o PT como inimigo e estão buscando apoio até dos antigos adversários para barrar a proposta no Senado.

Na sexta-feira, estiveram com o presidente do PDT, Leonel Brizola, para conspirar. Na semana que vem, pretendem se encontrar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Brizola recebeu um pacote de documentos com denúncia de utilização política dos fundos de pensão estatais. Fernando Henrique ouvirá relatos sobre a ocupação de cargos estratégicos, que estaria transformando órgãos públicos em ''aparelhos'' políticos do PT.

Os sindicalistas tentarão convencer o ex-presidente tucano de que a reforma petista não é a mesma iniciada por ele. Vão dizer que na proposta atual está embutida uma tentativa maior de ''aparelhar'' o Estado brasileiro, criando um fundo de pensão dos servidores para ser usado politicamente.

- Essa reforma é muitíssimo pior que a de Fernando Henrique - compara o presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal (Sindilegis), Ezequiel Nascimento.

A denúncia entregue a Brizola segue a mesma linha. É uma cópia da notícia-crime protocolada segunda-feira pelo advogado Magno Antonio Correia de Mello na 10ª Delegacia Policial do Rio. Consultor legislativo da Câmara e diretor jurídico do Sindilegis, Mello aponta o presidente da Caixa de Previdência dos Empregados do Banco do Brasil (Previ), Sérgio Rosa, como suspeito de crime contra o sistema financeiro e pede investigação de uma série de fatos que considera correlacionados.

A suspeita do advogado é que a Previ foi indiretamente utilizada para financiar campanhas eleitorais. Ele sustenta que o fundo de pensão triplicou a carteira de aplicação em bolsa no ano passado - período ruim para o mercado de ações-, capitalizando empresas que contribuíram para candidaturas.

Anexo à denúncia, apresenta uma relação de 34 empresas, das quais a Previ é acionista, que teriam financiado mais de 250 candidatos - a deputado federal, senador, governador e presidente - e nove partidos políticos, em todas as regiões do país. As doações somam R$ 111 milhões, diz Mello.

A essas acusações, o diretor do Sindilegis junta uma informação e uma especulação, que ajudam a dar sentido à tese. Em 9 de maio de 2002, Sérgio Rosa, então diretor de Participações da Previ, teria enviado carta a todos os representantes do fundo nos conselhos de administração das empresas, solicitando informações sobre como o financiamento de campanha estava sendo tratado.

A especulação é sustentada por uma reportagem publicada na revista Época em 10 de junho do ano passado, segundo a qual políticos ligados à campanha do tucano José Serra suspeitavam de ligação entre capitalizações da Previ e visitas de tesoureiros da campanha petista às empresas auxiliadas.

A conclusão de Mello é que esses fatos podem estar relacionados com a reforma da Previdência e que a criação de um fundo de pensão para os servidores pode resultar em desvios semelhantes aos que ele suspeita estarem ocorrendo na Previ.

- As preocupações que justificam este documento têm embasamento em fatos. Justificam a crença de que podem existir interesses escusos movendo a reforma previdenciária.

Procurado, o presidente da Previ não foi localizado para comentar a denúncia.