terça-feira, 09 de setembro
de 2003
Jornal
do Brasil
Oposição ameaça
dificultar reforma
Líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia diz
que não fará acordo para facilitar conclusão do primeiro
turno da tributária
NELSON BREVE
BRASÍLIA - O governo terá que usar a força
para acelerar o processo de votação da reforma tributária
na Câmara. O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA),
disse ontem que não aceitará nenhum acordo para facilitar
a conclusão do primeiro turno de votação no plenário.
Se o presidente da Câmara não conseguir justificativa regimental
razoável, terá de enfrentar uma maratona de votações.
São cerca de 40 emendas aglutinativas e oito destaques que exigem
votações individuais e nominais. Um processo que pode demorar
semanas se o trabalho de obstrução dos partidos de oposição
for eficiente.
- Não posso chancelar um projeto que toda sociedade rejeita por
ser desastroso ao país - justifica Aleluia.
A tática do PFL é desgastar o governo o máximo possível
em cada votação. Aleluia diz estar disposto a usar todos
os instrumentos de obstrução para chamar a atenção
da sociedade para os defeitos do projeto em discussão.
- Quanto mais discutirmos, melhor para a sociedade. O governo poderá
vencer com a força do Diário Oficial e do Siafi. Mas isso
faz parte do jogo - observa o líder do PFL.
Ele se refere aos acordos para nomeações de indicados por
aliados políticos e liberação de verbas do Orçamento
federal, que são registradas no Diário Oficial da União
e no sistema Interno de Administração Financeira das contas
federais (Siafi).
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), aguarda
parecer técnico da Secretaria-Geral da Mesa sobre os destaques
e emendas. Se não houver interpretação mais próxima
da conveniência que da jurisprudência, o governo terá
de enfrentar quase 50 tentativas de alterar o texto aprovado na semana
passada.
O governo está preocupado com apenas seis votações
de destaques. São propostas que alteram o texto aprovado para manter
o que está valendo hoje na Constituição. Exemplos
disso são o destaque do PFL, que acaba com a unificação
da legislação do ICMS, e o do Prona, que impede a renovação
do mecanismo de desvinculação das receitas da União.
Nesses casos, cabe ao governo assegurar os 308 votos dos deputados, que
são necessários para alterar a Constituição.
Nos outros casos, as emendas e destaques alteram tanto o que foi votado
como o texto constitucional em vigor. Portanto, cabe aos autores conseguirem
os 308. O que é mais difícil.
Não é só na Câmara que a reforma tributária
está enrolada. A discussão nem começou no Senado,
mas a polêmica já está no ar. O PFL quer a relatoria,
alegando que chegou a vez do partido no rodízio combinado.
O líder José Agripino (PFL-RN) já decidiu indicar
o senador Rodolpho Tourinho (BA) para relatar a proposta. Teve o cuidado
de indicar um aliado do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
que esteve ao lado do governo na reforma da Previdência.
O PMDB também já escolheu o senador Romero Jucá
(RR) para relator. O líder Renan Calheiros (PMDB-AL) sustenta que
o partido tem a maior bancada e a prerrogativa. Mas Agripino argumenta
que o PMDB abriu mão da relatoria da reforma da Previdência
e perdeu a vez.
Para contornar o impasse, o líder do PT, Tião Viana (AC),
está propondo aos líderes outra opção. Argumentando
que os partidos da coalizão governista (PT-PSB-PTB-PPS) têm
juntos a segunda maior bancada de senadores, pretende convencê-los
a aceitar o senador Fernando Bezerra (PTB-RN) como relator. Bezerra tem
a favor o fato de ter sido presidente da Confederação Nacional
da Indústria (CNI) e um dos maiores defensores da reforma tributária.

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