Sexta-feira, 19 de setembro de 2003
Jornal
do Brasil
Eleições ameaçam
atrasar segundo turno
Líderes tentam garantir quórum
para hoje na Câmara
BRASÍLIA - As eleições municipais de 2004 poderão
atrasar a votação do segundo turno da reforma tributária.
Líderes governistas montaram ontem uma operação arrastão
no Congresso para garantir o quorum mínimo - 51 deputados - e realizar
a sessão de hoje. De olho na campanha eleitoral, vários
parlamentares voltaram ontem para os Estados para participar de convenções
e filiações partidárias.
Caso não atinja número suficiente, o Planalto terá
de alterar os planos e adiar a votação do segundo turno,
marcada para quarta-feira.
- Fica difícil competir. Existem várias atividades nos
Estados. Mas vamos garantir 30 parlamentares aqui - prometeu o deputado
Paulo Rocha (PT-PA).
O Planalto ainda tem na memória o trauma da reforma da Previdência.
A ausência de um deputado (só havia 50 na Casa) impediu uma
sessão de sexta e atrasou em uma semana a votação
do segundo turno da emenda.
O vice-líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), percorreu
os gabinetes dos líderes, ontem, atrás de apoio. Ao lado
do relator, Virgílio Guimarães (PT-MG), pediu ajuda ao colega
do PTB, Roberto Jefferson (RJ), que prometeu oito do partido em plenário.
Assim que o governista deixou o gabinete, o petebista ligou para um deputado,
que estava em Goiás. Pediu que estivesse no Congresso às
8 horas da manhã, para assinar a presença. Poderia ir embora
depois.
- É um apelo - reforçou Jefferson.
No PSB, reunião a portas fechadas. O vice-líder do governo,
Beto Albuquerque (RS), não poderá ficar em Brasília.
Estará no Sul, participando da convenção estadual
do partido. O líder Eduardo Campos (PE) garantia três da
legenda. Não escondia, porém, a apreensão.
- As filiações municipais têm prazo. Precisamos formar
chapas. Temo que estejamos com déficit.
No Ceará, o líder do PMDB, Eunício Oliveira, recebeu
o apelo do ministro da Casa Civil, José Dirceu.
- Eunício, quantos você consegue manter aqui?
- Acho que uns 12 amanhã e uns 15 na segunda.
No início da noite, Professor Luizinho e Paulo Rocha (PT-PA) rumaram
para a Casa Civil, com uma pasta na mão. Iam prestar contas. O
governo terá quorum para a sessão de hoje?
- Se Deus quiser, assim espero - afirmou Luizinho, olhos súplices
em direção aos céus.
Novas regras do ICMS em xeque
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - Principal fonte de arrecadação dos Estados,
o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) pode ter a regulamentação excluída da reforma
tributária. Estrategistas do governo e lideranças influentes
da oposição no Senado qualificam como remotas as chances
de montar um projeto que não prejudique algum dos 27 Estados. Uma
das alternativas, admitida nos bastidores, é restringir o debate
à simplificação da legislação. A transição
na cobrança do ICMS entre origem e destino deve ser abandonada
para tornar viável a aprovação do texto.
- No que diz respeito a simplificação, existe acordo entre
os partidos. É preciso encontrar um mecanismo eficiente para administrar
as perdas - afirmou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP).
Regulamentado por 27 leis estaduais e recolhido por uma escala de 44
alíquotas, o ICMS é a principal fonte de receita dos Estados.
Daí a briga acirrada entre governadores, União e Congresso
pela regulamentação. Estados produtores de bens de consumo
- como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Amazonas - resistem
à transição na cobrança do imposto para não
perder dinheiro. Só aceitam discutir o assunto com compensação
financeira.
Estados consumidores - como a Bahia, Tocantins e Paraíba - têm
interesse na mudança para garantir recursos a mais, desde que mantida
a concessão de incentivos fiscais.
- O ICMS é o elemento desagregador. Não dá para
fazer uma lei igual para São Paulo e Tocantins - avisou o líder
do PFL, José Agripino (RN).
Para o líder do governo, ainda é cedo para descartar a
regulamentação do ICMS. Mercadante considera possível
aproveitar a proposta aprovada pela Câmara e ajustar as regras preservando
os Estados mais pobres. A busca do projeto original, informou, seria solução
apenas no caso de impasse.
Mercadante promete resgatar a criação do imposto sobre
herança, rejeitada pela Câmara dias atrás, com apoio
de setores da bancada governista. O senador vai apresentar emenda restabelecendo
o imposto com modelo diferente do projeto original do governo. A idéia
é que uma parte das grandes fortunas seja revertida como doação
ou mesmo usada para a abertura de fundações na área
social.
- É uma experiência consagrada no mundo e que faria diferença
no Brasil - justificou.

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