Quinta-feira, 25 de setembro de 2003
Jornal
do Brasil
Governo vence no 2º turno
Texto principal é aprovado por 346 a
92. João Paulo rejeitou destaque sobre ICMS
Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA - O plenário da Câmara aprovou em segundo
turno, na noite de ontem, por 346 votos a 92, o texto principal da reforma
tributária. Os deputados rejeitaram ainda por 330 votos a 84 o
destaque do PFL que pretendia derrubar a cobrança de IPVA para
aeronaves e embarcações. Até o fim da noite de ontem,
restava apenas um destaque, também do PFL, que derrubava a cobrança
da CPMF.
O governo comemorou o resultado, e contou ainda com uma ajuda do presidente
da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), na apreciação
dos destaques apresentados pelo PFL. João Paulo indeferiu a principal
proposta de mudança apresentada pelos pefelistas: a derrubada da
transição de 11 anos para a cobrança do ICMS no destino.
Segundo ele, caso o destaque fosse votado, apresentaria reflexos em outros
pontos do relatório que não estavam em análise.
- Foi um golpe. Eles fizeram isso porque sabiam que iam perder - protestou
o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
ACM Neto contava com os votos do PSDB, especialmente de São Paulo,
para aprovar o destaque. Não sabia que o governador paulista, Geraldo
Alckmin (PSDB), que durante toda a semana demonstrou simpatia com a possibilidade
de derrubada da transição, voltou atrás no início
da noite de ontem. Ligou para o deputado Walter Feldman (PSDB-SP) pedindo
que a bancada tucana de São Paulo respeitasse o acordo fechado
pelo partido com o governo.
- Acordos têm que ser cumpridos até o fim, mesmo que isso
nos traga prejuízo. Ainda podemos negociar no Senado. O acordo
tem que se encerrar na Câmara - pediu ele ao seu principal interlocutor
em Brasília.
Feldman ponderou ao governador que boa parte da bancada paulista tucana
tendia a apoiar o destaque do PFL. Alckmin aceitou o argumento, mas ressalvou
que isso poderia acontecer até o limite máximo que não
colocasse em perigo o acordo fechado com o Planalto.
- Se houvesse possibilidade concreta de derrota do governo, teríamos
que nos reunir para rever a posição - admitiu Feldman.
Na tarde de ontem, um grupo de governadores foi ao Senado, antecipando-se
à chegada da matéria na Casa, prevista para a próxima
semana. Não pouparam críticas ao texto votado pelos deputados.
O governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), afirmou que a reforma retoma
a guerra entre os Estados pobres e ricos.
- É a briga do G7 (Estados do Sul e do Sudeste) contra o G20 (Estados
do Norte, Nordeste e Centro-Oeste) - declarou Lessa.
A governadora do Rio, Rosinha Matheus, também foi a Brasília
tentar alterar o ponto da reforma na qual fica determinado que até
4% do ICMS arrecadado com a produção de energia e petróleo
ficam com a origem dos produtos. Rosinha defendia que fosse fixado o teto
em 4%, para impedir a possibilidade de definição de uma
alíquota menor.
Os líderes da base consideraram justa a reivindicação
da governadora fluminense, mas alegaram que não havia recurso regimental
para a alteração, já que no segundo turno não
é possível a apresentado de destaque que altere o texto
votado em primeiro turno. Como não obteve êxito, a governadora
promete continuar a batalha no Senado.
Previdência: votação entra pela
madrugada
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - O governo sofreu ontem sua primeira derrota na tramitação
da reforma da Previdência no Senado. Sem acordo com o bloco de oposição,
a bancada governista não conseguiu acelerar a votação
da emenda na Comissão de Constituição e Justiça
e entrou madrugada adentro enfrentando a obstrução de seus
adversários. Até o fim da noite de ontem, os senadores ouviam
a leitura dos votos em separado apresentados por PFL e PSDB propondo alterações
na proposta aprovada pelos senadores.
Irritados com as manobras da oposição, líderes governistas
prometiam acionar o rolo compressor para garantir que a votação
fosse iniciada. A expectativa era votar o parecer final do senador Tião
Viana (PT-AC) e deixar as centenas de emendas para serem apreciadas na
próxima semana. Os partidos de oposição tiveram sucesso
na estratégia de esticar a sessão.
- O problema é deles e não meu. Tenho voto e tenho tempo
- desafiou o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), respondendo
aos adversários.
Parlamentares do PFL, PSDB e PDT apresentaram diversos requerimentos
e votos, abusaram de apartes e questionamentos conseguindo suspender a
sessão da manhã e arrastando a sessão da noite. Decididos
a concluir a votação, líderes governistas chegaram
a admitir modificar a reforma já na comissão, cedendo em
alguns dos aspectos reivindicados pelo bloco de oposição,
desde que não fossem apresentadas novas emendas em plenário.
PFL, PSDB e PDT não aceitaram a oferta.
Os pefelistas continuam cobrando do governo um compromisso formal de
que mudanças na reforma da Previdência serão acatadas.
Querem rever o subteto do funcionalismo e criar uma faixa de isenção
para a cobrança da contribuição previdenciária
de servidores inativos e aposentados. O Palácio do Planalto admite
negociar, mas deseja que mudanças sejam formalizadas apenas durante
a votação do primeiro turno pelo plenário.

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