Segunda-feira, 29 de setembro de 2003
Jornal
do Brasil
Promessa de nova maratona
Reforma da Previdência vai a votação
no Senado
BRASÍLIA - Mais de 300 emendas e a promessa de uma nova e cansativa
sessão na Comissão de Constituição e Justiça
do Senado. Amanhã, os senadores se reúnem para votar as
propostas de alteração ao texto da reforma da Previdência.
A expectativa é de mais uma disputa longa, a exemplo da reunião
de quinta-feira, quando o texto principal do senador Tião Viana
(PT-AC) só foi aprovado às seis horas da manhã, após
16 horas de negociações.
- Isso vai depender dos líderes. O ideal é que tudo seja
conversado antes. Caso contrário, passaremos a semana inteira votando
- declarou o senador Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça
do Senado, Edison Lobão (MA), não acredita em mais uma sessão
demorada. Segundo ele, apesar da imensa quantidade de destaques e emendas,
muitos abordam temas semelhantes.
- Se votarmos, por exemplo, o destaque sobre o aumento da idade compulsória
para a aposentadoria, diversas propostas semelhantes serão prejudicadas
- aposta Lobão.
Além disso, não vê espaço para longos encaminhamentos
de votação - outro instrumento utilizado pela oposição
na sessão da última quinta-feira. Para Lobão, o rito
nesse caso é sumário.
Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) foi um dos
principais pivôs da obstrução orquestrada por tucanos
e pefelistas na CCJ. Considera a estratégia fundamental para se
obter alterações ainda na Comissão e não apenas
no plenário, tática utilizada pelo governo durante a tramitação
da reforma da Previdência na Câmara.
- Eles têm medo que isso aconteça. Temem mudar o bolo entregue
ao Congresso, com receio da Casa Civil mudar os padeiros e a padaria -
ironizou o tucano.
Com o tom irado que vem caracterizando sua atuação no Senado,
Virgílio afirmou que o atual governo não tem moral para
reclamar de obstrução.
- Nós vamos fazê-los sangrar na incoerência - ameaçou.
Coube ao PMDB, na última sessão da CCJ, assumir a defesa
do governo. Após trocar integrantes da Comissão que discordavam
com o texto, o líder Renan Calheiros (AL), ajudado pelo vice-líder
Romero Jucá (RR), iniciou os debates e bate-bocas com o PFL e o
PSDB. Pelos corredores do Senado, Jucá não escondia a insatisfação
na semana passada.
- Eles encheram o saco, tudo tem limite - esbravejava, contrariado.
Relatoria no Senado inaugura batalha
política
Édison Lobão indicará hoje
relator, vaga disputada por PFL e PMDB
Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA - Depois de muita discussão e madrugadas em claro
para terminar a votação em dois turnos na Câmara,
o ringue das disputas políticas em torno da reforma tributária
no Senado será inaugurado hoje, com a indicação do
relator da proposta.
O texto chegou à Casa na última quinta-feira, mas ainda
não tem relator. O árbitro do imbróglio, que contrapõe
as duas maiores bancadas do Senado - PFL e PMDB - será o presidente
da Comissão de Constituição e Justiça, senador
Édison Lobão (PFL-MA).
- Reivindicações e pressões são legítimas,
pois todos se acham no direito de relatar a matéria - confirmou
Lobão.
A relatoria, alvo de negociações de bastidores desde que
o texto era apreciado pelos deputados, é só o início
de um embate que promete ser mais difícil para o governo do que
o desgastante trâmite pela Câmara.
Se depender do PFL de Antônio Carlos Magalhães (BA), segunda
maior bancada do Senado, os embates serão contínuos, permanente.
Insatisfeito por não ter sido atendido ainda na Câmara, ACM
eleva o tom:
- Se não houver mudanças, o texto não passa por
aqui. Não passa - repicou.
Os parlamentares da legenda pressionam desde a indicação
do relator da reforma da Previdência. A vaga ficou para o PMDB,
maior bancada na Casa. Confirmado o casamento com o Planalto, os peemedebistas
deram, como dote, a relatoria ao líder do PT na Casa, Tião
Viana (PT-AC).
O presidente da CCJ tenta se escudar de pressões, ressaltando
que a decisão é pessoal. Um senador da oposição
antecipa que uma solução já é desenhada nos
bastidores: um relator coordenará um grupo de sub-relatores.
- Evidentemente, os partidos não vão abrir mão da
escolha do relator, mas a formação de um time pode acomodar
os vários interesses - avalia o senador.
A questão tributária não mobiliza multidões
de servidores, mas é acompanhada de perto por governadores e prefeitos
preocupados em garantir, cada uma, uma parcela mais generosa de impostos
controlados pela União. Ganhos que sairão diretamente do
bolso dos contribuintes, como antecipa o PFL que pretende centrar, aí,
a oposição ao projeto.
- A questão interessa aos Estados, aos governadores. Com certeza,
será uma tramitação mais complicada do que a da reforma
da Previdência - observa Lobão.
A pressão por alterações se intensifica esta semana.
Amanhã, os governadores vão ao Palácio do Planalto
encontrar-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na pauta
oficial, a unificação dos programas sociais. A reforma tributária,
contudo, fará parte da conversa. Na quarta, os administradores
estaduais aportam no Senado para pressionar os líderes políticos.
- Os governadores foram muito prejudicados. Esta regra de transição
para o ICMS é draconiana - protestou o líder do PSDB no
Senado, Arthur Virgílio (AM).
Virgílio considera que o texto encaminhado pela Câmara pode
ser chamado de tudo, menos de reforma. Para ele, é preciso discutir
com mais clareza o Fundo de Compensação às Exportações,
a prorrogação da CPMF por dois anos - ao término,
a alíquota seria reduzida para 0,08% - e uma trava para impedir
o aumento de carga tributária, deixando espaço para que,
no futuro, seja menor.
- Os governistas precisam dialogar, ser menos arrogantes, mais humildes.
Quando perceberem que não é fácil mudar tributos,
poderemos conversar - declarou Virgílio.
Insatisfeitos, os governadores tucanos se reúnem hoje em Porto
Velho (RO). Querem divulgar documento condenando o prazo de 30 de setembro
para a concessão de benefícios fiscais. A Assembléia
Legislativa do Rio deve votar essa semana projeto da governadora Rosinha
Garotinho oferecendo vantagens fiscais para empresas que se instalem no
Estado.
Na Câmara Legislativa de Brasília, entrou pela madrugada
a votação de projeto do governador Joaquim Roriz concedendo
isenção de ICMS e impostos locais para estimular a instalação
de empresas no Distrito Federal. Sinais de que a guerra fiscal está
longe de acabar.

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