Quinta-feira, 02 de outubro de 2003
Jornal
do Brasil
Taxação dos inativos é
mantida no Senado
Oposição negocia isenção para
vítimas de doenças graves
Doca de Oliveira
BRASÍLIA - Anunciado por líderes governistas, o acordo
selado em torno de uma emenda constitucional independente para rever aspectos
da reforma da Previdência foi rompido ontem pelo PFL. Desconfiados
de que a idéia não passe de uma manobra política
para facilitar a tramitação do projeto aprovado pela Câmara,
os partidos de oposição cobraram detalhes dos pontos que
serão incluídos na emenda antes de assumir o compromisso.
Querem ainda que as mudanças sejam feitas durante a votação
no plenário do Senado.
- Qualquer emenda paralela vai para as calendas. Começa a tramitar
no Senado, vai para a Câmara e só sai de lá quando
o governo Lula tiver acabado e a oposição estiver de novo
no governo - ilustrou o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC).
Diz que o Planalto está hesitando nas negociações
e mudou de posição depois que os 27 governadores vetaram
modificações na reforma da Previdência. O senador
catarinense chamou a atenção para o que apontou como sinal
de retrocesso nos entendimentos travados nos últimos dias e descartou
a participação do PFL se não houver mudança
de atitude. A proposta alternativa terá de ser ratificada pela
Câmara e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ainda este ano para que as negociações tenham efeito.
- Vamos apresentar a emenda e aprová-la o mais rápido possível
- reagiu o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP),
garantindo maioria dos votos.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), informou,
por intermédio da assessoria, não ter conhecimento das negociações
no Senado. O líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP),
adiantou que trabalhará pela proposta se for para ajudar o governo.
Frisou, entretanto, que o ideal seria a aprovação da reforma
da Previdência sem modificações.
As mudanças na reforma da Previdência se tornaram uma queda-de-braço
entre líderes governistas e de oposição. Sem maioria
sólida para aprovar a emenda intacta, o governo abriu negociações
para contemplar algumas reivindicações da oposição.
Até ontem, estava certa a revisão das regras do subteto
do funcionalismo público e a isenção do recolhimento
de contribuição previdenciária para os servidores
inativos e pensionistas vítimas de doenças graves cujos
vencimentos alcancem até R$ 4.800.
Acordo de procedimentos fechado, a Comissão de Constituição
e Justiça avançou bastante para a conclusão da reforma
da Previdência. Ontem, os senadores apreciaram boa parte das 203
emendas apresentadas. Separadas por temas, as sugestões foram rejeitadas,
algumas com o apoio da oposição.
Foi rejeitado o aumento da idade para aposentadoria compulsória
de 70 anos para 75 anos. A bancada governista garantiu 14 votos para manter
a regra atual. Ponto mais polêmico e emblemático da reforma,
a taxação dos servidores inativos e pensionistas foi mantida
por 18 dos 23 votos, com apoio de setores da oposição.
- O governador da Bahia pediu que votasse desta maneira - justificou
o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ao proclamar o voto
favorável à proposta.
Acordo esfria os ânimos
BRASÍLIA - Foi morna a segunda etapa de votação da
reforma da Previdência pela Comissão de Constituição
e Justiça do Senado. O longo martírio da semana passada,
com mais de 16 horas de debate, esvaziou o plenário da comissão
que, ontem, recebeu poucos convidados. Não houve vaias nem manifestações
e o forte aparato de segurança, mobilizado pelo Senado, não
teve tumulto para controlar.
O acordo entre governo e oposição esfriou os ânimos
dos senadores, cuja moderação deixou para trás o
confronto político da primeira votação. Marcada para
as 10 horas da manhã, a sessão da CCJ foi aberta com uma
hora de atraso e suspensa na hora do almoço. E teve quórum
alto o dia todo, com a presença de mais de 20 senadores, entre
governistas e oposição.
Foi um dia sem protagonistas, sem discussões e com poucos desaforos.
Adversária declarada da reforma da Previdência, a senadora
Heloísa Helena (PT-AL), acompanhou apenas a primeira etapa das
votações, no período da manhã. Afastada da
bancada do partido, pediu para ser informada dos acordos entre governo
e oposição no dia anterior.
- Estou no movimento dos sem-líderes e gostaria que Sua Excelência
me informasse - recorreu ao presidente da comissão, Edison Lobão
(PFL-MA).
- Passo a palavra ao líder do governo Aloizio Mercadante - afirmou
Lobão, provocando risos.
Responsabilizado pela longa sessão de dias atrás, o presidente
da CCJ estreou ontem uma condução mais rigorosa dos trabalhos.
Fixou limite de tempo para que os senadores se manifestassem e deixou
de acatar diversos pedidos de palavra ao longo da sessão. Sempre
educado, comemorou o acordo de procedimentos e se defendeu das acusações
de falta de controle da sessão passada. Declarou-se um presidente
democrático e levou um pito.
- Que tenha sido a reunião mais longa do Senado, acredito, mas
a mais democrática, de jeito nenhum - rebateu o senador Almeida
Lima (PDT-SE), que teve a palavra cassada na primeira votação.
A sessão da CCJ foi suspensa no início da noite. Passava
das 19h quando o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP). cumprimentou o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC),
que fazia aniversário ontem. O petista sugeriu que a sessão
fosse encerrada às 20h, para que o catarinense comemorasse a data.
A sessão foi encerrada pontualmente.

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