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Sexta-feira, 03 de outubro de 2003
Jornal
do Brasil
Falta de Provas
Auditor é libertado pela Justiça
Waleska Borges
''Fui chamado de ladrão e safado pelo povo sem ter qualquer tipo
de relação com o crime, formação de quadrilha
e falsidade ideológica. Isso não é brincadeira'',
desabafou, emocionado, o auditor fiscal Fernando José da Rocha
Velho, 40 anos. Preso entre os suspeitos de participação
no esquema de fraudes na Receita Federal e no INSS, ele foi libertado
na madrugada de ontem por falta de provas. Funcionário público
há 19 anos, o auditor contou que vive como um cidadão de
classe média. Mora em Niterói, tem um Fiat Brava 2001, que,
segundo ele, ainda não acabou de pagar.
Abalado, o auditor, que nos últimos seis anos trabalha como chefe
da Divisão de Controle e Acompanhamento Tributário, disse
que viveu 26 horas de terror na carceragem do Ponto Zero, em Benfica.
Ele afirma que foi preso sem saber do que era acusado. Casado com a também
funcionária da Receita Patrícia Affonso, Fernando, momentos
antes da prisão, voltava do médico com a mulher e o filho
de 10 meses. Ele conta que, por vontade própria, se apresentou
à Polícia Federal. Na tarde de ontem, quando recebia uma
homenagem de quase 100 colegas de trabalho, o auditor criticou o processo
da investigação.
- As investigações e auditorias precisam ser feitas, porém,
com um rito mais cuidadoso do que se passou comigo - disse o auditor,
acrescentado que a Receita Federal saiu prejudicada com o procedimento.
A apresentação fez com que colegas o aplaudissem.
A pedido do corregedor-geral da Receita Federal, Moacyr Leão,
Fernando foi libertado por ordem do juiz da 3ª Vara Criminal Federal,
Lafredo Lisboa. O advogado do auditor, Carlos Emmanuel Cardoso Oliveira,
considerou abuso de autoridade e imprudência a prisão de
Fernando. Segundo ele, ainda não está descartada a hipótese
de indenização por danos morais contra a União.
- No acesso que tivemos a partes do processo, Fernado é citado
apenas numa lista de todos funcionários que trabalham na Receita
Federal a pedido da Justiça - informou.
Considerado pelos amigos uma pessoa dedicada, Fernando passou a noite
de domingo - um dia antes da prisão - adiantando o trabalho em
casa. Mesmo depois de preso, segundo o advogado, o auditor se mostrou
preocupado e pediu para que o relatório fosse encaminhado à
Receita. Disposto a abrir mão de seus sigilos fiscal, bancário
e telefônico, o auditor disse que trabalha ''honestamente à
espera do reconhecimento profissional''.
- Nunca imaginei estar numa delegacia, nem como acusador e nem como réu.
Ficava com ponto de interrogação que ia se multiplicando,
tentava descobrir o que fazia ali e não chega a uma conclusão
- lembrou, enquanto segurava às lágrimas.
Para Patrícia, esposa do auditor, ele saiu ''engrandecido e de
alma lavada'' do episódio.

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