Terça-feira, 07 de outubro de 2003

Jornal do Brasil

REFORMA TRIBUTÁRIA

Senado e Câmara tentam chegar a consenso
Tática do governo é aproximar parlamentares, para evitar novos atrasos


Hugo Marques

BRASÍLIA - Senado e Câmara tentam aparar as arestas em torno da reforma tributária. Em uma longa reunião, ontem, o relator da reforma no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), explicou as mudanças no texto aprovado por deputados ao relator da menda na Câmara, Virgílio Guimarães (PT-MG). O encontrou, no gabinete do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), desanuviou o ambiente. Se Virgílio não concordou com todas as alterações, pelo menos defendeu algumas. Como o texto, se alterado pelo Senado, precisará retornar à Câmara, os governistas resolveram iniciar desde já a aproximação com os deputados para evitar novos atrasos na aprovação da proposta e permitir que o governo ponha logo em vigor as novas regras.
O deputado Virgílio Guimarães considerou "errado" acabar com a guerra fiscal por lei complementar. Defendeu a alternativa apresentada pela Câmara que impõe prazos e limites sobre o assunto no texto constitucional.

O relator da emenda na Câmara afirmou ser necessário dar um basta ao estoque de incentivos fiscais concedidos ao longo das últimas três décadas, calculado em R$ 36 bilhões. Virgílio considerou importante definir uma "data de corte" dos incentivos fiscais concedidos nos últimos meses por alguns Estados. O deputado mostrou-se surpreso pelo fato de o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ter concorda com a idéia de cobrar o IPI apenas dos setores de combustíveis, cigarros e bebidas – informação confirmada pelos senadores. Virgílio disse ter apresentado tal proposta ao Ministério da Fazenda e recebido sinal negativo.

– Na época, o ministério me desencorajou sobre o imposto seletivo. Achava que era muita coisa. Eu considero correto e viável – afirmou o deputado. O senador Romero Jucá acredita ter conquistado o apoio do relator da reforma na Câmara para as mudanças a serem promovidas pelo Senado. – O Senado está afinado com a Câmara. – afirmou Jucá, após a reunião com Virgílio.

O senador Aloizio Mercadante destacou a extensa negociação em torno do texto da reforma no Senado, para evitar atrasos no cronograma de votações. A proposta do Senado, disse Mercadante, tem sido informada ao governo federal a cada mudança.

Presidente da Fiesp elogia proposta


BRASÍLIA - Um dos maiores críticos do texto da reforma tributária aprovada na Câmara, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, elogiou ontem a proposta costurada pelo Senado.
- Ela permite, sim, um avanço. Nos sentimos mais confortáveis agora, na discussão. Vejo tempos melhores pela frente nessa matéria - disse Piva, após reunião com senadores no gabinete do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

O relator da reforma no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), participou do encontro e explicou as mudanças ao presidente da Fiesp. Piva elogiou a criação de um imposto seletivo sobre combustíveis, cigarros e bebidas. O IPI incidirá sobre estes três itens. Outros 20 mil produtos terão incidência somente do ICMS.

Piva acha que Estados como São Paulo irão ganhar muito com o fim da guerra fiscal. Sugere que os dispositivos para acabar com esse tipo de competição sejam incluídos na emenda constitucional, e não em lei complementar.

- A linha geral me parece bastante adequada. Volta a criar um equilíbrio entre os entes governamentais e a produção - diz Piva.

A Fiesp vai acompanhar todo o andamento da votação da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Piva diz que a proposta do Senado pode ajudar a gerar empregos, mas afirma ser necessário garantir vários pontos, como o do dispositivo que prevê redução da carga tributária caso o governo federal consiga ajustar as contas.

- Claro que não podemos deixar de considerar que o diabo mora nos detalhes - brincou.