sexta-feira, 04 de julho de 2003

O DIA

CUT abre mão dos inativos
Central cede às pressões do Governo e desiste de discutir taxação de servidores aposentados
João Paulo Cunha: reforma poderá contemplar o funcionalismo

      BRASÍLIA - A CUT (Central Única dos Trabalhadores) e líderes dos partidos na Câmara dos Deputados fecharam acordo retirando oito dos 11 pontos escolhidos pela entidade para a discussão de possíveis mudanças no âmbito da Reforma da Previdência. Entre eles, a CUT concordou em suprimir o debate sobre a taxação dos servidores inativos, principal ponto combatido pelo funcionalismo. Com isso, apenas três itens foram mantidos: cálculo de aposentadorias e pensões, regras para idade mínima e aposentadorias especiais.

      O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), admitiu que o texto poderá ser alterado para contemplar reivindicações dos servidores. Cunha disse que devem ser discutidas as regras de transição para os atuais e para os novos servidores inativos.

      Outra mudança que poderá ocorrer no texto enviado ao Congresso pelo Governo é no dispositivo que estabelece o cálculo da aposentadoria do servidor pela média das suas contribuições: “Muita gente tem discutido uma nova fórmula para calcular o benefício que cada inativo deve receber”. Cunha informou que também há negociações para manter as atuais regras para a aposentadoria dos professores.

      Os governadores de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), e do Piauí, Wellington Dias (PT), garantiram que o acordo dos chefes de Executivo dos estados para apoiar a reforma não incluiu a taxação de pensões dos beneficiários de servidores. “Não há na proposta dos governadores qualquer propósito de taxação dos pensionistas”, garantiu o governador petista.

      Lessa foi ainda mais enfático: “Eu não sabia disso e não concordo, pois essa taxação não ficou explícita no encontro dos governadores, até porque, em termos de matemática, não existe resposta para essa medida”. A proposta de reforma enviada pelo Governo estabelece a contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões.

      Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Sepúlveda Pertence disse que a proposta discutida na Câmara de manter a aposentadoria integral e aumentar o tempo de serviço e a idade mínima para a aposentadoria poderá ser mais bem aceita no Judiciário, que tem reagido à idéia do Executivo de estabelecer regime de aposentadorias idênticos para todos os trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público, acabando com privilégios de magistrados.

Coluna do Servidor

Abono incorporado

O Projeto de Lei 10.689, que foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e regulamentou a concessão do abono de R$ 59,87, garante que o valor será reajustado anualmente. Assim, sempre que houver a revisão anual dos salários do funcionalismo, essa vantagem também terá que aumentar. A intenção da equipe de Lula é que o abono seja incorporado ao salário. Para isso, o Governo federal precisa de dinheiro. Fixada ao vencimento-base, a vantagem terá impacto maior no contracheque, porque sobre ela passarão a incidir anuênios e outros adicionais pagos de acordo com o percentual dos salários.

Apesar de publicado no Diário Oficial da União e com a folha suplementar pronta, o reajuste dos servidores federais ainda vai demorar a chegar ao bolso do funcionalismo – a novela pode se estender até o dia 17. Segundo informações do setor de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, o Siape (sistema integrado de administração do RH) precisa de pelo menos 10 dias úteis para liberar toda a folha salarial.

O aumento de 1% devido desde janeiro, e o abono de R$ 59,87, atrasado há dois meses, serão pagos a 1,2 milhão de servidores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A notícia do novo atraso apanhou de surpresa os próprios funcionários do setor de Recursos Humanos, que, à noite, chegaram a se reunir para tentar encontrar uma forma de agilizar o pagamento. Não houve comunicado oficial. Inicialmente, o Governo pretendia depositar os valores até terça-feira.

Bancos prontos para os depósitos
Os bancos oficiais do Governo federal estão com tudo pronto para liberar a folha suplementar do funcionalismo. Apesar de considerar longo o prazo de 10 dias úteis para o pagamento, dirigentes das instituições financeiras preferiram não se pronunciar sobre o novo adiamento. Segundo os responsáveis pela compensação do dinheiro, cabe apenas ao Ministério do Planejamento o anúncio dos depósitos. Aos bancos, resta esperar a liberação pela União.


Recuperação será difícil
A servidora Maria do Socorro de Sena, 53 anos, ficou decepcionada com mais esse atraso: “Ficamos oito anos sem reajuste. Agora, além do aumento ser pequeno, ainda demora”. Maria acha que há muito a ser feito. “Mesmo se cumprido tudo o que foi prometido, ainda será pouco para cobrir as nossas perdas salariais”, protestou.


Sem informação
      Ao consultar os contracheques na Intranet, os funcionários públicos federais não conseguem informações precisas. O Governo anunciou que a folha suplementar está pronta. Sendo assim, já deveria estar disponível para consulta no Siapenet. Sem os contracheques on-line, os servidores são obrigados a fazer contas para saber quanto têm a receber de atrasados.


Contas
      Um servidor que ganha líquido R$ 1 mil, excluídas as gratificações variáveis, tem a receber R$ 60. O valor é equivalente aos seis meses de reajuste de 1% atrasado – aumento de R$ 10 por mês. Além disso, todo o funcionalismo, sem importar cargo e ministério, ganhará R$ 119,74, referente a dois meses dos R$ 59,87.