segunda-feira, 14 de julho de 2003

O DIA

Recuo à reforma original
Lula defende proposta do Governo para Previdência e redução dos juros durante visita oficial à Inglaterra

LONDRES. Em seu primeiro dia de visita oficial a Londres, onde participou da Conferência da Governança Progressista, novo nome do movimento da Terceira Via, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um recado à política interna brasileira e aos países ricos. Para o Brasil, defendeu o projeto original da Reforma da Previdência e a redução da taxa de juros. Sobre a política mundial, criticou o embargo dos Estados Unidos a Cuba e cobrou ajuda dos governos ricos às nações pobres.

Quanto às propostas para a Reforma da Previdência, Lula lembrou que o projeto foi acordado entre o Governo e os 27 governadores. “Se mudarem a proposta do Governo para a Previdência, a reforma fica sem sentido”, acrescentou.


Ao comentar os juros, Lula se mostrou favorável à queda da taxa. “Não corremos mais o risco de a inflação chegar a dois dígitos, por isso acho que a taxa de juros vai cair sistematicamente”, defendeu. Lula aproveitou também para criticar bancos, que cobram taxas que “não são aceitáveis do ponto de vista lógico”.


Lula cobra ajuda de países ricos a nações pobres


Em reunião com o primeiro-ministro inglês Tony Blair e o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, Lula afirmou que era necessário convencer Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Itália de que “precisam assumir a responsabilidade de ajudar nas políticas sociais dos países mais pobres”. Lula e Mbeki atacaram as barreiras agrícolas dos países ricos, que aumentam a pobreza. O brasileiro citou a França como principal país a dar esse tipo de subsídio.


Blair concordou com a mudança da política agrícola, mas que precisaria do apoio dos progressistas da União Européia. O primeiro-ministro apoiou a unidade mundial na criação de um fundo de desenvolvimento para países pobres. Lula também tratou com Blair apoio para ocupar cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Recados para o Brasil e o mundo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevistas em Londres, a principal delas à BBC Brasil. A seguir, suas principais declarações:

REFORMA DA PREVIDÊNCIA: “Qualquer proposta de mudança no projeto original enviado pelo Governo terá que ter a aquiescência do Governo federal, dos 27 governadores e do Conselho de Desenvolvimento Social. A proposta não é do presidente da República, é, na verdade, do Governo federal e dos 27 governadores de estados. Nós queremos manter a credibilidade e a confiabilidade que conquistamos junto aos governadores e eles terão que dizer se concordam com a mudança. Se mudarem a proposta do Governo para a Previdência, a reforma fica sem sentido. É por isso que queremos preservar o princípio fundamental da proposta original do Governo”.

TAXA DE JUROS: “Agora começou uma escalada de redução das taxas de juros. Nós estamos convencidos de que a inflação já foi debelada. Não corremos mais o risco de a inflação chegar a dois dígitos, por isso acho que a taxa de juros vai cair sistematicamente”.

EMBARGO A CUBA: “Da mesma forma que os franceses não acabam com os subsídios agrícolas por razões políticas, os Estados Unidos não põem fim ao bloqueio de Cuba”.

AJUDA A PAÍSES POBRES: “Proponho que os países ricos criem uma instituição multilateral para o financiamento específico da infra-estrutura dos países em desenvolvimento. Os países ricos precisam assumir responsabilidade de ajudar nas políticas sociais dos países mais pobres”.